Ágora cibernética
Escrever e opinar sobre diversos assuntos, na era digital, ficou fácil, através dos blogs, ferramentas úteis para debates e expressão de ideias
Foi com a chegada da internet que as pessoas deixaram de lado o silêncio diante da mídia impressa e televisiva, e passaram a expressar ideias e opiniões sobre os mais diferenciados assuntos. Quem utiliza a internet, sabe muito bem o grande espaço que a rede oferece para quem quer dizer o que pensa. Exemplo disso está nos blog, um verdadeiro ‘utensílio de opinião’, que sofreu um “boom”, passando a ser utilizado em larga escala hoje em dia.
A página online do empresário André Rodini, 44 anos, ilustra esse movimento. O endereço eletrônico www.andrerodini.blogspot.com aborda questões da administração pública de Ribeirão Preto e, mais recentemente, de meio ambiente. “Por bastante tempo meu blog teve a finalidade de tornar pública minha opinião. Muitas publicações nele serviram de matéria jornalística para canais de TV”, explica Rodini, afirmando que em seu blog as informações são apresentadas de forma diferente para o cidadão.
Segundo o empresário, expressar a opinião é também uma forma de fazer política, de deixar registrado o pensamento e de fazer denúncia. “O que faço é mostrar a realidade, através de fotos e filmes que falam por si, e de textos que complementam minha minha opinião”, afirma.
Para o estudante de Jornalismo Brunno Vogah, 24, a função do blog vai além da opinião, podendo ser definida como a nova expressão da mídia alternativa. “São pessoas que, em sua grande maioria, mantém esses espaços para discussão do nosso país. Creio que o blog seja a nova ágora”, afirma. Na mesma linha de denúncia, seu blog (www.blogdobrunno.com) propõe discutir temas que estão em evidência na imprensa, porém, com um viés que foge ao discurso único da mídia, contando também a abordagem de assuntos ‘esquecidos’ pelo jornalismo. “O leitor está cansado de ver os mesmos temas, os mesmos ‘formadores de opinião’, as mesmas opiniões”, rebate Vogah. “E não é só meu blog que vem nesse movimento, nadando contra a maré, tem vários blogs progressistas, que fazem muito bem o papel de contestação”, pontua.
Além de ferramentas de opinião, denúncia, crítica e contestação, os blogs também são um caminho alternativo, tomado pelos internautas para expressar ideias diante da revolução digital e dividir experiências sobre assuntos específicos. É o caso do blog do jornalista Matheus Farizatto, 26 anos, criado em 2007, que entretém e questiona situações simples em que as pessoas se envolvem por seguir a postura da maioria. "No www.virandojornalista.blogspot.com não somente exponho minha opinião como também recebo a dos meus leitores”, avalia.
E as criações não param por aí. A necessidade de espaço para opinião e expressão está fazendo com que os blogs se tornem uma espécie de ágora cibernética. Quem sentiu essa necessidade foi o publicitário Gabriel Oliveira, 23 anos. O blog Além do Perfil (www.alemdoperfil.blogspot.com.br) surgiu no mês passado com foco na internet, principalmente Social Media. Oliveira, que já pensava na criação de um blog para informar e se expressar, afirma que sempre procura atualizar a página com novos assuntos, dicas de etiqueta na web e curiosidades. “A cada matéria que publico, frequentemente dou o meu ‘pitaco’ e peço também a opinião das pessoas através dos comentários”, diz. Para o publicitário, a interação que os blogs proporcionam se assemelha a de uma mídia social, onde há o bate-papo direto com o leitor, sem muita formalidade.
O psicanalista e também blogueiro Luis Fernando Scozzafave de Souza-Pinto, autor dos blogs Sinapse Oculta (www.sinapseoculta.wordpress.com) e Ciência e Saúde (www.revide.com.br/blog/luis-fernando-s-de-souza-pinto), gosta de exercitar a escrita para esclarecer alguns pensamentos que, para ele, ainda não estão claros. “Acho que a escrita tem esse efeito organizador da experiência do sujeito”. Para ele, compartilhar opiniões em uma página online tem se mostrado algo interessante ao longo dos cinco anos de blog. “Recebo muitas dúvidas e comentários de gente do Brasil todo e tenho um prazer enorme de responder cada um, em longas linhas quando necessário”, afirma.
Sociedade da era digital
Na era do jornal impresso, do rádio e da televisão, a informação ia ao encontro das pessoas. Hoje, ao contrário, as pessoas vão até a informação. Além disso, selecionam o que ler, quando ler e como ler. Na era digital, as pessoas podem se informar de acordo com seu viés ideológico, a partir de sites de notícias, portais e blogs.
Segundo o professor universitário e sociólogo Wlaumir Souza, a maioria das pessoas recebe a informação de modo passivo, isto é, não é capaz de relativizar a informação e colocá-la em contexto mais amplo de análise. “A era digital possibilitou a manifestação das subjetividades face à informação, todavia, em boa medida estas subjetividades podem não passar de experiências cotidianas sem crítica”, avalia.
Neste contexto, os blogs aparecem como páginas online que atingem um público informado, que busca interpretações alternativas ao padrão imposto de pensamento cotidiano, ganhando valores pela contribuição para o pensamento que se propõe crítico e livre. Em contrapartida, segundo explica Souza, outros blogs buscam evidenciar o pensamento único, ou a ‘demonização’ do diferente. “Tudo é muito novo e ainda não percebemos o quanto a sociedade se transforma por este meio”, enfatiza o sociólogo, afirmando ser preciso interpretar a informação – o que não é mais privilégio dos editores poderosos da grande mídia. “Isto modificou a sociedade na possibilidade de saber não apenas o que é a informação, mas também como se produz a desinformação em massa, a domicílio, por meio virtual”, caracteriza.
Revide Online
Texto: Fernando Belezine (colaborador)
Fotos: Arquivo Revide e arquivo pessoal