Diagnóstico precoce, prognóstico favorável

Diagnóstico precoce, prognóstico favorável

Quando identificado na fase inicial, o câncer de próstata possui, de acordo com o urologista Minoru Morihisa, até 90% de chances de cura

O 11º mês do ano vem se tornando símbolo da prevenção ao câncer de próstata. Isso acontece graças à campanha Novembro Azul, alinhada ao movimento mundial que surgiu na Austrália no início dos anos 2000. Abordar a importância dos exames preventivos à doença se torna ainda mais necessário ao considerar os índices relativos à doença: quando diagnosticado precocemente, o câncer de próstata apresenta mais de 90% de chances de cura. 

É o que explica o urologista Minoru Morihisa (CRM: 33.234). Formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, em 1978, veio para Ribeirão Preto no ano seguinte para a especialização em Cirurgia Geral e, na sequência, em Urologia. Depois de alguns anos acumulando o cargo de médico assistente do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e as atividades do consultório particular, passou a dedicar-se integralmente ao segundo. 

Eles são maioria no consultório — cerca de 70% —, que visitam, em boa parte, por sugestão das esposas. Desde meados dos anos 2000, a principal razão dessa visita é o acompanhamento da próstata. O seguimento da glândula é recomendado a partir dos 50 anos, mas alguns especialistas recomendam iniciar as consultas regulares aos 45 anos. 

A que o senhor atribuiria a mudança de comportamento que vem levando cada vez mais homens ao consultório do urologista?
Acredito que há dois grandes motores para essa mudança: as esposas e a mídia. Digamos que 50% das pessoas que procuram o consultório justificam sua visita pela insistência das mulheres. A outra metade é incentivada pelas campanhas ou por casos na família e vem se acostumando à necessidade de se submeter aos exames preventivos uma vez ao ano.

Segundo o oncologista, alguns casos podem ser submetidos ao que se chama de “vigilância ativa”

Ainda que tenha melhorado, diria que o preconceito ao exame preventivo persiste?
Creio que esta seja uma questão superada. O que existe, e não deixará de existir, é aquela parcela da população formada por pessoas teimosas, que não fazem consultas regulares e acreditam que não precisam de médicos. Essa postura é comum em todas as classes sociais e independe do grau de instrução.

Quais são os exames necessários para descartar a possibilidade de câncer de próstata?
Por meio de um exame de sangue simples, solicitamos a dosagem do PSA (da sigla para o termo em inglês Prostatic Specific Antigen), que indica se a quantidade do antígeno produzido pela próstata encontrada na corrente sanguínea está dentro daquilo que é esperado. Também se realiza o toque retal, capaz de identificar alguma anormalidade na glândula. Quando há alguma dúvida, outros exames podem ser solicitados. Ultrassom e ressonância magnética complementam o resultado e ajudam a esclarecer qualquer questão.

Diante de um diagnóstico positivo, quais são os principais temores desses homens?
O medo mais comum está associado ao temor em relação a qualquer câncer, independente do tipo ou do órgão acometido. O segundo temor comumente manifestado é o de encontrar metástases. Nesse sentido, vale ressaltar que os homens que realizam exames regulares da próstata raramente se deparam com quadros avançados da doença. Isso porque o câncer de próstata costuma se desenvolver lentamente e apresentar uma agressividade de pequena para média. Portanto, quando diagnosticada na fase inicial, a doença tem um excelente prognóstico e as chances de cura podem chegar a 90%. Há, sim, tumores mais agressivos, mas são raros. Diante dessa informação, fica mais fácil visitar o urologista, todos os anos, para os exames preventivos. 

No tratamento do câncer de próstata, a quimioterapia está entre os últimos recursos, já não curativa

Quando identificado no início, o problema é tratado de que forma?
Normalmente, os tumores em estadio inicial são resolvidos com cirurgia. Nesse procedimento, toda a próstata é retirada, o que nem sempre traz sequelas. Quando ocorrem, as consequências mais comuns são a incontinência urinária, em maior ou menor grau, e a impotência, com perda parcial ou perda total da ereção. Quando há perda parcial da função sexual, é possível resolver o problema com os medicamentos já disponíveis. Ainda que haja perda total da ereção, é possível contornar o problema com uma prótese peniana. Muitos relatos de pacientes, inclusive, comprovam que a vida sexual depois da cirurgia até melhorou. Em uma faixa etária em que a vida sexual já está em declínio por problemas de ereção, os recursos disponíveis atualmente permitem retomar a atividade.

Os homens lidam bem com essas soluções?
Assim como não é fácil para as mulheres que enfrentam interferências no próprio corpo — em especial, na mama — para curar um câncer, é complicado para os homens admitirem a retirada da próstata. No entanto, 100% dos pacientes optam pela cirurgia ou pela radioterapia diante de um tumor. As sequelas ficam para depois, como deve ser.

A incontinência urinária é bastante recorrente?
Diria que é raríssimo, hoje em dia, encontrar casos graves de incontinência urinária decorrentes do tratamento da próstata. Isso porque a Medicina reúne inúmeros recursos, cirúrgicos e não cirúrgicos, para lidar com o problema. Para corrigi-lo, podemos, inclusive, implantar um esfíncter artificial. Novos tratamentos surgem a todo momento e, por isso, é preciso estar em constante atualização. Todos os anos, participo, por exemplo, do Congresso organizado pela Associação Urológica Americana (AUA), onde o mundo inteiro se reúne. Diria que é o mais abrangente evento da especialidade.

Há sequelas temporárias?
Sim, diria que essas são as mais frequentes. Logo depois da operação de um câncer de próstata, o paciente permanece com a sonda por aproximadamente 10 dias. Logo depois da retirada desse suporte, é natural que haja perda de urina por alguns dias ou semanas. O mesmo pode acontecer em relação à ereção, uma dificuldade que vai cedendo e, com o passar dos dias, tende a desaparecer junto com o edema e o inchaço pós-cirúrgicos. Isso vai sendo recuperado com o tempo.

Interação com a família e os amigos é bastante frequente e saudável

Quando são necessários tratamentos complementares à cirurgia?
Provavelmente, se há necessidade de radioterapia, hormonioterapia ou quimioterapia, estamos tratando um caso mais avançado, com metástases. Possivelmente, este paciente foi operado, passou-se um período e, de repente, o problema reapareceu. Dependendo de como está o estadio da doença, a radioterapia é suficiente para combater, novamente, o tumor. Quando a radiação não é suficiente, a hormonioterapia e, por último, a quimioterapia, são as próximas alternativas. Se o caso é de câncer de próstata, provavelmente, esses recursos já não são mais curativos. São paliativos.

Ainda que não seja possível garantir a cura, dá para oferecer certa qualidade de vida ao paciente?
Por certo tempo, sim, mas as metástases costumam ser muito dolorosas. Justamente por isso, vale a pena reforçar que o diagnóstico precoce é a etapa mais importante para a cura do câncer de próstata.

O envelhecimento está, de fato, vinculado à probabilidade de desenvolvimento da doença?
Sim, tanto é que o câncer de próstata é, muitas vezes, chamado de câncer da terceira idade. Essas chances aumentam progressivamente, à medida que os anos avançam. Se a probabilidade de homens até 69 anos terem um câncer de próstata é de cerca de 20%, aos 80 anos, sobe para quase 40%. Acima dos 100 anos de vida, é possível afirmar que 100% dos homens terão câncer de próstata. A ciência já descobriu, também, que aproximadamente 20% dos homens que têm câncer de próstata não irão evoluir com a doença e, portanto, conviverão com o tumor pelo resto da vida sem nenhum problema. 

É possível identificar esses casos?
Sim, após o diagnóstico de câncer, há alguns critérios para o paciente ser selecionado para a vigilância ativa. O paciente então avaliado não será tratado clínica ou cirrurgicamente, mas será seguido clinicamente com exames laboratoriais e físicos a cada 90 dias. Havendo alterações importantes no exames, novas biópsias serão efetuadas. Muitas vezes, essa vigilância ativa é abortada e o paciente é, então, tratado cirurgicamente.

Como identificar as metástases de forma eficiente?
Temos atualmente bons marcadores que podem identifcar metástases a distância (PSMA) que, injetados na corrente sanguínea, aliados a tomografos computadorizados, fazem o diagnóstico.

Os homens demandam de acompanhamento psicológico depois de um tratamento de câncer de próstata?
Em princípio, o abalo emocional é comum a todos os pacientes atingidos por um câncer. Quando se observa casos relativos à próstata, esse impacto se repete, mesmo que os homens saibam que este tipo de câncer é frequente na faixa etária deles. Após a cirurgia, o fator emocional realmente tem um grande peso, mas o sentimento vai sendo amenizado à medida que o paciente retoma sua vida. Esses homens costumam dar a volta por cima muito bem. Acompanhando meus pacientes, diria que eles se recuperam rápido, com um abalo emocional bem pequeno perto da alegria de terem se livrado de um tumor.

Hábitos de vida ajudam a manter a vida com qualidade após a cirurgia?
Sem dúvida. Depois do tratamento, a vida deve seguir normalmente. Alimentação saudável e atividade física são práticas que, invariavelmente, contribuem para a qualidade de vida, por isso, são recomendadas a qualquer tempo. No período pós-tratamento, dependendo do perfil do paciente, pode ser interessante recorrer a um apoio psicológico especializado, mas diria que é raro encontrar pacientes que tenham lançado mão desse tipo de recurso. 

O apoio da família e dos amigos ajuda?
Devo dizer que ainda existe uma parcela de homens que prefere ocultar a doença, mas a maioria lida bem com o problema e comunica sua luta. Os amigos, inclusive, acabam me procurando para fazer a própria consulta e os exames preventivos. Essa interação é bastante frequente e saudável. 

Em geral, diria que os homens estão mais atentos aos cuidados com a saúde?
Diria que sim. Procuro orientar meus pacientes a procurarem, também, outros especialistas para verificar como está a saúde. Um cardiologista e um geriatra são boas dicas para quem deseja garantir uma vida longa e saudável. Ao fugir desses médicos, os pacientes, provavelmente, precisarão procurar muitos outros especialistas em um breve futuro. Esses check ups, se iniciados aos 45 anos, evitam o aparecimento de muitos problemas mais graves. 

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