
Dignidade dos animais
Vivissecção e experimentação animal serão discutidas em Ribeirão Preto
A chegada da elefanta Maison ao Bosque Zoológico Fábio Barreto desencadeou uma série de discussões e embates entre duas áreas da cidade. De um lado a prefeitura, que alojou a elefanta e construirá um espaço de 750 m² que custará em torno de 600 mil reais. Do outro lado, os ambientalistas e protetores dos animais, que afirmam que o bosque da cidade é inadequado para receber e manter animais de grande porte e defendem a ideia da criação de um Santuário Animal para substituir o bosque.
A assessoria de imprensa da prefeitura afirmou que o tamanho do recinto que será destinado à elefanta está dentro dos padrões exigidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Não devemos entrar no mérito dessa discussão. O projeto segue as especificações do Ibama”, afirma.
Segundo o biólogo e mestre em Avaliação Ambiental Estratégica Gabriel Clemente, os zoológicos são lugares de diversão para as pessoas e não para os animais. Na opinião do profissional, um santuário animal seria uma opção para estabelecer uma relação homem-natureza. “O zoológico tenta recriar um ambiente artificial para lembrar o habitat da espécie. No santuário, o local a ser escolhido tende a ser o habitat natural, ou muito próximo disso, com ampla liberdade, autonomia e dignidade para as espécies residentes. Esta diferença é fundamental. Basicamente é uma forma de oferecer qualidade de vida aos animais, e melhor: educar as pessoas”, explica.
Ainda na visão do biólogo, o bosque zoológico Fábio Barreto é um espaço onde as pessoas podem conhecer diversos animais, no entanto espaços como esses não desempenham outras funções senão a de exposição, e não promovem a conservação das espécies com bem-estar e dignidade. “A taxa de reprodução das espécies em zoológicos é muito baixa”, analisa.
Santuário animal
Ribeirão Preto possui uma paisagem do meio rural fragmentada, com matas de cerrado e floresta semidecidual que comportam uma grande quantidade de fauna, como lobos-guará, tamanduás, veados, entre outros. A fragmentação faz com que os animais se desloquem para os canaviais e beiras de estrada, tornando-se assim vulneráveis às queimadas e a morte por atropelamento. Segundo o biólogo Gabriel Clemente, esse seria um dos motivos da necessidade da construção de um santuário animal e também um centro de triagem e reabilitação de animais silvestres.
“Quando um animal é capturado nestas situações, é solto sem nenhuma previsão, acompanhamento e monitoramento da existência de outros da espécie por perto e de como está sua saúde. Na falta de uma estrutura para endereçar estas questões, quem faz isso é a polícia ambiental ou os bombeiros, que não têm uma análise mais aprofundada com a fauna na região, situação que seria resolvida com o estabelecimento do centro de reabilitação e triagem. Este é um mecanismo para dar suporte à biodiversidade da fauna nativa, gerido pelo Ibama, e que não existe na região de Ribeirão Preto”, aponta.
A assessoria de imprensa da prefeitura expressou que cada cidadão tem uma opinião com relação a cada fato, mas que em Ribeirão Preto, o Bosque Zoológico Fábio Barreto é uma realidade.
Vivissecção
No dia 28 de abril, Gabriel Clemente se reunirá com mais 30 pessoas para um pic-nic no mirante da USP a partir das 16 horas. A manifestação é mundial e aborda temas que são contrários à vivissecção e experimentação animal. No Brasil, é o segundo ano que a manifestação acontece e atualmente, cerca de 50 cidades já participam. A ideia do movimento é sensibilizar as pessoas e causar uma reflexão sobre alternativas que possam se materializar em mudanças. “Procuraremos chegar a respostas para perguntas como: qual o limite do tolerável? Existem procedimentos e protocolos científicos que podem ser revistos para diminuir a mortalidade das cobaias?”, pergunta Clemente.
E o biólogo completa, “com certeza a elefanta Maison foi um disparador para suscitar numa série de questionamentos”, diz. Vivisecção é o termo usado para especificar o uso de animais vivos em experiências ciêntíficas, geralmente sem recorrer a qualquer tipo de anestesia. “A maior parte das instituições de pesquisas fazem uso de cobaias para seus experimentos, aulas práticas, etc.”, alerta.
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Texto: Bruno Silva
Fotos: Divulgação