Com muito gás para a transformação

Com muito gás para a transformação

Curioso, resiliente e pragmático, Ricardo Hatschbach — CEO da Necta —, pretende dobrar número de consumidores de gás natural em Ribeirão Preto

Carioca, formado em engenharia Mecânica na UFRJ, Ricardo Hatschbach iniciou a carreira trabalhando na Shell. Estava pronto para ser consultor de vendas quando participou de um projeto que despertou seu interesse pelo mercado financeiro. Então cursou MBA em Finanças, no Ibemec do Rio, e passou os 11 anos seguintes trabalhando em diferentes empresas, tanto no Brasil como no exterior. Morou na Holanda, onde nasceu sua primeira filha, e fez um curso executivo nos EUA, no General Management Program (GMP), da Harvard Business School, concluído em 2018. No início de 2019 ele voltou ao Brasil para trabalhar no projeto Júpiter da Cosan — braço da empresa criado para fazer a companhia crescer na área de gás e energia —, que originou a Compass Gás e Energia, compradora da participação da Petrobrás na Gaspetro, uma holding de distribuidoras de gás no Brasil da qual a Petrobras detinha 51% das ações e a japonesa Mitsui 49%. Foi assim que, em 12 de julho de 2022, Ricardo assumiu a função de CEO da GasBrasiliano — agora Necta —, com muita energia para acompanhar a velocidade das transformações e aproveitar as oportunidades. 

 

De engenheiro a gestor. Você tinha se imaginado em um posto desse? Como lidar com esse salto na carreira?

 

Eu sempre ambicionei ter esta experiência, se ia dar certo ou não, era outra discussão. Gosto muito de uma frase em inglês que significa: você mira nas estrelas, no mínimo acerta as nuvens. Essa é minha forma de pensar. A engenharia, me traz um raciocínio pragmático, uma forma muito diferente da maioria das pessoas de enxergar o problema, onde o fraciono em vários problemas menores a serem resolvidos, antes de resolver o problema todo. Nesta trajetória, tão importante quanto minha formação na engenharia foram a leitura e o esporte, que me transformaram em quem sou hoje. Já li muita poesia, literatura, romance, e hoje estou muito focado na não-ficção. A leitura incentiva minha curiosidade. Já o esporte me ensina a ter resiliência, disciplina e, o principal, a lidar com minha zona de desconforto. Não tem como crescer na vida pessoal, profissional ou organizacional, sem enfrentar a sua zona de desconforto.

 

E como você traz tudo isso para sua liderança?

 

Sem disciplina, você não começa e, sem consistência, não termina as coisas que você se propõe a fazer, porém, não dá para basear minha vida — e a da Necta —, só nisso, ou me torno duro, inflexível às mudanças e aos cenários de incerteza com que temos sempre que aprender a lidar. Por isso, a característica mais importante para mim de qualquer líder é aprender a desaprender, para que a gente possa reaprender. Você pode, sim, mudar de opinião e evoluir. 

 

Quais os maiores desafios que você enfrentou na companhia desde sua chegada?

 

Promover o alinhamento dos dois sócios: a Compass e a Mitsui, que são diferentes, mas aportam características e qualidades importantes e complementares, é um aprendizado diário.  A Compass, por sua origem, é mais focada em resultados e em senso de dono. A Mitsui, uma holding centenária japonesa, é muita focada em longo prazo, em processos. O maior desafio da companhia, que ainda está em curso, está na transformação de uma empresa de gestão pública para privada. Pode parecer simples, mas tanto em uma empresa grande como pequena, é um grande desafio que abrange desde mudanças de processos até destravar o mindset dos colaboradores. Colocamos um grupo de pessoas trabalhando juntas numa sala com um objetivo e uma delas, que está na empresa há oito anos, disse que foi uma das experiências mais felizes que já teve. Estamos no meio desta jornada, de transformação das pessoas de dentro para fora, de destravar as amarras e melhorar a potência que é essa companhia.

 

E qual a razão da mudança da marca, que já estava consolidada no mercado?

 

A GasBrasiliano surgiu quando o governo de São Paulo privatizou o serviço de distribuição de gás natural canalizado. A Eni Spa, uma empresa italiana, ganhou a concessão para atuar no Noroeste Paulista e nomeou a empresa de GasBrasiliano, com essa entonação típica e associada à Itália. Mesmo depois de vendida, o nome permaneceu e a empresa ganhou muitos apelidos como GBD, GB. Em Araraquara, onde fica a sede, muitas pessoas conheciam a GasBrasiliano como Gás — e gás é um produto, não diz nada e não é um nome forte. Fizemos um estudo, e chegamos à conclusão de que a GasBrasiliano não era uma empresa tão conhecida no mercado e que muitos a associavam a uma empresa estatal. A marca tem que repercutir a visão da companhia e para refletir esse novo direcionamento estratégico, de destravar a potência da companhia nesse mercado em que atuamos, surgiu o nome Necta. 

 

Qual o significado de Necta?

 

Tem a ver com o futuro. É uma transformação tanto de dentro para fora quanto de fora para dentro. De fora para dentro tem uma clara transformação, a região do Noroeste Paulista é uma grande potência de descarbonização fruto do biometano produzido pelo setor sucroenergético. De dentro para fora nos inserimos no contexto da transformação de pessoas com negócios e futuro, em que buscamos entender as necessidades do presente conectadas às soluções do futuro. Isso se conecta com nossos funcionários e colaboradores, que devem se ver nessa jornada por um futuro melhor, isso se conecta com nossos clientes, que querem uma energia cada vez mais limpa, segura e eficiente. Isso se conecta com o governo, que é o dono desta operação. Tudo se conecta. 

 

E nesse olhar para o futuro, vocês também inauguraram um escritório em Ribeirão Preto...

 

O novo escritório em Ribeirão Preto é fruto de uma estratégia um pouco mais ampla. Reunimos toda a nossa forma de operar, mantivemos a nossa sede em Araraquara, uma importante cidade para nós, onde temos o nosso time de operação de gás, laboratório de gás e nosso almoxarifado. Temos outros escritórios e filiais menores em Bauru, Araçatuba e São Carlos. Dentro desse trabalho de revisão estratégica, o potencial de crescimento se mostrava com muita força em Ribeirão Preto e região, por isso, decidimos reforçar a nossa presença aqui, com um escritório moderno e ambiente inovador, trazendo parte de nossos colaboradores para a cidade. Temos hoje em torno de 42.500 clientes, praticamente metade — 21 mil — estão em Ribeirão Preto e podemos dobrar esse número no município só com clientes que já estão em cima de nossa rede, ou seja, pelo gasoduto que passa pela porta da casa ou comércio do cliente. Essa jornada está intensificada e estamos no início dessa transformação e evolução da companhia.

 


Ainda vemos muitas dúvidas em relação ao gás natural. Quais as características e benefícios do produto?

 

Dos combustíveis fósseis, o gás natural é o mais limpo e com menor emissão de poluentes e a Necta o leva para residências, comércios e indústrias através de dutos ou gasodutos, o que é mais seguro, porque o produto chega de forma contínua, sem risco de interrupção ou locado, como em alternativas como caminhão, por exemplo. É a forma mais eficiente, principalmente quando nos referimos às indústrias, que prezam pelo menor consumo energético, seja porque o mundo precisa ou por uma demanda de custo. Além disso, os equipamentos que consomem gás também estão cada vez mais eficientes. E eficiência é gerar o mesmo calor, seja no fogão ou para aquecer uma piscina, com um menor consumo de gás ou qualquer energético equivalente. 

 

Qual o papel da Necta na tão falada transição energética?

 

O papel da distribuidora de gás é importante porque é através da demanda e infraestrutura desenvolvida que se viabiliza a transição de uma energia fóssil para uma renovável. Através dessa infraestrutura de rede, principalmente, outras plantas de biometano podem escoar ou distribuir o seu produto, e também poderemos viabilizar, no Estado de São Paulo, os tão sonhados corredores azuis, com caminhões e ônibus movidos a gás e não mais a diesel. Ainda, e sem entrar na discussão técnica, se um dia o hidrogênio vier a substituir o gás, essa mesma infraestrutura poderá ser usada para a sua distribuição. Dessa forma, nos colocamos de maneira bastante estratégica para atender não só a dona de casa que cozinha em sua casa, como a grande indústria, que transforma energia em produtos do nosso dia a dia, olhando também para a parte energética, seja na questão do biometano, seja na área de frota pesada de transporte público.

 

Como a Necta tem lidado com as práticas ESG?

 

Gosto de fazer a comparação entre ESG e Segurança. Toda empresa que tem operação com produto ou serviço que é perigoso, no nosso caso o gás é inflamável, a segurança sempre é a licença para operar, pois não posso ter acidentes com fatalidade, é preciso cuidar dos colaboradores, evitar incidentes com terceiros em nossa rede e vários outros fatores. A segurança evoluiu e hoje a nossa licença para operar é o ESG. Para a Necta, do ponto de vista do ambiente, o nosso dever é cuidar e cultivar para a construção e contribuição de um futuro cada vez mais limpo, onde não só sejamos provedores de gás natural — o mais limpo dos combustíveis fósseis —, mas que também viabilizemos o biometano, que tem as mesmas características do gás, mas é totalmente renovável. Em Presidente Prudente, temos uma rede com mais de 30 quilômetros e 100% biometano em parceria com a Usina Cocal, em Narandiba. No social, o objetivo é fortalecer o papel da nossa empresa em participar de atividades que incentivem a literatura e o esporte. E na governança, cuidamos para que os processos sejam bem conduzidos possamos evitar corrupção ou má gestão como vimos em tantas empresas na história recente do Brasil. Para nós, o ESG é fundamental e não tem como não falar também de um valor muito importante que é a valorização das diferenças e da diversidade. Gostaria de reforçar isso porque é algo que realmente cultivamos: o respeito para que todos os indivíduos exerçam o seu potencial como são.

 

A GasBrasiliano sempre foi patrocinadora da Feira do Livro de Ribeirão Preto, que hoje é internacional (FIL), e um evento muito importante para a cidade. A Necta pretende continuar patrocinando eventos desse tipo?

 

A Necta tem sido patrocinadora de projetos sociais que estão muito direcionados em dois pilares: a leitura e literatura, onde se encaixa a FIL, e o esporte, com a Associação de Basquete de Araraquara como exemplo. Esses são apenas dois projetos patrocinados. A leitura tem um poder transformacional muito grande, enquanto o esporte dá a direção para muitos jovens que precisam se ocupar. Isso reforça o nosso papel de investir nas cidades onde estamos, de fortalecer nossa presença onde atuamos, e desejamos continuar parceiros da FIL Ribeirão Preto e de outras organizações. 


Foto: Luan Porto

Compartilhar: