
Conhecer o presente para planejar o futuro
Com um atraso de dois anos e alguma polêmica, divulgação dos dados do Censo do IBGE é fundamental para a formulação de políticas públicas
Somos 698.259 moradores em Ribeirão Preto, segundo o Censo de 2022/2023 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma população 15,48% maior que a registrada no Censo 2010, quando o município contava com 604.682 habitantes. A cidade ocupa, hoje, a 8ª posição como mais populosa do Estado de São Paulo. A atual edição do Censo vem com um atraso de dois anos por conta de fatores diversos, entre eles, a pandemia e o corte de recursos por parte do governo federal. Esse hiato provocou diferenças entre os números projetados e o que foi divulgado, trazendo a reboque algumas dúvidas e muita polêmica.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente substituto do IBGE, Cimar Azeredo, observou que a falta de atualização de dados antes da coleta feita para o Censo 2022/2023 explica a diferença entre o que foi divulgado e as estimativas apresentadas pelo órgão. “A última vez que nós fizemos um censo no IBGE foi em 2010. Deveria ter sido feita uma contagem em 2015. O governo não deu recursos para o Instituto fazer essa contagem. A conclusão é que chegamos em 2022 com o cadastro desatualizado”, revelou.
Segundo Laudo Natsui, coordenador de Área do IBGE para Ribeirão Preto (que compreende, ainda, 15 municípios nos arredores), apesar de todas as circunstâncias, foi feito o que estava ao alcance dos profissionais envolvidos. “Atendemos à obrigatoriedade legal de divulgar números consistentes que, em dezembro de 2022, eram prévios, mas representavam mais de 95% da coleta concluída para estes nossos municípios”, observou. “O resultado final e oficial sempre estará aberto para debates, pois são números obtidos pela metodologia aplicada ao Censo, em que há ampla discussão pelos pares, técnicos, analistas, demógrafos, conselheiros, toda uma gama da sociedade, com base científica e fundamentada nas séries históricas de demais censos e pesquisas do IBGE e indicadores de diversos órgãos”, completou.
Na opinião do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), houve falta de planejamento do governo federal e, acima de tudo, ausência de prioridade ao não voltar as atenções, recursos e esforços para a realização do Censo em 2020. “Governar é escolher e, hoje, o que estamos vendo, é essa distorção de números. O que temos que fazer agora é evitar danos para o município em função dessas informações, por vezes, divergentes”, concluiu.
Famílias menores
Outro dado divulgado pelo Censo 2022/2023 é a média de pessoas por residência que, em Ribeirão Preto, é de 2,61 moradores. Em 2010, esse número era de 3,07 habitantes. A cidade acompanha o cenário nacional. No Brasil, a média de moradores em cada residência caiu de 3,31, em 2010, para 2,79 em 2022. O professor Christian Ganzert, do curso de Administração e Engenharia e Computação da Unaerp, ressalta que essa alteração no perfil das famílias brasileiras reflete um cenário mundial de redução gradativa da população. “O Brasil está mudando de um país tipicamente em desenvolvimento, com alta taxa de natalidade, para um país com famílias menores, uma tendência que já vem sendo observada na Europa”, frisou.
Segundo ele, essa diminuição no tamanho da família não significa apenas que o brasileiro está tendo menos filhos, mas também que está optando por não formar uma família. “Isso acontece em países desenvolvidos, mas, aqui, sem a mesma distribuição de renda. Apesar de a população brasileira estar diminuindo, a formação de renda das famílias anda de lado, não melhora. O poder de compra tem diminuído e ter menos filhos é ter menos pessoas para alimentar”, salientou.
Esse cenário está atrelado a outro: o da Previdência Social. De acordo com o professor Alberto Matias, presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (INEPAD), a engrenagem da previdência é, essencialmente, quem trabalha paga por quem não trabalha. “Com um contingente cada vez menor de trabalhadores e cada vez maior de aposentados, a conta não fecha. O custo previdenciário é enorme e consome recursos que poderiam estar sendo destinados a outras áreas”, observou.
Consciência cidadã
Para Matias, o envelhecimento da população é um processo natural, mas, é preciso olhar para os números apresentados hoje com uma visão de futuro, daí a importância do Censo. “Este levantamento é fundamental para a definição de políticas públicas e deve-se pensar nessa fatia da população (de maior faixa etária) quando se formula ações em áreas como saúde, segurança, educação e mobilidade. Ribeirão Preto tem uma importância significativa neste cenário porque é a maior cidade da macrorregião”, frisou.
Nogueira ressaltou que essa mudança na pirâmide populacional impacta diretamente no atendimento à população. “Haverá uma necessidade de mais investimentos, especialmente na área de saúde, para atender, com qualidade, uma população cada vez mais idosa e longeva. Se você não tem informação, não tem como administrar. O trabalho de um gestor é pautado nos indicadores que norteiam as ações mais importantes para uma comunidade. Informações como as trazidas pelo Censo têm consequência direta na tomada de decisões do setor público”, acrescentou.
Na opinião de Natsui, a primeira ordem de importância do Censo é a da consciência cidadã. “Participar de um Censo é, sobretudo, adquirir a noção de quem somos enquanto munícipes. De ter a expectativa de, sendo contado, este saberá mais sobre quem é enquanto cidadão, na sua cidade e na nação. Esta pessoa, consciente do exercício de sua cidadania, deve, a partir dos indicadores gerados pelo IBGE, cobrar de seus representantes que se faça melhoras no que foi apontado pelo Censo, já que ela também exerceu o ato cidadão por meio do voto”, frisou.
O Censo do não
Dois resultados do Censo 2022/2023 chamam a atenção: a taxa de não resposta e a taxa de recusa. A primeira se refere a domicílios ocupados onde as pessoas não responderam a uma ou mais perguntas. No Censo 2010, esse índice foi de 1,57%. Em 2022, chegou a 4,23%. O Estado de São Paulo foi o que registrou o maior percentual (8,11%).
Na lista dos dez municípios com mais de 100 mil habitantes com as maiores taxas de não resposta, todos são paulistas. Ribeirão Preto aparece em terceiro lugar, com um índice de 14,3%.
Já a taxa de recusa é quando o morador se recusa a responder o questionário. No Censo 2022/2023, em 1 milhão de municípios brasileiros, as entrevistas deixaram de ser realizadas porque as pessoas não quiseram prestar informações. Em nível nacional, a taxa de recusa é de 1,38%. Entre os municípios de todo o país, Ribeirão Preto figura no 15º lugar desta lista, com 3,3%. Para o presidente do IBGE, Cimar Azeredo, a recusa é um “fenômeno natural” mundial.
Natsui revela que houve dificuldades para que os recenseadores fossem recebidos. Segundo ele, talvez por conta da desconfiança das pessoas, que está maior, resultado da intensa propagação de “fake News” sobre o trabalho dos recenseadores, algo que não foi notado com tanta intensidade no Censo 2010. “Sempre há uma margem de não resposta, que é tratada com índices de correção para que tais moradores não alcançados não fiquem fora do cômputo final. O importante desta vez é ressaltar, também, que foi um percentual de apenas 3,3% de recusa em Ribeirão Preto. Na ampla maioria dos casos, o recenseador foi bem recebido. Além disso, temos de destacar que, se não fosse a consciência cidadã da população, no exercício da democracia e todas as instituições que participaram do trabalho de divulgação e valorização do Censo Demográfico, corríamos o risco de estarmos há mais tempo sem saber quantos somos e como estamos para podermos cobrar, com base oficial, dos nossos representantes, seja no âmbito local mas, sobretudo, no Congresso Nacional e no Executivo, as melhorias que todos temos que desejar para as cidades em que vivemos”, finalizou.
Ribeirão Preto segundo o Censo 2022
População: 698.259 pessoas
Taxa de crescimento populacional: 15,48%
Densidade demográfica: 1.072,73 habitante por quilômetro quadrado
Média de moradores por domicílio: 2,61
Entre os dez municípios com maiores taxas de não resposta
*Municípios com mais de 100 mil habitantes:
• Santana de Parnaíba (SP): 16,8%
• Itaquaquecetuba (SP): 15,7%
• Ribeirão Preto (SP): 14,3%
• Votorantin (SP): 13,7%
• São Paulo (SP): 13,4%
• Atibaia (SP): 13%
• Carapicuíba (SP): 12,9%
• Sorocaba (SP): 12,1%
• Cotia (SP): 12%
• Itapecerica da Serra (SP): 11,5%
Foto: Luan Porto