
Aprendizado não tem idade
O projeto "Inclusão Digital de Idosos" tem a finalidade de instrumentalizar pessoas mais velhas para o uso de tecnologias
Quem nunca ouviu uma pessoa com mais idade dizer “no meu tempo não tinha essas coisas” ou “não sei usar essas modernidades”? Mas esse cenário está mudando. A Divisão de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) criou o projeto “Inclusão Digital de Idosos”, um programa com a finalidade de instrumentalizar pessoas mais velhas para o uso das tecnologias do dia a dia como aparelhos celulares, controles remotos, máquinas fotográficas, computador e internet entre outros dispositivos.
O projeto tem como diferencial em relação a outros programas voltados à inclusão digital o treino para uso de equipamentos diversos do cotidiano e não somente o uso do computador e da internet. “Estes equipamentos fazem parte do dia-a-dia de qualquer pessoa e, frequentemente, alguns idosos confrontam a necessidade de ter que lidar com caixas eletrônicos, celulares, controle remoto ou outros aparelhos com a dificuldade de seu manuseio”, explica a doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano, Carla da Silva Santana.
A ideia surgiu de uma necessidade constatada: a dependência de idosos para lidar com aparelhos eletroeletrônicos. “Recebíamos frequentemente pedidos de idosos para aprender a utilizar determinados equipamentos. Eles se queixavam do temor em utilizar o caixa eletrônico dos bancos, principalmente porque alguém poderia reclamar que estavam demorando muito ou porque os familiares, mais jovens, não tinham paciência para ensiná-los”, conta a psicóloga.
Desenvolvido, pela primeira vez, no Espaço de Cultura e Extensão Universitária FMRP-USP – ECEU, o programa “Inclusão Digital de Idosos” recebe o apoio de uma bolsa Pró-reitoria de Cultura e Extensão da USP para um aluno, além da participação de voluntários do curso de Terapia Ocupacional e da Informática Biomédica. “Como o projeto ainda está se estruturando, estamos buscando recursos de algumas empresas, principalmente na disponibilização de alguns equipamentos”, explica Carla Santana.
O acesso da população idosa na era digital possibilita a manutenção de seus papéis sociais e ocupacionais, o exercício de cidadania, da autonomia e da independência, o acesso a uma sociedade dinâmica e complexa, mantendo a mente ativa. Além de trazer benefícios para qualquer faixa etária, a inclusão digital também melhora a autoestima e o senso da autoeficácia, pois o idoso pode se sentir competente para estas atividades. “É preciso melhorar a nossa percepção sobre o sujeito idoso, tendo em conta que estes podem ser cognitivamente ativos e que a educação é um processo contínuo que vai desde a infância até a velhice”, conclui a especialista.
Para Lucila Souza da Silva, 67 anos, a experiência está sendo muito interessante. “No começo é um pouco difícil, pois nunca me atrevi a mexer em celular e nem em computador, tenho que ficar bem focada nas explicações. Mas agora está ótimo e espero progredir com as aulas”, conta.
Outra aluna, Maria Zuleika Zanetti Barreira, de 75 anos, diz que é preciso correr atrás do que se quer. “As pessoas hoje já nascem sabendo. No meu tempo não tinha nada disso, por isso, temos que correr atrás. Mas quando se quer, consegue”, enfatiza.
Com o avanço tecnológico é fundamental conhecer e manusear equipamentos computadorizados e pessoas como Lucila e Maria Zuleika — e tantas outras que participam do programa “Inclusão Digital” — encontram no projeto uma forma de aprendizagem dinâmica e divertida. “Todo mundo deveria entrar no curso porque aprendemos sim”, finaliza Maria Zuleika.
Revide On-line (colaborador Fernando Belezine)
Fotos: Carolina Alves