Caminho das águas
Estudo para captação de água do Rio Pardo terá o custo de R$ 3,1 milhões e deverá ser executado em até nove meses

Caminho das águas

Projeto para captação de água do Rio Pardo pode ser uma alternativa para a queda nos níveis do aquífero Guarani; previsão é que obras comecem em 2027

Foi anunciado, na última semana, o primeiro passo para o projeto de captação da água do Rio Pardo, em Ribeirão Preto. O Projeto Pardo foi apresentado por técnicos da Saerp em um evento na Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP). A primeira etapa consiste na elaboração de um projeto e a realização de estudos de viabilidade. Essa fase terá o custo de R$ 3,1 milhões e deverá ser executada em até nove meses. Desse montante, R$ 2,9 milhões serão financiados via Caixa Econômica Federal, com contrapartida de R$ 189 mil da Prefeitura. A partir desses estudos, serão definidas as principais diretrizes do projeto executivo, bem como o valor global. A expectativa é que o projeto executivo seja estruturado entre 2024 e 2026, e as obras ocorram entre 2027 e 2030. 

 


Até essa data, Ribeirão Preto segue totalmente dependente do abastecimento via Aquífero Guarani, que já decaiu 120 metros nos últimos 70 anos. “A seguridade hídrica do abastecimento de Ribeirão, bem como o seu desenvolvimento, só será possível com o projeto do uso das águas do Rio Pardo, que, juntamente com o Aquífero Guarani, irá garantir a distribuição de água para novos empreendimentos e a toda a população da nossa cidade”, declarou o prefeito Duarte Nogueira (PSDB), que esteve presente no evento. O projeto é uma promessa antiga de campanha. A previsão inicial era de que a cidade seria abastecida pelo rio a partir de 2026.

 


Juntamente com o projeto do Rio Pardo, a Saerp irá realizar um estudo de resiliência do Aquífero Guarani, que avaliará a situação do manancial e sua capacidade de explotação. “Este novo projeto é crucial para termos um conhecimento aprofundado do Aquífero, saber qual o seu horizonte de explotação e atender os planejamentos futuros, não apenas da Saerp, mas dos órgãos competentes. Junto com o projeto do uso das águas do Rio Pardo, irá favorecer as diretrizes para o sistema de abastecimento de Ribeirão”, explica o diretor técnico da Saerp, Lineu de Andrade. 

 


O estudo da capacidade máxima, resiliência e sustentabilidade para o abastecimento público e privado de Ribeirão Preto deverá custar cerca de R$ 2 milhões. Ademais, a outorga para a exploração de águas subterrâneas é concedida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do governo do Estado de São Paulo, uma autorização que difere da exploração de águas de rios, por exemplo.

 

 

DEMANDA DO SETOR PRIVADO

 


Paulo Sinelli, engenheiro e diretor da AEAARP, ressaltou a dificuldade na expansão imobiliária da cidade causada pela escassez hídrica. “Foi muito importante esse evento. Nós já estamos discutindo, há algum tempo, diante das demandas dos empreendedores, principalmente pela falta de água em determinadas regiões, inviabilizando a implantação de novos empreendimentos”, ressaltou. Essa não foi a primeira reunião sobre o tema realizada na AEAARP, contudo, para Sinelli, houve um avanço em relação ao que já fora apresentado. “Diante do que foi conversado no ano passado, teve um avanço, sem dúvidas. E sabemos que o poder público tem uma morosidade em termos de recurso e de licitações, mas, vamos esperar que isso ocorra o mais breve possível”, concluiu.

 


No evento, a grande preocupação dos empresários do ramo imobiliário e da construção civil foi em relação à distribuição de água em todas as regiões da cidade, principalmente nos novos loteamentos. Segundo eles, existem locais em que é necessário investimento privado para prover água, como a construção de caixas d’água e a perfuração de poços artesianos. Atualmente, o sistema de abastecimento da Saerp conta com 120 poços ativos. Silvio Contart, empreendedor do ramo imobiliário e associado da AEAARP, é um dos que alertam para esse problema. “O fornecimento de água e o tratamento de esgoto são atribuições do poder público. Não era para o poder privado ter que contribuir para fazer isso. Nós fazemos toda a rede, furamos poços, construímos caixas, doamos para eles [Saerp] e eles te vendem a água depois”, pontuou Contart. Apesar disso, o empresário pondera que o avanço dos estudos na captação de água do Rio Pardo, bem como outras alternativas estudadas pela Prefeitura são bem-vindas. “São projetos muito importantes, tanto a avaliação da capacidade do Aquífero Guarani, para não ficarmos sem água no futuro, quanto a questão de adicionar ao sistema atual um abastecimento através de uma estação de tratamento de água do Rio Pardo”, conclui. 

 


De acordo com a Saerp, são realizados estudos constantes em relação à distribuição de água pela cidade. A implantação do Projeto Pardo, o programa de redução de perdas e a otimização do sistema de distribuição podem sanar os problemas, garante a autarquia. O projeto inicial prevê a distribuição da água do Rio Pardo para todas as zonas da cidade. Sobre a oferta de água para novas construções, é verificada se existe folga para incluir o empreendimento na produção atual, com sua demanda prevista no futuro. Caso não seja mais possível, devido a outros empreendimentos já utilizarem a folga existente, o empreendimento não tem viabilidade na presente situação. A secretaria acrescenta que, caso haja previsão futura, por parte da Saerp, em aumento de oferta de água em seu planejamento, a diretriz é liberada.

 


ANÁLISE

 


Ao final da apresentação na AEAARP, foi aberto o microfone para que a plateia fizesse questionamentos e sugestões ao projeto. A questão ambiental foi a menos abordada pelos participantes, com apenas um apontamento feito sobre o reuso da água em grandes empreendimentos. A tônica dessa etapa do evento foi sobre como o Projeto Pardo poderia impactar na verticalização da cidade e na expansão imobiliária. Para Marcelo Marini Pereira de Souza, professor titular da USP de Ribeirão Preto, atuando na área de Gestão e Instrumentos de Política Ambiental e das Águas, esse é um projeto econômico, que representa os interesses de um segmento da sociedade. 

 


O professor ressalta que o índice de perdas pode ser superior aos 47% divulgados pela administração municipal, uma vez que a cidade conta com diversos poços particulares, em condomínios e grandes empreendimentos. “Do ponto de vista de abastecimento público, a água do Rio Pardo é desnecessária para a situação atual de Ribeirão Preto. Se reduzidas todas as perdas, poderíamos quase dobrar a população da cidade”, afirmou Souza. “Esse projeto reflete o interesse dos empreendedores da construção civil, para que se possa adensar mais a cidade, criando condomínios mais afastados e verticalizando ainda mais regiões como o Centro, para que possa gerar mais lucros”, acrescentou. Atualmente, o Centro é a região com maior perda de água.

 

São 21 vazamentos por quilometro de rede. A redução das perdas e a otimização da distribuição seriam essenciais para avançar a verticalização da região, garantem os técnicos da Saerp.
O professor ainda ressalta a sazonalidade da oferta de água do Rio Pardo. “A água subterrânea é muito mais estável. Mesmo se fizer seca, você retira a mesma quantidade de água. Já as águas superficiais experimentam um outro processo. São muito mais suscetíveis às flutuações dos níveis de chuva. Em épocas de mudanças climáticas, um dos primeiros impactos é no regime de chuvas”, alerta Souza. A flutuação dos níveis do rio, pontua o professor, também podem impactar na qualidade da água. Além disso, a presença de fertilizantes ou de outros elementos indesejados deve ser monitorada. “Os estudos ambientais devem ser feitos em função do tipo de sistema que iremos adotar. Mesmo sendo uma obra pública, será necessário um licenciamento ambiental”, concluiu.

 

 

OUTROS PROJETOS

 


Além da captação, tratamento e distribuição da água do Rio Pardo, a Saerp também se comprometeu em reduzir de 47% para 30% as perdas de água nos próximos anos, chegando a marca de 25% até 2033, por meio do Programa de Gestão, Redução e Controle de Perdas. “No último SNIS, que traz os dados de 2021, tivemos uma redução significativa das perdas no sistema de abastecimento e a expectativa para 2022 é ainda menor, o que mostra que estamos trabalhando no caminho certo. O nosso objetivo é reduzir esse índice para menos de 30% quando atingirmos o final da implantação do programa em 2024”, assegurou o secretário da Saerp, Antonio Carlos de Oliveira Júnior. 

 


Outro resultado que vem sendo observado é o do Programa de Setorização, que já aumentou a eficiência do sistema de abastecimento. “Um dos principais resultados que temos hoje é a possibilidade de avaliar o consumo real de cada setor da cidade, o que só foi viável com a implantação do Programa de Setorização do abastecimento, que, além de permitir ter uma ampla visão da produção e consumo de cada setor, nos possibilita acompanhar o crescimento da cidade e garantir o atendimento de água em todo o município”, ressaltou o engenheiro da Saerp, responsável pelas obras no sistema de abastecimento, Richard Valefuego. 

 

Metas do Projeto Pardo


Confira todas as etapas e metas do Projeto Pardo:

• Projeto básico da captação de água superficial;
• Projeto básico de adução de água bruta;  
• Projeto básico da estação elevatória de água bruta;
• Projeto básico da estação de tratamento de água;
• Projeto básico da estação elevatória de água tratada;
• Projeto básico da adução de água tratada;
• Projeto básico dos centros de reservação setoriais e interligações ao sistema existente;
• Estudos ambientais de todo o sistema de abastecimento rio Pardo; 
• Licenciamento Ambiental Prévio.

 

Sistema de abastecimento de água de Ribeirão Preto

 

Ligações ativas: 210.105

Rede de abastecimento: 2.406 km

Manancial: 100% Aquífero Guarani

Poços ativos: 120 poços
tubulares profundos

Reservação Efetiva: 161.000 m³

Perda de água total: 47% 

Fonte: Saerp – Junho de 2023

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