Campanha pela saúde

Campanha pela saúde

Iniciativa liderada pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto quer uma nova unidade de emergência para o HC; projeto pode custar cerca de R$ 450 milhões e depende do aval do governo do estado

Uma campanha liderada pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e pelo Supera Parque quer uma nova Unidade de Emergência do HC (HCUE), atualmente na Rua Bernardino de Campos, no Centro da cidade.  A proposta desenvolvida pela equipe de engenharia do hospital prevê a construção da nova unidade em uma área entre as avenidas Independência e Lygia Latuff Salomão, próxima ao Anel Viário Sul. O local possui 167 mil metros quadrados e a previsão é de que a área construída possua 57 mil metros quadrados, com acesso para as duas avenidas. O empreendimento disporia de 1.300 vagas de estacionamento, além de um heliporto para o transporte de pacientes. Se aprovada pelo governo do Estado de São Paulo, o projeto executivo deverá levar cerca de um ano para ser concluído e a obra, segundo a direção do hospital, levaria aproximadamente dois anos, totalizando três anos para a entrega. O valor previsto inicialmente a para a obra é de R$ 450 milhões. 

 


O novo projeto pretende resolver dois problemas que impactam o atendimento aos pacientes: localização a lotação. A diretoria pretende tirar HCUE das ruas estreitas e trânsito caótico do Centro da cidade; além de aumentar da capacidade de atendimento, atualmente a unidade dispõe de 200 leitos. Inclusive, o hospital tem emitido ofícios ao governo do Estado alertando para a superlotação. Em 2022, a unidade chegou a paralisar o recebimento de pacientes por duas vezes alegando falta de vagas para recebê-los. O novo projeto estima a abertura de 400 leitos. “A realidade que temos é de um hospital que muitas vezes atinge 100% de ocupação. É o hospital referência e trauma, mas que não tem mais capacidade de expansão. Uma nova unidade teria a capacidade operacional dobrada para 400 leitos para atender quatro departamentos regionais de saúde (DRSs): Ribeirão Preto, Franca, Barretos e Araraquara”, explicou Ricardo Cavalli, superintendente do HC.  Ao todo, 91 cidades integram essas regionais de saúde, totalizando cerca de três milhões de habitantes.  “O próximo passo será uma reunião com o governador Tarcísio de Freitas e o secretário de saúde [Eleuses Paiva] envolvendo todas as forças políticas da região, envolvendo a superintendência do Hospital das Clínicas para que possamos convencê-los tecnicamente da viabilidade e da importância desse projeto para a nossa região”, acrescentou Cavalli.

 


A superlotação também traz impactos para a rotina dos funcionários. “Trabalhamos, quase diariamente, com superlotação, apesar de não termos mais pacientes em corredores ou saguão do hospital. Foi uma mudança que está gestão fez. Cada doente em seu leito. Assim trabalhamos com um melhor fluxo, o que envolve alta qualificada e rápida ocupação dos leitos. A superlotação traz preocupação com a segurança dos pacientes”, relata o médico Maurício Godinho, coordenador do HCUE. Enquanto uma nova unidade não é inaugurada, Godinho explica que foi implantada uma reunião diária, uma espécie de “mesa de negociações” com os municípios da região. “Isto permitiu melhoramos o encaminhamento correto. E mais uma vez, o fluxo dentro do hospital”, pontua Godinho. Até o fechamento dessa matéria, das oito áreas de atendimento do HCUE, quatro estavam com 100% de lotação (Emergência Adulto, CTI Adulto, Enfermarias Adulto e Isolamento Adulto); alas infantis também são afetadas, como a Sala de Urgência Pediátrica (66%), CTI Pediátrico (75%) e Enfermarias Pediátrica (85%). 

 

 

PREFEITURA

 


No dia 14 de agosto o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) recebeu no Centro Administrativo “Prefeito José de Magalhães”, Ricardo Cavalli, Maurício Godinho, e Sandro Scarpelini, para apresentar a campanha “Todos pela Nova UE”. “Será um projeto para agregar todo complexo de saúde que já temos em Ribeirão Preto e que agora também passará a contar com o AME Ribeirão Preto. A cidade é sede das Redes Regionais de Atenção à Saúde, composta pelas DRSs de Ribeirão Preto, Araraquara, Barretos e Franca, somos a cidade mais populosa da região, com 698 mil habitantes. Por ser a cidade central das regionais, permite também a implantação do transporte aeromédico (helicóptero) de emergências na região. É uma proposta que permite acompanhar as necessidades regionais para, pelo menos, os próximos 50 anos”, disse o Nogueira. A administração municipal se declarou empenhada em trazer a nova unidade do HC, “tanto que em 2022 já havíamos encaminhado o pedido ao governador de São Paulo para a implantação. Junto ao ofício também foi entregue a proposta do projeto de construção, com dimensões de oito a dez vezes maiores do que as atuais, assinado por professores da USP. E neste ano, reforçamos o pedido ao atual governador de Estado durante o 65º Congresso Estadual de Municípios”, acrescentou em nota a Prefeitura. Na ocasião, Cavalli reforçou a proposta técnica elaborada para implantação da segunda unidade na cidade e reforçou a campanha “Todos Juntos pela UE” que traz o apelo para que seja uma causa compartilhada por todos.  

 

 

DEMANDA REGIONAL

 


Além de Ribeirão Preto, as unidades do campus da USP e o HCUE recebem pacientes de toda a região, inclusive, até de outros estados e regiões do país.  Segundo Sandro Scarpelini, médico do HC, diretor do Supera Parque e um dos idealizadores do projeto, atualmente, o HCUE não consegue receber toda a demanda que é solicitada pela região.  Embora não seja o único hospital de urgências da região, é o que possui equipes e equipamentos mais adequados para casos de urgência de alta complexidade, como traumatismos graves, acidente vascular cerebral e infartos do miocárdio, além de ser o único hospital que possui Unidade de Queimados graves, e que atende urgências pediátricas e psiquiátricas. Por isso, segundo Scarpelini, há a necessidade de um apoio de forças políticas da região nessa campanha. “Temos conversados com diversos prefeitos com ótima receptividade e apoio.  O prefeito Duarte Nogueira está engajado, tanto nos contato com o Governo de Estado, quanto na articulação com os prefeito. Precisamos lembrar que o fator limitante para recebermos casos graves é o tempo de transporte.  Atualmente, o transporte para a Unidade de Emergência é feito apenas por ambulâncias, enquanto nos centros modernos, o uso de helicópteros é rotineiro, diminuindo o tempo e expandido a área de cobertura”, detalha o médico.

 


Antônio Pazin Filho, vice coordenador do HCUE esclarece que cerca de 50% dos atendimentos do HCUE são de pacientes de fora de Ribeirão Preto, uma vez que o hospital é um dispositivo estadual e está a serviço de toda a região. “Há mais de uma década nós temos lutado para minorar os impactos superlotação, com o processo de Regulação do SUS, com a gestão interna de leitos, o melhoramento tecnológico e profissional, mas mesmo assim estamos atingindo o máximo. Como será esse cenário daqui a 20 anos? Com o crescimento e o envelhecimento da população?”, questiona o médico. O médico ressalta que várias ações já foram tomadas ao longo das últimas gestões para conter os efeitos da superlotação, em paralelo, o hospital precisa incorporar atualizações de infraestrutura para a modernização de cuidados que não existiam antes. “Mas temos uma limitação física para o crescimento, já que o nosso prédio fica no Centro. Também não podemos pousar um helicóptero no topo do prédio, precisamos trazer pacientes de outros locais para cá de outra forma. O atendimento de urgência é muito sensível, o tempo é um fator primordial”, pontua. “Esse é um projeto muito necessário e temos uma conjunção de pessoas interessadas para que ele vá para frente. Estamos dispostos da nossa parte em construir esse projeto e auxiliar o seu desenvolvimento. Falta agora uma sinalização do governo do Estado de que isso é algo plausível. Um investimento dessa magnitude precisa ser bem planejado. Além do investimento na obra, temos o custo de manutenção, dos equipamentos de ponta que serão instalados e dos profissionais capacitados”, conclui Pazin.

 


Scarpelini ressalta que é de fundamental importância o engajamento da sociedade civil nessa campanha. “Todos sabem da importância da Unidade de Emergência e as dificuldades enfrentadas, amplamente divulgadas pela mídia.  A Unidade de Emergência do HC, passou a atuar neste perfil há 40 anos, praticamente com a mesma capacidade técnica.  Como exemplo, a cidade de Ribeirão Preto em 1980 tinha 305 mil habitantes, e no censo atual temos 698 mil, com uma população mais idosa, e com níveis de trauma no trânsito ou violência muito maiores, e a Unidade de Emergência com praticamente a mesma capacidade”, analisa.  “A Nova UE é para todos! Na emergência não escolhemos o destino. Por isto é tão importante termos um hospital adequado”, acrescentou Godinho.  Sobre o movimento de união dos municípios da região para fazer coro frente ao governo estadual, a reportagem entrou em contato com as Prefeituras de Barretos, Franca e Araraquara, município que correspondem a DRSs vizinhas a Ribeirão Preto e que seriam beneficiados pelo novo hospital. A Prefeitura de Franca declarou que não irá se manifestar sobre o assunto no momento. Já as prefeituras de Barretos e Araraquara foram procuradas, mas não se posicionaram sobre o tema até o fechamento desta edição.

 

 

HISTÓRICO

 


A história da Unidade de Emergência tem início com a criação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, em 1951. Oficialmente instalada em 17 de maio de 1952, as atividades clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto eram realizadas, em caráter provisório, nos pavilhões da Santa Casa de Misericórdia. Uma solução temporária foi encontrada junto à Fundação Maternidade Sinhá Junqueira, que estava construindo um prédio na rua Bernardino de Campos, para instalação da maternidade. Por meio de convênio firmado em abril de 1953, entre a USP e a Fundação Sinhá Junqueira, com autorização do Governo do Estado, ficou acordado que o Estado concluiria as obras da Maternidade, que se encontravam em fase de alvenaria inacabada para utilização do imóvel, em comodato, por 20 anos.

 


Após a transferência das instalações para o HC Campus, iniciou-se a reforma do antigo prédio da Maternidade Sinhá Junqueira, para abrigar a Unidade de Emergência e a Unidade de Queimados. O programa de reformas e ampliações da Unidade de Emergência ganhou importância com o “Centro de Queimados Prof. Dr. Ruy Escorei Ferreira Santos”, inaugurado em 1982. Instalado em 1984, também na Unidade de Emergência, o Centro de Controle de Intoxicações foi outra conquista importante para Ribeirão Preto e Região. Atende, em plantão permanente, casos como intoxicações alimentares, medicamentosas e picadas de animais peçonhentos. Em 1985, o Hospital passou a contar com um projeto orçamentário específico, para a reforma da UE, solicitado desde 1983. Em de março de 1987, a Unidade de Emergência devidamente reformada é inaugurada. 

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