
Adaptação escolar
Todo começo de ano letivo é bastante comum ver pais e crianças chorando na porta da escola; confira o que dizem especialistas para atravessar esta fase de forma mais leve
Principalmente para pais de ‘primeira viagem’, — mas também para os de muitas viagens —, o período de adaptação dos filhos ao ambiente escolar, seja ele novo ou já velho conhecido, é sempre um momento delicado, que pede muito equilíbrio das emoções, afinal, é papel dos pais “segurar as pontas” e passar segurança para os filhos em todas as situações. A escola, claro, pode e deve ajudar, e costuma cumprir sua função com destreza, pois já está habituada às mais distintas experiências. Ainda assim, passar por esse período com mais leveza depende muito de como os próprios pais lidam com as dificuldades que surgem.
Segundo especialistas, o processo de adaptação é diferente para cada criança, porque cada uma é única em seus aspectos cognitivos, sociais e emocionais, e isso precisa ser compreendido, respeitado e acolhido por todos.
De modo geral, quanto menor a criança, mais desafiadora pode ser a adaptação, porque ela ainda está começando a estabelecer as relações sociais. Ainda assim, também é preciso considerar as diferenças pessoais. Algumas crianças podem dar tchauzinho para os pais e já se envolverem nas brincadeiras e atividades desde o primeiro dia. Outras podem precisar de um tempo maior para se acostumarem com o novo ambiente e a ausência dos familiares, principalmente da mãe, como explica a diretora do Colégio Prof. Lacordaire Sant’Anna, Christinne Sant’Anna Magalhães. “A dificuldade maior é controlar a ansiedade e a expectativa dos pais. Por isso, iniciamos as aulas da Educação Infantil alguns dias antes e com horário reduzido. Assim, tanto as crianças como as mamães, os papais ou os avós que acompanham as crianças vão se adaptando e adquirindo confiança na equipe pedagógica. Ter esse período de adaptação antecipado ajuda muito. As professoras e a coordenação conseguem dar mais atenção ao processo, criando estratégias customizadas. Enquanto algumas crianças se tranquilizam vendo os coelhos ou as galinhas, outras preferem se divertir no parque e outras se encantam com uma boa história de faz de conta”, descreve Christinne, considerando, ainda, que independentemente da metodologia, quanto mais lúdica e humanista for a proposta, mais acolhedora e bem-sucedida será a adaptação da criança.
Respeitar o tempo da criança
Ansiedade e medo são os principais fatores desencadeadores de problemas na adaptação escolar e segundo a psicóloga Priscila Morelli Manfré, especialista em Neuropsicologia, independente da fase da criança, é importante compreender as inseguranças relacionadas ao novo, comuns de serem experimentadas mesmo por adultos diante de situações desconhecidas. “Mudança de rotina, professores novos, pessoas diferentes, amigos novos, matérias novas, há todo um universo novo com que a criança ou adolescente precisa lidar. Os pais devem entender esse momento e essas inseguranças que podem, muitas vezes, ser expressadas através do choro, que é considerado normal na adaptação. Se pararmos para pensar, está havendo uma separação entre a criança e os pais ou cuidadores com quem a criança tem um vínculo de confiança mais forte já estabelecido. A escola representa uma ruptura desse vínculo e as crianças precisam de tempo para compreender que vão ficar ali por um período e depois os pais vão buscá-los novamente. É uma fase de transição. Neste momento, paciência, compreensão, empatia e confiança são essenciais, pois quanto mais se respeitar essa fase, mais fácil será a criança gostar do ambiente e interagir melhor com outras crianças”, enfatiza Priscila.
Uma adaptação ruim, segundo a diretora pedagógica do Colégio Auxiliadora, Luciana Tomaz Marques Orsini, pode até impactar na relação da criança com a escola e refletir no seu desenvolvimento acadêmico. “Essa é uma fase muito importante, principalmente para crianças que ingressam no ambiente escolar pela primeira vez. Na nossa escola, esse processo é realizado de forma tranquila, sem muitas dificuldades. Quando há, costumam ser mais comuns relacionadas a crianças de menor idade, entre um ano e meio e dois anos, e são demonstradas por meio do choro ou do apego ao familiar no momento da chegada à escola”, afirma Luciana.
Baseando-se na abordagem sócio interacionista, a escola propõe, entre as soluções para uma adaptação mais tranquila, oferecer um ambiente seguro e acolhedor. “Uma proposta é que, no início desse processo, a criança ainda tenha um vínculo com alguém que seja seu ‘porto seguro’. Por exemplo, a equipe pedagógica pode conversar sobre essa pessoa e até mesmo permitir que a criança entre em contato para ouvir a voz do familiar e, assim, sentir-se mais calma e tranquila”, explica Luciana. Após a adaptação ao espaço e à rotina, que geralmente ocorre logo no início dos anos escolares, as adversidades mais comuns são referentes à adaptação à uma nova série, à nova professora e ao novo conteúdo. Em casos de mudança de escola, a criança ou o adolescente também pode enfrentar dificuldades de adaptação ao novo método pedagógico.
Ter empatia com a adolescência
Como explica Gustavo Bueno, historiador e coordenador do Colégio FAAP Ribeirão Preto, a entrada dos alunos para o Ensino Médio coincide com um período de grandes transformações pelas quais os jovens passam, sejam físicas, hormonais ou comportamentais, bem como com importantes determinações quanto à decisão por suas carreiras. Tudo isso em uma fase onde ainda não há a maturidade suficientemente construída para que as escolhas sejam as mais assertivas. “Neste momento, a chegada à escola traz inseguranças e ansiedade. Esta é uma etapa à qual nossa escola possui um aparato amplo de acolhimento e de orientação para que esta fase tão importante seja conduzida com grande êxito. A adolescência é o período no qual as competências técnicas e comportamentais são construídas e, junto, temos as etapas de amadurecimento e autonomia. Erros cometidos pela escola durante o Ensino Médio podem comprometer a vida adulta. Por isso, a escola precisa ser acolhedora, humana, organizada e possuir um programa acadêmico robusto para que os adolescentes tenham protagonismo pleno para desempenhar sem sobressaltos ou déficits seu futuro. Modelos ultrapassados ou disfarçados de ‘inovadores’ representam um perigo à formação de futuros adultos. A tecnologia deve ser utilizada para ressaltar o ‘humano’ e não para substitui-lo”, avalia Gustavo.
O mais importante para a adaptação escolar, nesta fase, é que o método pedagógico permita o protagonismo do estudante, que está no auge da sua busca por autoafirmação, e que os pais sejam mais atentos e empáticos com esta fase vivenciada pelos filhos, recordando deles mesmos neste período de suas vidas. A principal dica da psicóloga Priscila, neste momento, é buscar o diálogo e a compreensão dos sentimentos dos filhos, é perguntar a eles sobre amigos, professores, matérias, aproximar-se mais do seu universo para que eles sintam mais segurança ao atravessar a adolescência.
Coração apertado
Marcela Barreto Giorgiani e Matheus Giogiani não tiveram muitos problemas com a adaptação de Cecília, de três anos, que, na verdade, está amando ir para a escola. Vai dormir cedo, toda animada, e pede para voltar todos os dias na hora de ir embora. “A adaptação foi mais difícil para a mãe, que ficou com o coração apertado, ansiosa, curtindo uma sensação de vazio por não ter mais a filha debaixo da asa”, brinca Marcela.
Estratégias
A adaptação de Miguel, de seis anos, ao 1º ano do Ensino Fundamental foi mais difícil para Mônica Dolmen Guandolin. Ele não queria entrar, segurou sua roupa, chorou e pediu para ir embora. A saída foi combinar com a família de um amigo o mesmo horário de chegada, para eles entrarem juntos nos primeiros dias. “E deu super certo, a semana inteira um esperava o outro para entrar”, conta Mônica. Em casa, ela também criou um sistema de avaliação. Toda vez que Miguel se comporta bem ganha uma estrela, caso contrário um X, e se tudo correr bem, no final do mês, escolhe um prêmio. Ele já entendeu e adianta sempre: ‘Mãe, já pode marcar a estrela que vou entrar sem chorar!’”, conta.
DICAS ÚTEIS
Para que a fase de adaptação seja natural e tranquila:
• Mostre a escola para a criança e converse com ela sobre a mudança de rotina,
antes do início das aulas;
• Mostre os pontos positivos da mudança, como fazer novos amigos e aprender coisas novas;
• Não demonstre insegurança;
• Não use frases como “quase morri de saudade”;
• Entenda o tempo da criança e dialogue mais com os adolescentes;
• Troque experiências com outros pais;
• Participe das atividades familiares que a escola propõe;
• Seja próximo a professores e coordenadores.