
Dengue nas crianças
É recomendado que se proteja a cama com mosquiteiros, principalmente o berço dos bebês, e que se coloque telas protetoras nas portas e janelas; para maiores de seis meses, orienta-se usar repelentes
Durante o ano todo, o mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, reproduz-se, mas é durante o verão que ele se prolifera ainda mais, em consequência das chuvas e do calor. Existem quatro sorotipos diferentes do vírus da dengue: DENV 1, 2, 3 e 4. Quando alguém se infecta por um sorotipo, desenvolve imunidade permanente contra esse tipo de vírus e proteção de curta duração contra infecções pelos demais tipos de DENV. No ano de 2019, houve um aumento na circulação do vírus, com predominância do sorotipo 2.
O ciclo de transmissão inicia quando o mosquito pica um indivíduo infectado com o vírus da dengue durante a fase virêmica (quando o vírus está circulando no sangue do paciente). Essa fase da transmissão pode acontecer mesmo antes de o paciente apresentar sintomas da dengue. Uma vez picado pelo mosquito infectado com o vírus, a pessoa pode desenvolver a doença. A gravidade a é muito variável, podendo existir desde pacientes sem nenhum sintoma até formas graves, que, às vezes, evoluem para a morte.
Depois de quatro a sete dias da picada, iniciam-se os sintomas característicos da dengue: febre alta, dor de cabeça, dor nos músculos e nas articulações, dor atrás dos olhos, náuseas, vômitos e o rash maculopapular (vermelhidão pelo corpo). Na criança, a dengue pode se manifestar como uma síndrome febril viral, com sintomas gerais de desânimo, fraqueza, sonolência, falta de apetite e choro persistente. O início da doença pode passar despercebido, e o agravamento do quadro, é, em geral, mais rápido do que nos adultos, por volta do terceiro dia de evolução. Crianças e pacientes com doenças crônicas têm maior probabilidade de apresentar quadros graves.
Os sinais de alarme de evolução para formas graves incluem vômitos persistentes, dor abdominal intensa, sangramentos, dificuldade para respirar, acumulo de líquidos (nos pulmões, abdome ou coração), aumento do tamanho do fígado, sonolência ou irritabilidade, acompanhados de queda rápida das plaquetas e hemoconcentração. Nas crianças mais novas, esses sinais podem não ser tão evidentes. O médico deve orientar aos pais sobre os possíveis sinais de alarme, que, quando presentes, indicam agravamento da doença e necessidade de reavaliação médica imediata.
O diagnóstico laboratorial da dengue inclui a detecção do vírus (NS1), que deve ser solicitado no início da doença, ou a sorologia, a partir do sexto dia do início dos sintomas. O cuidado adequado com o paciente abrange o reconhecimento precoce dos sintomas e sinais de alarme, hidratação adequada, de acordo com a faixa etária, monitorização e reavaliação clínica frequente.
Responsável pela transmissão, a fêmea do mosquito age principalmente no período da manhã. Por isso, devemos nos atentar aos cuidados no combate aos criadouros do mosquito e à proteção individual. É recomendado que se proteja a cama das crianças com mosquiteiros, principalmente o berço dos bebês, e que se coloque telas protetoras nas portas e janelas. Para as crianças maiores de seis meses, orienta-se usar repelentes; os que contêm a substância icaridina são os mais indicados.
Dra. Rafaela Caroline Antunes
(CRM-SP 163.793)
Médica Pediatra com experiência no atendimento especializado de crianças e adolescentes em unidades de emergência, pronto atendimento e ambulatoriais