Educação atraente para os jovens

Educação atraente para os jovens

Professor de Literatura explica que estudantes precisam de aulas mais dinâmicas e devem despertar independência intelectual para absorver conteúdos válidos na internet

De uma forma diferente e descontraída, o professor de Literatura Fernando Marcato Petean, conhecido como Fefo, de 48 anos, conquista a atenção e o carinho de seus alunos. Docente do Colégio FAAP de Ribeirão Preto, ele é popular entre os estudantes por chegar de moto no trabalho, por encarnar poetas e personagens para as turmas e por empregar elementos teatrais e musicais para deixar as aulas mais dinâmicas. Mestre em Teoria Literária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele conta que procura incutir o interesse, a curiosidade, a paixão pela literatura nos alunos usando muita teatralização e empregando grandes autores, como Shakespeare e Dante Alighieri. Em entrevista para a Revide, Petean explica por qual motivo escolheu ser professor, por que é necessário inserir a tecnologia em sala de aula e a importância da Literatura na educação.

 

Nesses tempos em que os jovens são mais ligados às redes sociais, como você faz para conquistar a atenção e o carinho dos alunos em sala de aula?

 

Procuro fazer uma aula dinâmica, empregando elementos do teatro e da música.   Enceno trechos de livros, encarno poetas e personagens, trago Augusto dos Anjos de sua tumba e o apresento para os alunos, dou vida a Bentinho com suas eternas dúvidas sobre Capitu, revivo as inquietações de Hamlet ao ver o crânio do bobo da corte que o carregou nas costas. O palco sempre será um elemento de fascinação para o ser humano. Mas é preciso saber surfar a onda da tecnologia e a empregarmos em nosso favor. A educação do futuro precisa fazer uso das ferramentas que o mundo digital fornece ou estará fadada ao fracasso. Tenho orgulho de estar em uma instituição que sabe aliar os recursos humanos aos tecnológicos de maneira sábia e equilibrada.

 

Existem muitos influenciadores digitais que ensinam de tudo em seus canais na internet, inclusive sobre as disciplinas escolares, mas nem sempre eles têm conhecimento e embasamento teórico para isso. Como ser um bom contraponto a esses conteúdos na escola?

 

Com efeito, a internet possibilitou que muitas vozes se expressassem, dando vida aos influencers, os quais possuem um alcance muito maior do que um professor em uma sala de aula. Há influencers bem embasados, assim como há gente despreparada. O que procuramos fazer é despertar o senso crítico no aluno, sua autonomia e independência intelectual para que possa absorver conteúdos válidos nas redes. É fundamental que os alunos saibam e se deem conta cada vez mais de que, na era da pós-verdade, em que um discurso vale mais pela sua aparência do que pela sua essência, ter uma referência confiável é condição sine qua non para navegar em meio a tantas informações e opiniões, fatos e ficções. E os professores devem ser essa referência. Infelizmente, no Brasil, é uma classe em grande parte desprestigiada.

Qual o papel da Literatura na educação?

 

A Literatura, ainda que tenha uma natureza fictícia, que trabalhe com a imaginação e com mundos simulados, é uma das artes que mais consegue atingir e revelar a realidade humana. Quem lê passa a compreender melhor o outro, a desenvolver a empatia ou a teoria da mente, como dizem os psicólogos. Seja com a poesia, com o teatro ou com a narrativa (os três gêneros ou manifestações da Literatura),  é possível aprimorar as interações sociais e a percepção desse mistério insondável que é a existência. Além disso, praticar a leitura é um caminho sólido para aquisição de conhecimento e de experiências das várias gerações passadas. Conhecer os grandes personagens da Literatura é viver outras vidas, é ampliar nosso horizonte intelectual.   E é lastimável como a leitura não é incentivada em nosso país. Lemos pouco e mal. E se não sabemos ler e interpretar, seremos facilmente enganados ou ludibriados. Afogaremos no oceano líquido de Zygmunt Bauman.


Como atrair a atenção dos alunos do Ensino Médio para a leitura?

 

Quais os autores que se destacam entre esses jovens atualmente? A leitura deve ser algo prazeroso. Acredito que antes de se dedicar a autores mais complexos, um aluno deve adquirir o hábito de ler a partir de assuntos que lhe sejam  mais próximos, que lhe sejam essenciais. Assim é que narrativas românticas, de mistério, envolvendo mundos imaginários ou fantasiosos são sempre muito escolhidas pelas gerações atuais, como foram no passado. E há uma vasta gama de autores contemporâneos que trabalham esses assuntos. A linguagem não pode ser um empecilho a tais alunos e, por essa razão, é  sempre interessante adaptar os clássicos para as idades mais juvenis. Em um mundo em que os videogames oferecem tais mundos com um visual e uma definição gráfica impecáveis, confesso, no entanto, que a leitura perdeu muito do seu espaço. Felizmente, muitos estão aderindo aos livros digitais, que oferecem recursos de pesquisa e uma experiência de leitura satisfatória.

 

Na sua opinião, quais os livros mais importantes que um aluno de Ensino Médio precisa ler e por quê?

 

Um aluno precisa conhecer os bons autores de sua época, bem como os grandes autores do passado. A Literatura brasileira e a mundial são tão ricas em obras importantes, que citar alguns livros seria uma injustiça. Mas entendo essencial conhecer alguma obra de Shakespeare, como “Hamlet”, a prosa renovadora de Guimarães Rosa (o ideal é começar por “Primeiras Estórias” ou “Campo Geral”), o discurso desconcertante de Clarice Lispector (“A Hora da Estrela”), a sintaxe disciplinada de Graciliano Ramos (“Angústia”),  o enigmático Machado de Assis (“Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”), bem como a poesia de Drummond,  Manuel Bandeira e  Fernando Pessoa.

 

 

Por que você escolheu ser professor e o que te motiva na profissão todos os dias?

 

Muitas profissões são belas, necessárias ou simplesmente úteis. Mas poucas apresentam a grandiosidade, a nobreza, a abnegação e o carinho que sai dos gestos e da voz de um professor, de uma professora. Desde a educação básica, em que aprendemos a ler e escrever, até a faculdade, em que a discussão se aprofunda e se adensa, ocorre essa magia de dividir o conhecimento, a experiência e o aprendizado.    E, a meu ver, mais do que simplesmente compartilhar um dado conhecimento, mostrar aos alunos nosso entusiasmo, nossa paixão pelas ciências, pelos números e pelas artes, para que possamos ter uma existência que valha a pena e que, como disse o poeta citado em minha resposta anterior, só valerá se a alma não for pequena.  Torná-la grande é parte de nossa missão. 

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