Atendimento humanizado

Atendimento humanizado

Gestações de alto risco são objeto de trabalho do professor e pesquisador Dr. Geraldo Duarte

Há 30 anos, desde que concluiu a residência em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP-USP), Geraldo Duarte se dedica ao atendimento de pacientes com gestações de alto risco. Nas últimas três décadas, passou cinco temporadas fora do Brasil e viajou a diversos lugares para aprimoramento profissional, inclusive à África, onde entendeu e vivenciou a situação das gestantes com HIV.

Atualmente, é vice-diretor da FMRP e professor titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP, onde concluiu Mestrado, Doutorado e Livre-Docência. O especialista também desenvolve atividades de ensino (graduação, pós-graduação e extensão) e pesquisa no Ambulatório de Moléstias Infectocontagiosas em Ginecologia e Obstetrícia (AMIGO), no HC, que assiste a mulheres encaminhadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Até hoje fico ansioso para meus dias de atendimento ambulatorial. Por isso, não tenho consultório particular”, revela o professor, mineiro da cidade de Luz, graduado pela Universidade Federal de Uberlândia.

O ginecologista frisa que o AMIGO — que começou como ambulatório, mas se tornou um setor — possui forte atuação no ensino com foco na população carente. “O HC é o epicentro do Departamento Regional da Saúde (DRS) do SUS. Somos referência quaternária para uma macrorregião com mais de cinco milhões de habitantes”, declara.

Segundo Geraldo, a população tem muito medo das má-formações na gravidez. “É claro que devemos ter medo, mas a má-formação incide em um percentual muito baixo. A prematuridade é um dos problemas de maior frequência,  sendo a ‘irmã-gêmea’ das infecções. O leigo não sabe que a prematuridade está tão ligada às infecções na gestação”, explica.

O programa no AMIGO inclui a triagem da paciente e seu direcionamento ao tratamento ambulatorial, seguindo princípios de efetividade e de humanização. “Aqui a paciente se sente acolhida, esta é nossa meta”, afirma Geraldo. Entre as pacientes, principalmente na população portadora de HIV, o especialista relata que é muito importante desenvolver a filosofia de acolhimento e amizade, contando que a sociedade infelizmente ainda tem preconceitos com a doença. “Hoje, o HIV pode ser caracterizado como um mal democrático, por acometer indistintamente. Mas a doença é capitalista por infectar, na maioria dos casos, os pobres que, por terem as piores condições, têm menos acesso à informação. Exceto entre usuários de drogas, dificilmente se encontra uma pessoa com com alto poder aquisitivo infectada e gestante. Se a mãe tem o vírus, evita a gravidez ou planeja a gestação para o momento mais adequado, quando a carga viral estiver baixa”, expressa o professor.

O mesmo ocorre na transmissão vertical — toda infecção que passa da mãe para o filho durante a gestação, no momento do parto e na amamentação. “Quanto mais você investe financeiramente em medicação, atendimento diferenciado, apoio e controle de outras infecções, mais a transmissão vertical se aproxima de zero. Quando não há um atendimento adequado, a chance aumenta para 25%. No AMIGO, conseguimos estabelecer as transmissões de risco próximas de zero. Melhorou muito”, diz o especialista.

Atenção especial
O trabalho com gestantes infectadas por HIV começou em 1987. De acordo com o médico, o AMIGO é um dos serviços mais organizados do Brasil, investindo em treinamento de profissionais brasileiros e estrangeiros, além de acumular convites da Organização Mundial da Saúde (OMS) para trabalhos em comunidades que vivenciam situações de risco. “O HIV não causa má-formação. O medo é da própria infecção, pois falamos de uma doença sem cura. Se houver tratamento durante o pré-natal e adesão da paciente — que deve evitar drogas, alimentar-se bem e tomar as medicações corretamente —, há uma grande chance de não nascer uma criança infectada”, informa o professor, que acredita no SUS como a única saída da população brasileira para a saúde. “Sou fã número um do SUS. De bom, o sistema tem a hierarquização e a garantia de algum tipo de atendimento. Se fosse melhor gerido, seria ótimo. Em termos de modelo de saúde, não creio que haja outro substituto. É um sistema que disputa ombro a ombro com sistemas da França, da Inglaterra e do Canadá, em termos de conceito”, confia.

Pais em foco
O novo projeto no AMIGO se chama “Pré-natal do Parceiro”, iniciativa voltada aos pais. “Vejo que a mulher tem vários programas de saúde, mas o homem não. É uma questão de igualdade. Então uso a paternagem como pretexto para que o homem cuide de sua saúde, o que não é habitual. Através deste programa, o pai terá acesso a uma série de exames que evitam a infecção da mulher e, consequentemente, da criança e do próprio homem”, informa o professor Geraldo. No HC, o programa tem três anos e está em fase de implementação na Secretaria da Saúde.

Compartilhar: