Diplomata ribeirãopretano

Diplomata ribeirãopretano

Atual embaixador na Itália, Renato Mosca de Souza é natural de Ribeirão Preto e mantém laços de afeto com a cidade

Diplomata empossado em 1991, Renato Mosca de Souza é bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores. Seu avô, italiano, instalou-se na cidade no fim do século XIX, a mulher, Luciana, tem família também ligada à cidade. “Nossas mães e irmãos vivem na cidade, que é uma referência constante para nós e para nosso filho, Eduardo, nascido em Ribeirão Preto. Em férias gostamos de voltar às origens, visitar parentes e amigos e rever os locais que fizeram parte de nossa infância e juventude”, conta o atual embaixador do Brasil na Itália. Nesta entrevista, ele fala um pouco da trajetória e dos desafios da profissão.
 

Como foi o início da sua carreira?  

 

Meu pai teve um amigo diplomata e fiquei fascinado com suas histórias, de lugares inimagináveis para uma criança do interior. Percebi que aquele caminho profissional me agradava, mas parecia um sonho distante, inatingível. Fiz uma viagem a Brasília, levado por um tio, e decidi estudar na capital, estar mais próximo para me preparar para a carreira diplomática. Em 1991 fui empossado no Serviço Exterior Brasileiro como diplomata, no cargo de terceiro secretário.

 

Quais funções desempenhou na carreira diplomática?

 

 Nesses 32 anos na condição de diplomata, cumpri missões diplomáticas em Washington, México, Roma, Caracas, Liubliana, Vancouver e, agora, novamente Roma. Na primeira estada na cidade eterna, exerci a função de vice-representante do Brasil junto à FAO - agência das Nações Unidas sediada em Roma -, e agora sou o chefe da embaixada bilateral junto ao governo italiano. Servi duas vezes no cerimonial do Ministério das Relações Exteriores e fui subchefe do cerimonial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chefe do cerimonial da presidente Dilma Rousseff. 

 

Destas vivências, quais destaca e por quê?  

 

Todas as experiências têm sido enriquecedoras, desafiadoras e de grande responsabilidade. Em 2021, fui nomeado cônsul-geral em Vancouver, não tinha nenhuma experiência prévia em prestação de serviços consulares até então. Washington foi um posto de grande aprendizagem, meu primeiro posto no exterior, um choque de realidade em política externa. No México, como chefe do setor Cultural, aprendi a ter orgulho de ser latino-americano e percebi a importância da diplomacia cultural. Caracas foi uma breve missão. Meu primeiro posto como embaixador, entre 2017 e 2021, foi a Eslovênia, país de que guardo as mais afetuosas memórias. Foi um momento especial da minha vida pessoal e profissional.

 

Quais os principais desafios como embaixador do Brasil na Itália?

 

Assumir a embaixada do Brasil em Roma é uma honra e um grande desafio. Nossas relações bilaterais são tradicionais, nossos laços, históricos. O nível de comércio é expressivo, porém não suficiente. Nossa cooperação acadêmica, cultural, científica e tecnológica tem sido ativa, mas com muito espaço para crescimento. Costumo reiterar que todos esses setores são fundamentais no relacionamento entre os países, mas estou convencido de que a associação investimento-comércio é a força motriz que impacta positivamente a vida do povo, aumenta a oferta de trabalho, melhora a qualidade de vida. No meu entender, trabalhar para aproximar empresários de ambos os países, fomentar negócios, difundir os produtos brasileiros no exterior e atrair investimentos, especialmente em logística, energias renováveis e infraestrutura, são tarefas essenciais para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. 

 

E as conquistas?

 

Temos aproveitado as comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Brasil e a coincidência em 2024 das presidências brasileira do G20 e italiana do G7 para um relançamento da relação bilateral, sem pretender reinventar a roda. Reativamos o Mecanismo de Consultas Políticas Brasil-Itália, depois de seis anos de inatividade e estamos acertando os pormenores para retomar, igualmente em letargia desde 2015, o Conselho de Cooperação Econômica, Industrial, Financeira e para o Desenvolvimento. Tem sido, ademais, intensa a movimentação de visitas oficiais ao Brasil e à Itália de autoridades e técnicos envolvidos na preparação das cúpulas do G20 no Rio de Janeiro e do G7 na Puglia. 

 


Percebe-se um movimento maior de busca pela cidadania italiana entre os brasileiros?

 

Os dados confirmam que há uma demanda constante ao longos dos anos, que pode se ver aumentada quando surgem informações, como recentemente, de que o governo italiano poderia rever ou aumentar as exigências para a obtenção da nacionalidade. Muitos especialistas que consultamos insistem no entendimento de que não há como negar esse direito aos comprovadamente ‘oriundi’ em todo o mundo. Vivem hoje na Itália cerca de 150 mil brasileiros, nem todos ainda cidadãos italianos, mas certamente todos, ou quase todos, em processo de solicitação de reconhecimento. Hoje, são 35 milhões de descendentes de italianos no Brasil e muitas famílias requerem a cidadania italiana pela facilidade que seus filhos possam ter no futuro para estudar e trabalhar na Itália e países da União Europeia.

 

A embaixada tem participação na tentativa de fechar um acordo entre o Mercosul e a União Europeia?

 

Todos diplomatas se mobilizam na tarefa de mostrar a relevância e oportunidade do Acordo Birregional de Associação Mercosul-União Europeia. Sabemos que ambas as regiões hospedam dinâmicos setores produtivos e vastos mercados consumidores, são em geral economias complementares, os países todos têm muito a ganhar com intercâmbio de bens, serviços e tecnologias. Exportar produtos brasileiros é sempre uma prioridade, mas importar equipamentos europeus também tem grande valia na modernização do nosso parque industrial. As restrições não tarifárias, que muitos países europeus adotam para obstar nossos produtos, não podem ser aceitas. É um labor constante de negociação. Disso se encarrega a missão do Brasil junto à União Europeia, em Bruxelas.

 

Existe algum plano para atrair turistas italianos para o Brasil?


É inacreditável que o Brasil receba pouco mais de seis milhões de turistas estrangeiros por ano. Virar este jogo é motivo de esforço constante. Em setembro passado, hospedamos, em parceria com a Embratur, um evento turístico em Roma onde tivemos muita repercussão. Não é simples, a competição internacional é forte, são muitos destinos atraentes. Os italianos, por exemplo, escolheram 2024 como ano do “turismo delle radici” (turismo de raízes) para incentivar brasileiros a conhecer locais de origem de seus antepassados. 
 

O que espera deixar como legado em sua passagem por Roma?

 

Além de fortalecer uma relação política bilateral aberta, franca e respeitosa, intensificar o intercâmbio comercial e os investimentos no Brasil, também espero entregar a sede da Embaixada brasileira — o Palazzo Pamphilj —, reformada em todo seu esplendor, e expor em Roma, pela primeira vez, os painéis “Guerra e Paz”, do artista ítalo-brasileiro Candido Portinari, oferecido pelo Brasil à Organização das Nações Unidas e expostos na sua sede, em Nova York. Será uma iniciativa histórica sem precedentes na Itália. 

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