Desigualdade social

Desigualdade social

Abismo social será um dos principais desafios do prefeito eleito no próximo dia 28 de outubro

O vencedor da eleição em segundo turno em Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD) ou Duarte Nogueira (PSDB), terá um grande desafio pela frente: administrar um município com duas realidades antagônicas. De um lado, uma cidade rica, com o 30º maior Produto Interno Bruto do país, intitulada “Capital do Agronegócio”, que ostenta expressivos indicadores econômicos, entre eles, a numerosa frota de automóveis que, ano a ano, aproxima-se da média de um veículo por habitante. Na outra face sombria estão os bolsões de pobreza que se esparramam pela periferia, alimentando índices crescentes de violência. O assessor econômico do Instituto de Economia da Associação Comercial e Industrial (ACI), Vicente Golfeto, considera a distribuição de renda da cidade bastante concentrada e afirma que o melhor instrumento de distribuição da riqueza é a educação. “Se for oferecida uma educação de qualidade para as camadas mais pobres da população, em 20 anos, esses segmentos ascenderão socialmente”, recomenda o assessor.

Ganhadora do primeiro turno com 140 mil votos, a prefeita Dárcy Vera busca a reeleição. No primeiro turno, Dárcy obteve 46% dos votos válidos. Para consolidar a votação, no segundo turno, conseguiu o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT) do candidato 3º colocado, João Gandini, detentor de um patrimônio eleitoral de 45 mil votos. Além do apoio do petista, que fez críticas pesadas a sua administração no primeiro turno, a candidata do PSD conquistou o aval da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. As duas maiores estrelas do PT apareceram na propaganda eleitoral gratuita pedindo votos para candidata do PSD. “Dárcy Vera é a minha candidata em Ribeirão Preto”, declarou a presidente Dilma na propaganda gratuita. 

Depois de chegar ao segundo turno por uma margem estreita de votos, a campanha tucana ganhou novo fôlego. No primeiro turno, Duarte Nogueira recebeu os votos de 92 mil eleitores, o que corresponde a 30% dos votos válidos. Nas duas semanas de campanha do segundo turno, o candidato do PSDB apostou na igualdade de tempo na propaganda eleitoral gratuita. No primeiro turno, tinha 1/3 do tempo da coligação da prefeita. Na reta final da campanha, Nogueira teve o apoio do governador Geraldo Alckmin que apareceu na propaganda eleitoral gratuita.

As duas primeiras pesquisas eleitorais divulgadas pelo Ibope colocaram a candidatura da prefeita em vantagem. Na primeira, divulgada no dia 15 de outubro, Dárcy apareceu com 51% das intenções de voto, contra 35% de Duarte Nogueira. Brancos e nulos somaram 8% e os que não sabem, 6%. Na segunda pesquisa Ibope, divulgada no dia 22 de outubro, Dárcy manteve a dianteira com 53%, enquanto Nogueira ficou com 35%.

Números
Fonte: Ibope

Dárcy
Resultado1º turno = 46%
Pesquisa 15/10 = 51%
Pesquisa 22/10 = 53%

Nogueira
Resultado1º turno = 30%
Pesquisa 15/10 = 35%
Pesquisa 22/10 = 36%

Brancos/Nulos
Resultado1º turno = 9,9%
Pesquisa 15/10 = 8%
Pesquisa 22/10 = 8%

Não sabe
Resultado1º turno =
Pesquisa 15/10 = 10%
Pesquisa 22/10 = 9%

Abismo social
O candidato que somar mais votos no dia 28 de outubro administrará uma cidade com orçamento, projetado em R$ 1,9 bilhão para 2013, mas com limitada capacidade de investimento. Juntas, só as pastas da Saúde e da Educação consomem mais de 50% das verbas. “Os recursos para superar desigualdades existem, mas é preciso buscar eficiência, identificar onde há desperdício, fixar metas e prioridades, fazer com que os órgãos da Prefeitura tenham uma gestão técnica, com pessoas preparadas e ter bons projetos para buscar recursos dos governos estadual e federal”, explica o candidato do PSDB, Duarte Nogueira.

O prefeito eleito terá que resolver os problemas de 619.746 habitantes espalhados em mais de 200 bairros. Com essa população, estimada em 2012 pelo IBGE, Ribeirão Preto é o oitavo município mais populoso de São Paulo. O Produto Interno Bruto (PIB) está entre os 10 maiores do Estado. De acordo com o assessor econômico da ACI, o prefeito que realmente quiser reverter o processo de concentração de renda precisa direcionar  os recursos públicos para as regiões mais necessitadas da cidade. “O investimento público é o GPS do capital privado”, afirma Golfeto, acrescentando que o novo administrador deve priorizar as verbas para as zonas Norte e Oeste, que hoje possuem as maiores carências de equipamentos sociais.  

Outro desafio do novo chefe do Executivo será dotar o Município de projetos estratégicos de longo prazo para suportar o aumento vegetativo da população. Com taxa de crescimento de 1,2 ao ano, a cidade deverá alcançar a marca de um milhão de habitantes em 2050.  Além dos conhecidos problemas de saúde, transporte, trânsito e abastecimento de água, a desigualdade social provoca sérios problemas de moradia e de violência. Essas realidades tornaram-se mais evidentes a partir de 2000, quando surgiram os condomínios de luxo, os prédios suntuosos e uma forte expansão imobiliária na Zona Sul da cidade. Segundo o IBGE, Ribeirão Preto possui 4.500 pessoas com renda superior a 20 salários mínimos, ou RS 12.440,00.

Na virada do século, a Avenida João Fiusa simbolizou a prosperidade ribeirãopretana. A Zona Sul cresceu 48%, mas as favelas proliferaram no mesmo ritmo em outras áreas da cidade.  O historiador e presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), José Antonio Lages, adverte que o vencedor da eleição precisará vencer barreiras sociais gritantes. “Enquanto na Zona Sul há um nível de vida de primeiro mundo, nas 40 favelas as dificuldades são imensas. Lixo, coleta seletiva, água e transporte são problemas que também devem receber atenção especial do prefeito eleito”, reforça o historiador.

A moradia é outra questão crucial a ser resolvida pelo novo chefe do Executivo. Hoje, apesar das novas unidades habitacionais construídas, aproximadamente 25 mil pessoas moram em 40 núcleos de favelas. Desses, 30 estão instaladas sobre espaços verdes de lazer ou de preservação. “Nos últimos quatro anos, trabalhamos para resolver os problemas de Ribeirão Preto e acabar com o abismo social que há muitos anos separa os ricos da população menos favorecida. Na habitação, por exemplo, erradicamos 14 favelas para dar dignidade a mais de 10 mil pessoas que viviam nestes locais”, afirma a prefeita, Dárcy Vera. 

De acordo com pesquisa de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma população estimada em 70 mil pessoas vive mensalmente com menos de um salário mínimo (R$ 622,00).  Essa legião de excluídos, boa parte deles morando em favelas, convive com a falta de infraestrutura básica: saneamento e água potável. O IBGE ainda detectou um grupo social, calculado em 2.500 pessoas, que sobrevive com menos de R$ 200,00. 

Levantamento do Movimento Pró-Moradia e Cidadania aponta que três glebas disponíveis com 462 alqueires no município, com infraestrutura no entorno, são suficientes para abrigar mais de 20 mil famílias. Na faixa de zero a três salários mínimos, o déficit chega a 5.500 unidades. Nas demais faixas (de três a dez mínimos), a defasagem totaliza 15.000 moradias. Mais de 60 mil pessoas estão inscritas na Companhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto (Cohab-RP) para programas habitacionais.

Nos novos conjuntos habitacionais populares, distantes mais de 15 km do centro da cidade, os moradores enfrentam dificuldades para terem acesso ao atendimento de saúde, educação ou de lazer. Esse processo de ocupação e expansão sem adensamento aumenta o custo per capita de urbanização. Para o historiador, José Antonio Lages, o próximo prefeito deve priorizar as questões mais urgentes como o déficit habitacional, a qualidade dos serviços públicos, a instalação de creches, escolas e postos de saúde, “Há mais de dez anos isso ocorre em regiões, como a oeste, por exemplo, que registrou um grande crescimento habitacional sem estrutura social”, aponta Lages.

RIBEIRÃO PRETO EM NÚMEROS

População - 619.746
Média de crescimento anual da população - 10 mil pessoas
População em 2050 - 1 milhão de habitantes
Domicílios - 210.141
Residências próprias - 78%
População urbana - 99,7%
Mulheres - 52%
Homens - 48%
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - 6º mais alto de SP (0,855)
*A 8ª cidade mais populosa de São Paulo
PIB - 30º maior do País
Renda per capita - R$ 26 mil
Frota veículos - 431 mil
 
Violência
Ainda faltam dois meses para o final deste ano, mas 2012 já entrou para a história como o mais violento dos últimos nove anos. As ocorrências explodiram em plena campanha eleitoral do segundo turno. Até o domingo anterior à eleição, 68 pessoas foram mortas, um número de homicídios ou latrocínios (roubo seguido de morte) 30% maior do que no ano passado. Em 2011, foram registradas 52 mortes. Na tarde de 19 de outubro, a cidade viveu horas de pânico com a morte de cinco pessoas em uma hora e meia. Treze foram baleadas. O toque de recolher e a lei do silêncio imperaram em alguns bairros. Até a própria segurança dos policiais militares está ameaçada com a onda de atentados. O comando da PM reuniu os policiais para uma palestra sobre motivação e reforço da segurança pessoal.

O número de ocorrências contra o patrimônio também registra índices alarmantes. Em 2001, a cidade teve 1.225 furtos e roubos de veículos. Em 2011, o número saltou para 3.805, crescimento de 210%. Diariamente, 10 veículos são furtados ou roubados (mediante uso de violência ou ameaça) na cidade. Embora a segurança pública seja uma área de responsabilidade estadual e federal, os especialistas cobram do novo ocupante do Palácio Rio Branco uma articulação maior entre a Prefeitura, o Estado e a União.

Homicídios em Ribeirão
Fonte Secretaria de Segurança Pública – Outubro de 2012

2001 -176
2002 -140
2003 - 73
2004 - 56
2005 - 54
2006 - 44
2007 - 45
2008 - 36
2009 - 40
2010 - 43
2011 - 52
2012 - 69


Texto: Murilo Pinheiro e Rose Rubini

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