Dimenstein na Feira
O jornalista e escritor Gilberto Dimenstein participou da Feira do Livro, compartilhando com o público suas experiências na área da Comunicação e Educaçao
Jornalista e escritor, colunista da Folha de S.Paulo e da rádio CBN, Gilberto Dimenstein participou na data de ontem, dia 12, de uma conferência no Theatro Pedro II, dentro da programação da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, onde compartilhou com o público suas experiências e opiniões acerca do poder da Comunicação.
Iniciando a conversa em tom ameno, brincando com os presentes sobre estarem ali no Dia dos Namorados, o jornalista afirmou que o namoro mais duradouro de sua vida é o que tem com a Comunicação. “A vida me levou a ter um encanto pelo ato de comunicar, como forma de enriquecer as relações humanas, assim, transformei a minha missão em meu prazer e meu prazer em minha missão”, disse.
Para entrar no tema de sua experiência com comunidades de aprendizagem, Dimenstein contou que embora tenha despontado profissionalmente e escrito muitos livros, sua relação com a escola nunca foi das melhores, que sempre gostou mais das formas de aprendizagem oferecidas ‘na rua’. “Sempre vivi a rua. Meu primeiro emprego foi de office boy, depois virei boêmio e dai para ser jornalista foi um passo”, brincou.
A reflexão íntima de sua própria história, levou o jornalista a percepção de que, embora sua relação com a escola não fosse boa, seu encanto pela aprendizagem nunca se perdeu. Surgiu, assim, a ideia da inter-relação entre Comunicação e Cidades.
“A maior rede social que existe no mundo é a cidade. O processo de aprendizagem do indivíduo passa não só pela escola ou pela família, mas também pela comunidade, pela cidade onde está inserido. E cidade sem diversidade não tem inovação”, argumentou.
Dimenstein apresentou, então, em slides, para o público algumas iniciativas inovadoras, realizadas na Vila Madalena, em São Paulo, que promoveram a transformação de um cemitério e de um beco dominado pela marginalidade, em exemplos de ferramentas educacionais, através da arte reproduzida em seus muros.
Nesse novo modelo de Educação, proposto pelo jornalista, a Comunicação assume sua essência em plenitude — como uma forma de ligar pontos — em benefício da real aprendizagem, que Dimenstein afirma não estar na ‘decoreba de elementos da Tabela Periódica’. “Quando a gente fala em Educação, estamos falando em possuir asas”, garante.
Foi dessa forma que Dimenstein conseguiu responder a pergunta: “Como transformar o entorno de uma escola que o governo decidiu fechar?”, e criar um dos melhores ‘cases’ de sucesso do país, em termos de Educação, colocando uma unidade de ensino fadada ao fechamento, em 2007, entre as 10 melhores do estado.
“A escola fica na rua Jericó e para recuperá-la, assim como na citação bíblica, ‘derrubamos seus muros’. Simplesmente ‘ligamos os pontos’, buscando apoio de outras escolas, entidades, empresas e Ongs ao redor dela e trazendo essa comunidade, que estava distanciada da escola, para dentro dela, para participar ativamente, dando aulas, oficinas e promovendo atividades diferenciadas, contribuindo com o processo de aprendizagem da escola. Tem tanta coisa em volta das escolas que as pessoas não sabem. Simplesmente montamos uma rede para reencantar a escola e os alunos”, explicou Dimenstein.
Catraca Livre
Dessa iniciativa de ‘ligar os pontos’, comunicando uma necessidade e promovendo interação e mudança, nasceu outra ideia: a de utilizar a internet como ferramenta de comunicação para promover uma maior ‘interligação de pontos’.
Assim surgiu o Catraca Livre, um site com a finalidade de reunir em um único lugar, para facilitar a comunicação, tudo o que a cidade de São Paulo oferece em termos de cultura, lazer e serviços gratuitamente.
“O site surgiu de um bate-papo com meus filhos. Nasceu da necessidade de responder a outra pergunta: “O que posso fazer hoje, em qualquer lugar, e com pouco dinheiro? E só usando a comunicação. Hoje trata-se de um projeto coletivo, feito num barracão da Vila Madalena, por uma molecada, que é enorme sucesso. Está para receber um prêmio da Universidade de Harvard, sendo apontado como a mais importante experiência do mundo em comunicação”, contou o jornalista.
Finalizando a conferência, antes da abertura para perguntas do público, Dimenstein narrou rapidamente o episódio em que o filho de jardineiro, Alexander Fleming, salvou do afogamento, aos 8 anos de idade, Winston Churchill (que viria a ser primeiro-ministro do Reino Unido) e, pelo feito, teve seu estudo garantido nas melhores escolas. Isso possibilitou-lhe torna-se médico e pesquisador, descobridor da penicilina, e salvar, pela segunda vez, a vida de Winston Churchill, que desenganado pelos médicos por uma pneumonia, foi o primeiro ser humano a receber uma injeção de penicilina. “A gente não está aqui hoje [na Feira] só discutindo livros, mas como cada um, do seu jeito, tem a chance de inventar a penicilina”, concluiu.
Vida e obra
Filho de uma tradicional família judaica de Marrocos, que mudou-se para o Brasil e instalou-se na Vila Mariana, em São Paulo, o colunista da Folha de S.Paulo e da rádio CBN, Gilberto Dimenstein, é formado em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero.
Já foi diretor da Folha de S. Paulo na sucursal de Brasília e correspondente internacional em Nova Iorque daquele periódico. Trabalhou também no Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora, revista Visão e Veja. Foi acadêmico visitante do programa de direitos humanos da Universidade de Columbia, em Nova Iorque.
Por suas reportagens sobre temas sociais e suas experiências em projetos educacionais, Gilberto Dimenstein foi apontado pela revista Época em 2007 como umas das cem figuras mais influentes do país.
Ganhou o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, o Prêmio Criança e Paz, da Unicef, Menção Honrosa do Prêmio Maria Moors Cabot, da Faculdade de Jornalismo de Columbia, em Nova York, e os prêmios Esso (categoria principal) e Jabuti, em 1993, de melhor livro de não-ficção, com a obra "Cidadão de Papel".
Foi um dos criadores da ANDI - Comunicação e Direitos, uma organização não-governamental que tem como objetivo utilizar a mídia em favor de ações sociais. Em 2009, um documento preparado na Escola de Administração de Harvard, apontou-o como um dos exemplos de inovação comunitária, por seu projeto de bairro-escola, desenvolvido inicialmente em São Paulo, através do Projeto Aprendiz. O projeto foi replicado através do mundo via Unicef e Unesco.
O senador Cristovam Buarque, que criou a Bolsa-escola quando era governador do Distrito Federal, revelou, em livro intitulado "A força de uma ideia", de Carlos Henrique Araújo e Marcelo Aguiar, que Dimenstein é um dos inspiradores desse programa.
Livros publicados
Meninas da Noite
A guerra dos meninos
O cidadão de papel
A democracia em pedaços
O aprendiz do futuro
As armadilhas do poder - Bastidores da imprensa
A história real
As aventuras da reportagem
O mistério das bolas de gude
Meninas da Noite
10 lições de Filosofia para um Brasil Cidadão
10 lições de Sociologia para um Brasil Cidadão
Revide On-line
Texto: Yara Racy
Fotos: Sté Frateschi