Cidade em alerta

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Casos de dengue crescem 174% de dezembro de 2023 para janeiro de 2024 em Ribeirão Preto; Prefeitura pede apoio da população no combate ao mosquito transmissor

A epidemia de dengue que já assola diversas localidades do país também avança em Ribeirão Preto. Em dezembro de 2023, já em posse dos dados epidemiológicos das primeiras semanas do verão, a Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde emitiu um alerta para o aumento de número de casos acima do normal para o período. O alerta tomou como base o aumento precoce nesse período do ano, a sazonalidade da doença que ocorre entre os meses de janeiro a maio e os resultados do último levantamento de índices larvários do mosquito Aedes aegypti. "As condições climáticas atuais, caracterizadas pelas alterações nos padrões de precipitação e de temperaturas, têm o potencial de afetar a proliferação de vetores transmissores de doenças virais principalmente as arboviroses e consequentemente o aumento da possibilidade de transmissão dessas doenças", informou a Secretaria da Saúde em nota. Arboviroses são doenças virais transmitidas principalmente por mosquitos e outros artrópodes, podendo causar febres agudas e complicações graves em humanos.


Em outubro do ano passado, foi realizado um levantamento dos níveis de infestação do mosquito vetor em todas as regiões do município e para cada 100 imóveis avaliados em três foram encontrados criadouros com larvas do mosquito Aedes aegypti. “O número é alto para a época do ano. O foco não tem apenas uma larva que irá virar um mosquito, ele tem dezenas de larvas que irão se transformar em mosquito adulto e irão prejudicar os moradores das casas e os vizinhos”, explicou Maria Lucia Biagini, chefe da divisão de Vigilância Ambiental. Em dezembro de 2023 foram registrados 735 casos confirmados de dengue e 34 de Chikungunya. Em janeiro deste ano, subiram para 2.014 casos confirmados de dengue e 46 de Chikungunya, um aumento de 174% e 35%, respectivamente.  Maria Lucia ressalta que por isso, a conscientização e colaboração da população é fundamental para o controle da doença. “Pedimos a população que entre nessa briga conosco, vistorie sua casa. Ribeirão Preto possui 276 mil imóveis cadastrados na divisão, portanto, como que o Controle de vetores pode estar nessas casas pelo menos uma vez por semana? É humanamente impossível e todos temos que fazer a nossa parte”, alerta.

 

COMBATE DEBILITADO


No último sábado, 10, a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde, realizou mais um mutirão de combate à dengue nos bairros Jardim Piratininga e Vila Virgínia, na região Oeste. As ações tem sido comuns aos finais de semana. As equipes de campo visitaram 5.878 imóveis, onde foram retirados 3,4 toneladas de criadouros potenciais do Aedes Aegypti e encontrados 58 focos de larvas do mosquito. Também, o mutirão recolheu mais de 150 pneus, que estavam expostos a céu aberto, também sendo potenciais criadouros. Já no sábado, dia 3 de fevereiro, em outro mutirão, os agentes coletaram 5 toneladas de possíveis criadouros.


Apesar do empenho, o combate ao mosquito está debilitado. A equipe de prevenção à dengue da prefeitura de Ribeirão Preto encolheu 19% nos últimos oito anos. O contingente de Agentes de Combate às Endemias em dezembro de 2023 foi de 263 profissionais, 60 a menos que no mesmo mês de 2016. O caso foi exposto em reportagem publicada na última edição da Revide em parceria com a Agência Farolete. Na ocasião, a Prefeitura afirmou que ocorreram “pedidos de desligamento por parte dos funcionários ao longo dos anos, além de aposentadorias”. O Executivo informou que “há um estudo sobre o impacto econômico-financeiro, assim como a avaliação para não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), para que seja realizada contratação emergencial de agentes de combate às endemias”, mas não esclareceu em que prazo isso ocorrerá. Segundo a prefeitura, também foi realizado um concurso público em outubro de 2023, mas que ainda não foi homologado. Portanto, não é possível convocar os aprovados para assumirem os cargos. A reportagem questionou novamente a Prefeitura sobre quando a equipe de Combate às Endemia ganhará novos reforços. Contudo, não obteve retorno até o fechamento desta edição.

 

NÃO CONFUNDA


O mosquito transmissor da dengue é o mesmo que transmite Chikungunya sendo os sinais e sintomas clinicamente parecidos – febre de início agudo, dores articulares e musculares, cefaleia, náusea, fadiga e exantema, no entanto, a principal manifestação clínica que difere a Chikungunya são as fortes dores nas articulações, que muitas vezes podem estar acompanhadas de edema.  Por isso, no alerta, a Prefeitura ressalta que é preciso atenção ao aparecimento dos sinais de agravamento da doença, como vômito persistente, dor abdominal intensa, sangramentos, agitação ou sonolência, tontura ou desmaio, pele fria e pálida, dificuldade para andar, choro persistente em crianças. Esses sintomas podem indicar evolução para a forma grave da doença, sendo necessário atendimento médico imediato. 



Médico infectologista Lucas Agra explica as diferenças sutis de sintomas entre os tipos de dengue e Chikungunya

Uma das dificuldades no diagnóstico das arboviroses é a diferenciação dos sintomas, o que acarreta em uma subnotificação de casos. O médico infectologista Lucas Agra, supervisor da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, explica que os sintomas dos quatro tipos de dengue existentes são praticamente os mesmos, somente o tipo 3 que pode apresentar eventualmente um tipo bem específico de manchas no corpo. "No geral não há diferença entre os sintomas, que normalmente se apresentam com febre alta e abrupta, ou seja, de repente você está com 39° graus, muita dor no corpo e nas articulações, dor de cabeça e atrás dos olhos, manchas pelo corpo todo com muita coceira e às vezes náusea, diarreia", detalha. Já no caso da Chikungunya a única característica de destaque seria a da dor articular que é muito mais exuberante provocando até derrame articular, rigidez das articulações e intensa dor com o risco inclusive deste quadro se tornar crônico e incapacitante.


Todavia, quando se trata da recuperação, algumas publicações científicas apontam que os sorotipos 2 e 3 são potencialmente mais graves. “Provavelmente porque as epidemias que ocorreram por estes sorotipos foram na verdade uma reinfecção pela dengue, fato este ligado com muita força ao risco de Dengue Grave, ou seja, se uma pessoa que foi infectada no ano passado tiver dengue este ano por outro sorotipo, a chance dessa reinfecção ser mais grave é considerável”, explica Agra. O médico acrescenta que desde 2023 é grande circulação do sorotipo 2. “Porém, estamos acompanhando de forma muito preocupante o isolamento de diversos casos provocados pelo sorotipo 3, o que representaria um grande potencial para as pessoas serem reinfectadas por sorotipos diferentes ocasionando quadros mais graves”, conclui o especialista. 

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