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Destino referência
Ribeirão Preto ainda carece de estudos e de investimentos para desenvolver a potencialidade do setor e consolidar essa posição
Que Ribeirão Preto possui um forte potencial para o turismo de negócios e eventos, não se discute. A cidade é considerada um dos principais polos de turismo de negócios do país, tendo sido apontada pelo Ministério do Turismo uma das quatro cidades do Estado de São Paulo, entre outras 64 localidades de todo o Brasil, que é indutora do desenvolvimento turístico regional. São mais de 8.000 leitos hoteleiros disponíveis, outros 1.000 em andamento e muitos fomentadores deste cenário: bares, restaurantes, cinemas, teatros, shoppings e grandes eventos, como Agrishow, Carnabeirão, Stock Car, Feira do Livro e João Rock, além de congressos e simpósios médicos e empresariais diversos.
Na gestão da prefeita de Ribeirão Preto Dárcy Vera, ficou definido que a Agrishow permanecerá na cidade por 40 anos e a Stock Car será realizada em Ribeirão Preto pelos próximos cinco anos. Com esses eventos de grande porte, a cidade ganhou uma visibilidade diferenciada em relação a outros municípios do país e se firma como uma possível subsede para a Copa do Mundo de 2014.
Apesar disso, faltam investimentos e pesquisas no segmento, além da compreensão da importância do setor por parte da própria população, pois o turismo pode contribuir para geração de emprego e de renda, qualificação profissional e qualidade de vida. Há uma cadeia de transporte, de alimentação e de entretenimento sustentada pelo turismo, um dos setores que mais emprega na área de serviços.
Até março de 2009, quando foi criada a Secretaria Municipal do Turismo, a cidade não possuía uma pasta para tratar dos interesses específicos do segmento. Desde então, a Secretaria sobrevive com menos de 1% do orçamento anual da Prefeitura para pagar custos operacionais e desenvolver o trabalho de divulgação da cidade na região, no país e no exterior, além de sustentar ações que promovam Ribeirão Preto dentro deste contexto de referência para o turismo de negócios e de eventos. “O Ministério do Turismo foi criado há 10 anos, tendo sido comandado por quatro ministros. Isso significa que o turismo encarado como negócio é um fato muito recente no país. Ribeirão Preto ter criado uma Secretaria para cuidar desse tema já é uma emonstração clara de avanço. Temos números impressionantes relacionados ao segmento: 9,6% do PIB mundial passa pelo turismo e, no Brasil, o turismo de negócios e eventos significa 80% desse total, embora se remeta muito à ideia de turismo associado à praia e às férias”, explica o secretário municipal da pasta, Tanielson Campos.
Para ele, Ribeirão Preto vivencia um momento importante no campo turístico, com a captação de novos eventos e de shows, além da perspectiva de se tornar subsede da Copa do Mundo de 2014. “Nos próximos dez anos, os maiores eventos esportivos mundiais vão ocorrer no Brasil, desde jogos militares, passando pela Copa, até as Olimpíadas. Essas são oportunidades únicas de divulgação da nossa cidade que não podem ser perdidas. Faltam aspectos de infraestrutura, como a questão do aeroporto, que na minha opinião se resolve melhorando o atual, enquanto se constrói um novo, mas também temos pontos positivos que precisam ser explorados. O turismo é uma área muito dinâmica e estará cada vez mais presente em Ribeirão Preto”, afirma Tanielson.
Uma consequência positiva da nova pasta foi a reativação do Conselho Municipal de Turismo (COMTURP) que, apesar de ter sido criado no ano 2000, atuou de forma pouco ativa em determinados períodos. “A criação da pasta renovou o ânimo do trade turístico de Ribeirão Preto, extremamente competente, mas que precisa de chance para demonstrar seu potencial. Temos que parar de apagar incêndios, como os da saída da Agrishow e da Passaredo da cidade, e criar um estrutura em que as pessoas possam ter confiança para investir e a certeza de que o trabalho vai ser feito”, opina o presidente do COMTURP e também coordenador do curso de Turismo da Universidade Barão de Mauá, Márcio César Esteves.
Ainda na avaliação de Márcio, a cidade padece da falta de mapeamento do setor, apesar de haver algumas iniciativas isoladas, como a pesquisa realizada durante a Stock Car, em 2010, que identificou alguns pontos importantes do segmento na cidade. Esse trabalho identificou o perfil dos visitantes do evento: a maior parte das pessoas que acompanharam a competição eram da região ribeirãopretana, visitantes que, portanto, não ocuparam a capacidade hoteleira do município durante o evento. “A ignorância é nosso mal maior. A falta de análise, de visão e de estudo é um defeito grave de Ribeirão Preto. O turismo envolve mais de 50 atividades e, dada essa abrangência, não se sabe o faturamento real do setor. Não é possível identificar quanto ele representa no PIB da cidade ou quantas empresas trabalham na área. Esses dados são absolutamente necessários para convencer empresas a se instalarem na cidade. Precisamos identificar quem são nossos clientes e do que eles necessitam para divulgarmos a cidade para o público certo”, explica Esteves.
A falta de entendimento de parcela significativa da população sobre os aspectos que envolvem o investimento em turismo é apontada como ponto crucial para a efetivação do processo cultural de inserção da cidade no contexto de referência em turismo de negócios e de eventos. Quem afirma isso é o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Ribeirão Preto e região (SHS), Carlos Frederico Marques, em consonância com o coordenador de projetos da Secretaria de Turismo de Ribeirão Preto e secretário executivo do Conselho Estadual de Turismo, Márcio Santiago.
“Imagine que na sua casa você tem que pagar aluguel, condomínio, etc, e, para isso, direciona parte da sua renda. Para o turismo vale a mesma regra. O governo federal tem recursos destinados para saúde, cultura, educação, turismo, etc. Essas verbas devem usadas para suas finalidades específicas. Então, não há razão para criticar o investimento público na realização da Stock Car, por exemplo, enquanto um posto de saúde precisa de melhoria ou uma rua, de pavimentação. Além disso, usando o recurso para promover um grande evento, que cria mídia espontânea nacional e internacional e que ainda repercute a favor da cidade por muito tempo, indiretamente, o munícipe está sendo beneficiado porque o turismo é um gerador de receita. Isso significa dinheiro entrando no caixa da Prefeitura para, aí sim, ser aplicado em outras áreas”, explica Santiago.
A realização de grandes eventos, como a Agrishow, o Carnabeirão, a Stock Car, a Feira do Livro e o João Rock, não gera receita apenas para o parque hoteleiro, mas movimenta toda a economia da cidade. “As pessoas viajam por um determinado motivo. É assim que o turismo se define, tanto do ponto de vista de quem faz atividade turística quanto sob o aspecto de quem presta serviço. Em Ribeirão Preto, a principal motivação são os negócios e os eventos”, enfatiza Márcio Esteves.
Na opinião dos representantes do setor, falta à cidade investimentos em qualificação profissional para atender a essa demanda. Receber bem para receber sempre é uma tarefa que exige atenção nos mínimos detalhes. O motorista de táxi, por exemplo, que tem o primeiro contato com o turista, precisa falar corretamente, de preferência outras línguas, oferecer um carro limpo e em perfeitas condições de uso, estar bem vestido e ser sempre educado e prestativo. Essa primeira boa impressão, segundo os especialistas, é significativa.
O entrave para isso, no entanto, são os custos que, na avaliação de Carlos Frederico Marques, precisam ser divididos entre o empresariado e o poder público, sendo diluídos, durante o ano, com uma agenda de grandes, médios e pequenos eventos que sustentem a cadeia turística e sem sazonalidade. “A qualificação profissional tem custo e nem sempre as empresas podem arcar com ele sozinhas. Para treinar chef de cozinha, por exemplo, não dá para ter uma sala com 30 pessoas e apenas uma peça de carne para todos aprenderem. Também não é possível investir em treinamento bilíngue apenas para um evento e depois ficar seis meses com esse funcionário ocioso dentro da empresa. Precisamos ter, pelo menos, dois eventos grandes, um em cada semestre do ano, para diluir o custo operacional e diminuir a diária nos períodos de alta temporada. Hoje, temos que cobrar caro na Agrishow, que dura 10 dias, para cobrir os outros 355 dias do ano”, explica o presidente do SHS.
Como se vê, os desafios para que Ribeirão Preto se consolide como indutora do desenvolvimento turístico regional são grandes e passam por diferentes áreas: administrativa, econômica, social, educacional e cultural. A cidade precisa melhorar o aeroporto e construir um centro de convenções que a coloque no circuito internacional de grandes eventos. Precisa da união do trade turístico e do apoio da população. Precisa de autoconhecimento para melhorar a receptividade e a divulgação. Para tudo isso, a semente está lançada. Há muito a ser feito porque a demanda é grande. “À medida que crescemos, ficamos mais exigentes. Isso é natural e acredito que estamos no caminho certo, estou otimista. A pergunta que precisamos nos fazer é: aonde queremos chegar? Na minha opinião, a cidade pode e deve querer mais e tem competência para isso”, conclui o coordenador de projetos, Márcio Santiago.
Para saber mais sobre o assunto, acompanhe AQUI os vídeos com o bate-papo dos entrevistados dessa matéria.
Texto: Yara Racy | Fotos: Ibraim Leão e divulgação