De portas abertas

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Open Banking entra em vigor com promessa de modernizar sistema financeiro nacional e oferecer mais opções de produtos e serviços bancários para os consumidores

Open Banking, ou Sistema Financeiro Aberto, começou a ser implantado no Brasil pelo Banco Central (BC) com a promessa de revolucionar as relações bancárias ao trazer mais opções de produtos e serviços financeiros, com menos custos, além de mais transparência aos clientes, que poderão ter mais autonomia. Contudo, o novo sistema também levanta a dúvida sobre a segurança de dados e eficácia no compartilhamento de informações bancárias da população. “De maneira bem simples, Open Banking é a forma segura de dar às instituições financeiras ou provedoras de serviços financeiros o acesso às informações financeiras dos clientes”, explica Eliseu Hernandez D’Oliveira, economista e assessor de investimentos da BlueTrade. 

Marcelo Botelho Moraes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP (FEA-RP/USP) destaca também que, com a funcionalidade — que será implantada em etapas e seguindo protocolos de segurança e tecnologia —, o correntista do banco será o detentor das informações de suas movimentações. “Então, a partir do momento em que eu passo a ter o meu histórico de movimentação em um determinado banco, ele pode ser compartilhado com outros bancos, desde que eu, dono dos dados, permita”, acrescenta. Marcelo explica que o cliente poderá compartilhar seus dados para fazer operações bancárias, como empréstimos, por exemplo, em outras instituições além das em que já possui conta, optando, assim, por um banco com taxas menores sem precisar ter um relacionamento de correntista com essa instituição, já que seus dados e seu históricos serão compartilhados.

Segundo o BC, hoje, um banco não “enxerga” o relacionamento do cliente com outro, então, tem dificuldade de competir por ele com melhores serviços. Com acesso aos dados dos usuários, instituições participantes poderão fazer ofertas de produtos e serviços para clientes de seus concorrentes, com benefícios para o consumidor, que poderá obter tarifas mais baixas e condições mais vantajosas. As instituições participantes poderão oferecer soluções que facilitam às pessoas controlarem suas vidas financeiras. Quem, por exemplo, possui mais de uma conta bancária ou tem conta em um banco e empréstimo em outro, poderá ver todas as informações em um único local. Esse processo, segundo Eliseu, significará uma revolução no sistema de pagamentos, serviços financeiros e até mesmo na oferta de produtos e serviços recebidas no dia a dia. “A maior competição está associada a melhores serviços e produtos e menores custos”, pontua.

PASSOS DA MUDANÇA

Na primeira fase de implantação do Open Banking, que começou neste mês, o objetivo é interligar as instituições participantes. “As próximas fases passam para o compartilhamento das informações dos clientes com as devidas autorizações por parte destes. Em cada fase aumenta a profundidade da informação que poderá ser compartilhada. Começa com dados de cadastro, depois, histórico financeiro, até chegar a produtos de investimentos”, explica Eliseu.

Essa implementação do sistema é intermediada pelo Banco Central, que define regras, metodologias e tecnologias, mas é feita por parte dos bancos que vão se integrar e proporcionar, então, a automação desse compartilhamento no envio e no recebimento das informações dos correntistas. “É sempre bom frisar que esse compartilhamento de dados vai depender de autorização desse correntista. Então, essa é uma forma de garantir que o usuário do banco, o correntista, seja o dono das suas informações de movimentação, do seu histórico, de quais produtos bancários, quais serviços ele usou, quais pagamentos, recebeu e realizou e assim por diante”, ressalta.

Os especialistas explicam que essa tecnologia é relativamente recente em todo o mundo, por isso, o Brasil não está atrasado nessa implantação. A experiência mais avançada da plataforma é da Inglaterra, que possui o melhor funcionamento até agora. “O Open Banking foi implantado, nos últimos dois ou três anos, no Reino Unido e na Austrália. Outros países, como Estados Unidos, já estão estudando o sistema. É uma tecnologia que cada país vai definir com base na estrutura tecnológica dos seus bancos. Assim, como o Brasil já tem uma estrutura tecnológica de integração dos bancos muito avançada, ficará mais fácil para essa integração, por isso estamos entre os primeiros países que adotam o sistema”, explica Marcelo Botelho.

SEGURANÇA EM XEQUE

Entre os riscos da implantação do sistema, segundo Marcelo e Eliseu, está o vazamento de dados dos consumidores. “Dados esses que valem ouro. Entretanto houve um amadurecimento institucional com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que define quem é de fato responsável por um eventual vazamento das informações. Não é perfeita, mas é um passo importante”, destaca o economista e assessor de investimentos da BlueTrade.

a que o Brasil tem um histórico recente de vazamento de dados cadastrais e, a partir do momento em que um sistema será usado para enviar e receber informações bancárias, há risco de vazamento. “Claro que esse não é um perigo grande, eu diria que ele é um risco semelhante ao que já existe hoje com a própria instituição financeira onde você tem o seu histórico. Há a chance de você ter a sua conta invadida e esse histórico utilizado”, esclarece Marcelo, que destaca, ainda, que não existe possibilidade na movimentação financeira por parte desse sistema, pois ele só transfere informações de histórico.

Além da segurança, o professor destaca alguns desafios que o sistema do Open Banking enfrentará no Brasil. “Primeiro, é a conscientização das pessoas de que esse tipo de sistema é bom, que tende a gerar melhorias para todos no mercado de crédito e de empréstimos por parte dos bancos. Também, que trará benefício para o próprio usuário, cliente do banco, mas tende a ser um benefício para o mercado como um todo, com um eventual aumento da competição. No entanto, para que isso aconteça, será necessária a adesão por parte dos clientes quando forem procurar os bancos para fazer operações”, conclui.


 

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