As possibilidades de ajudar

As possibilidades de ajudar

Seja com a doação de recursos ou de tempo para colaborar com alguma causa, atos de solidariedade que contribuem com entidades de Ribeirão Preto fazem a diferença para quem precisa

Texto: Cárila Covas


A pandemia do novo coronavírus promoveu mudanças significativas em todos os estilos de vida. Além do sistema de saúde sobrecarregado com hospitais lotados e o aumento do número de internações, a economia também sofreu grande impacto, ocasionando demissões em empresas de diversos setores e comprometendo a renda de famílias. 

A dura realidade de quem teve as necessidades ainda mais expostas durante esse período criou uma onda de solidariedade em todo o mundo. A ideia de dividir aquilo que se tem com quem precisa ganhou força em 2020. O compromisso com as gerações futuras e com conceitos de ajuda mútua entre a população foi um dos alicerces estabelecidos em Ribeirão Preto, também neste período.

Além das novas necessidades geradas pela pandemia, o Terceiro Setor, que são as organizações de iniciativa privada, sem fins lucrativos e que prestam serviços de caráter público (Organizações Não Governamentais) lutam dia a dia para se manter e tratar com responsabilidade todos os envolvidos. 

A primeira referência histórica de uma entidade do Terceiro Setor no Brasil data de 1.543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos, que até hoje presta apoio assistencial e hospitalar. Em Ribeirão Preto, diversas instituições também prestam auxílio nos serviços de saúde ou assistência social de forma ampla para contribuir nas lacunas deixadas pelo poder público. 

Essas organizações são constituídas por indivíduos da sociedade que se unem para fazer o bem em prol da sociedade, assim como o pedagogo Luiz Cláudio Luz da Conceição, 48 anos, conhecido como Cláudio Jacaré, também diretor do Sindicato dos Professores e Auxiliares de Administração Escolar de Ribeirão e Região (Sinpaae), presidente e diretor pedagógico da ONG Vida & Expressão e funcionário da área operacional do Colégio Ideal.

Cláudio compartilha a razão pela qual se aproximou das causas sociais. “Passei por diversas dificuldades financeiras e por falta de oportunidades. Isso recaía sobre meus ombros como uma cruz que pesava dia a dia, tentando mudar de vida e orando a Deus por dias melhores”, conta.

Com trabalho árduo e estudo com dificuldades, Cláudio Jacaré se formou em Pedagogia, a partir de seu sonho de transformar vidas além da dele. “Fundei uma ONG em 2011, que, em parceria com iniciativa privada e sociedade civil, busca transformar e ajudar muitas famílias, crianças, jovens e idosos com nossos trabalhos. Para podermos ser agentes transformadores, temos de transformar, primeiro, nós mesmos”, destaca. 

Para Cláudio, a mudança tem de ser realizada com a junção de diversas instituições. “Nesse processo, é necessário ter um projeto interdisciplinar para que as principais áreas de formação de uma sociedade se comuniquem entre si”, argumenta. 

FORÇA PARA SEGUIR

No final de 2016, depois de um ano de muita batalha, a mãe de Mônica Visses Garcia Bruneli, pedagoga por formação que atua como secretária, morreu vítima de câncer. A pedagoga conta que, durante essa fase, pode perceber a importância dos detalhes e dos pequenos gestos. “Os meses seguintes à perda foram muito difíceis. Tive muita dificuldade para encontrar atividades que me fizessem bem. Na época, minha filha estudava na USP e conheceu um dos projetos do Grupo de Apoio a Criança com Câncer (GACC). Eu me interessei e quis me informar melhor sobre o trabalho”, destaca. “Com o passar do tempo, fui me envolvendo com mais profundidade, conhecendo a fundo o trabalho desenvolvido na casa de apoio e tudo que podemos fazer para deixar uma situação tão difícil mais tolerável e humana. Hoje, sinto que não só ajudo a instituição, como ela também me ajuda a passar por momentos difíceis, a valorizar mais a vida e menos os problemas do dia a dia”, explica Mônica. 

Segundo ela, o primeiro passo para apoiar uma entidade é a identificação com o trabalho feito. “A participação efetiva é fundamental e existem inúmeras maneiras de fazer isso: por meio de trabalhos voluntários presenciais ou não, a ajuda por meio de doações, em campanhas e ações, e na divulgação da causa da instituição, de forma a ajudar mais pessoas a conhecerem o trabalho que elas desenvolvem. O trabalho voluntário é uma estrada de mão dupla”, destaca a pedagoga.

A EXPANSÃO DO BEM

“Os projetos sociais nasceram de ações que fazíamos individualmente, como pessoas, como uma forma de agradecer e retribuir a tudo que graças a Deus conquistamos. Depois, levamos para a empresa, porque vimos uma oportunidade de multiplicar essas ações sociais”, conta Vera Naves, vice-presidente da RTE Rodonaves. 

Vera também destaca a importância de que todas as pessoas colaborem com a mudança de cenários de muitas instituições que precisam de apoio. “Fazendo aquilo que podem, dentro das possibilidades, toda ajuda é importante — seja doação de recursos, de tempo, de conhecimento. Unindo forças, conseguimos auxiliar um número maior de pessoas e fazer a diferença na vida delas. Quando somos bons para os outros, somos melhores para nós mesmos”, afirma.

Para ela, o que motiva a cada dia é, principalmente, vivenciar exemplos de superação. “Estar em contato com as pessoas, aprender com elas. Fazer o bem ao próximo faz bem para você e faz bem a todos”, pontua. 

FUNCIONALIDADE

Juridicamente, as instituições que fazem parte do Terceiro Setor são constituídas como Associação, Fundação, Organizações Não Governamentais e Entidades Filantrópicas, que faz total diferença ao se tratar do assunto, mesmo que todos carreguem o significado mais expressivo: o apoio às causas sociais.

A associação, que se refere a um grupo de pessoas que se organizam para fins não econômicos, ou seja, que não objetiva distribuição de lucros entre os colaboradores, constituída através de um Estatuto Social, normalmente atua nas áreas de assistência social, ambiental, da saúde ou da educação. 

Uma entidade de direito privado, constituída através de bens ou direitos, de personalidade jurídica e voltada para fins filantrópicos representa o que se denomina fundação, que também financia diversas atividades do terceiro setor.

As Organizações Não Governamentais (ONGs) são aquelas sem fins lucrativos e que prezam por exercer atividades que auxiliam os governos a promover o bem-estar social à população e apoiam causas coletivas. Já as entidades filantrópicas são constituídas por pessoas jurídicas, sem fins lucrativos, voltadas para atividades de assistência social.

Para uma entidade se caracterizar como parte do Terceiro Setor é essencial que cumpra alguns requisitos: ser formalmente constituída, ter estrutura básica não-governamental, ter gestão própria, sem fins lucrativos e uso significativo de mão de obra voluntária.

CONTRIBUIÇÃO 

As entidades conseguem captar recursos por meio de doações advindas de eventos realizados junto à comunidade. Contudo, durante a pandemia, essa fonte de renda foi interrompida e outras formas de contribuição se sobressaíram, como as destinações do Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas, patrocínios, subvenções e de outros tipos de auxílio. 

De acordo com João Pedro de Deus, auditor fiscal da Receita Federal, aposentado e associado fundador do Observatório Social de Ribeirão Preto, a captação de recursos no município aumentou nos últimos dez anos, mas há um grande potencial desperdiçado. “Triplicamos o montante de destinação nos últimos anos, mas atingimos apenas 7% do potencial do município em 2019, que era de R$ 40 milhões. Com a pandemia e todos os problemas sociais causados por ela, as entidades assistenciais precisam mais do que nunca da destinação do Imposto de Renda”, pontua.

João Pedro de Deus, que atua voluntariamente nesta causa, afirma que os recursos destinados às entidades são deduzidos do total do Imposto de Renda a pagar ou aumentado no valor da restituição do contribuinte no momento da Declaração de Ajustes, em março e abril de 2021.

De acordo com o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Ribeirão Preto, Marcus Vinicius Berzoti Ribeiro, a destinação do Imposto de Renda para o conselho auxilia nos projetos das entidades cadastradas. “Hoje, temos cerca de 80 instituições. Essa destinação ajuda no desenvolvimento de programas que objetivam atendimento de crianças e adolescentes”, explica. “Infelizmente, o valor que nós recebemos é muito baixo — anualmente gira em torno de R$ 2,5 milhões a R$ 3 milhões, mas o potencial que a Receita Federal nos passa na cidade chega em quase R$ 40 milhões”, relata o presidente. 

Marcus também destaca a importância dessa ação. “Solicitamos aos munícipes e às empresas que destinem e acompanhem a utilização desses recursos pelas entidades. Que façam essa destinação, pois desta forma a atribuição fica na cidade para que as entidades, que são cadastradas, possam prosperar com os projetos”, conclui.

PARA AJUDAR

Para colaborar, a população pode atuar, de forma voluntária, nas ações desenvolvidas pelas instituições, efetuar doações diversas, especialmente alimentos, ou destinar o Imposto de Renda, por meio dos Conselhos Municipais do Idoso e da Criança e do Adolescente. 

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