Estreitando relações

Estreitando relações

Martina Hackelberg, cônsul-geral da Alemanha no Estado de São Paulo, visitou Ribeirão Preto para estreitar as relações diplomáticas com a região

Desde agosto de 2022, Martina Hackelberg ocupa o cargo de cônsul-geral da Alemanha no Estado de São Paulo. Ela foi a primeira mulher a exercer o cargo em mais de 150 anos de representação diplomática alemã na capital. O primeiro contato profissional com o Brasil ocorreu entre 2011 e 2014, quando foi adida de Cultura e Imprensa na Embaixada da Alemanha em Brasília. Nesse período, aprendeu o português e também se acostumou com o hábito tipicamente brasileiro de chamar até autoridades pelo primeiro nome. De passagem por Ribeirão Preto, a cônsul-geral destacou as potencialidades econômicas, culturais e científicas da cidade. Martina participou de reuniões com empresários, acadêmicos e autoridades políticas do município.

 

Qual foi o motivo da sua visita a Ribeirão Preto? A minha tarefa como cônsul-geral é ampliar e intensificar as relações bilaterais entre Brasil e Alemanha, seja no campo econômico, científico e cultural. E acredito que, para cumprir essa tarefa, é necessário sair do escritório em São Paulo e conhecer os lugares importantes, as instituições e, sobretudo, fazer contatos pessoais. Ribeirão Preto, obviamente, é uma cidade interessante, com muitos laços culturais com a Alemanha. É, inclusive, a sede de muitas empresas alemãs. Também faço questão de visitar os cônsules honorários em cada cidade, no caso de Ribeirão Preto, temos o Daniel Gonçalves, que faz um trabalho importante por aqui.

 

 

Como esses laços entre Brasil e Alemanha podem contribuir para o desenvolvimento econômico da região? Temos, na região, empresas alemãs de longa data, como a Volksvagem e a Faber Castell, além da grande importância da agricultura. Estamos, agora, em um momento de transformação, com novas tecnologias e novos ramos da indústria. A Alemanha e o Brasil têm um interesse em comum, que é a transformação verde e justa. Acredito que, na Alemanha, nós temos tecnologia de ponta e, aqui no Brasil, tem uma matriz energética muito limpa. Então, são qualidades e interesses que convergem. O Estado de São Paulo é o maior apoio industrial fora da Alemanha. A Câmara de Comércio em São Paulo é uma das maiores que nós temos no mundo, quase todas as grandes empresas mundiais estão aqui. É um mercado muito abrangente. Temos um foco grande na indústria automobilística, além de máquinas equipamentos.

 

 

E como estão lidando com questões voltadas à sustentabilidade, principalmente no agronegócio? É um ponto fundamental da minha visita aqui. Estamos unidos em avançar com as medidas para lutar contra as mudanças climáticas e para proteger a biodiversidade. É um interesse comum entre Alemanha e Brasil.

 

 

No Estado de São Paulo e, em especial, em Ribeirão Preto, temos universidades que são referência, como, por exemplo, a USP. Existem parcerias com universidades alemãs? De que forma essa troca pode ajudar o desenvolvimento científico local? Existem múltiplas parcerias da USP com universidades na Alemanha, do Direito à Medicina. Fiquei muito feliz de ver que tem uma parceria com a faculdade na qual eu me formei, a Universidade de Passau, na área de Direito. Uma coisa importante, também, é oferecer possibilidades de aprender a língua. Hoje, na Alemanha, já existem muitas possibilidades de se estudar em inglês, mas, saber o idioma local ajuda o intercambista. Em São Paulo, temos uma instituição que se chama Deutschen Wissenschafts-und Innovationshauses São Paulo (Centro Alemão de Ciência e Inovação de São Paulo - DWIH). Eles são muito ativos e contribuem para a realização de novas parcerias e a conexão de instituições que têm o interesse em se internacionalizar. 

 

 

Qual foi a sua impressão sobre a cultural local e de que maneira o consulado pode contribuir com isso? Primeiramente, eu fiquei muito impressionada de ver esses laços tão presentes na cidade. Eu visitei o Quarteirão Paulista, vi esses prédios, conheci mais sobre figuras alemãs, como o senhor Diederichsen, pessoas que deixaram um legado muito visível em Ribeirão Preto. Visitamos, também, o Pinguim. Eu já aprendi que lá tem a melhor cerveja do Brasil. 

 


Então, como uma alemã, você aprova o nosso chope? Sim [risos]. Nós também tivemos conversas com representantes da organização da Feira do Livro, além de visitarmos a Orquestra Sinfônica. Então, eu sei que essa cidade tem uma vida cultural muito ativa. Pensamos em intensificar esses laços culturais focados no aniversário que vamos festejar ano que vem, dos 200 anos da imigração alemã no Brasil, o que pode ser mais uma oportunidade para fazermos eventos culturais.


    
A senhora é a primeira mulher na história a ocupar o cargo de cônsul-geral da Alemanha em São Paulo. Como avalia a importância dessa conquista? É uma grande alegria de poder ser a primeira mulher nesse cargo. A nossa ministra das relações exteriores [Annalena Baerbock] publicou recentemente novas diretrizes para intensificar nossas políticas dirigidas aos direitos das mulheres. Sinto que, como mulher, posso representar muito bem essa política. Faço questão de me encontrar com mulheres importantes para onde vou. Aqui em Ribeirão Preto, tivemos um jantar com mulheres fortes da cidade. Sinto que a participação da mulher em cargos de liderança está crescendo cada vez mais no Brasil.

 

 

Em 2021, a Alemanha elegeu Olaf Scholz como novo chanceler e o Brasil elegeu, em 2022, Lula como presidente. De que maneira essa mudança no cenário político impacta a relação entre os dois países? Há uma nova dinâmica, uma reativação das relações muito boa. Logo nos primeiros três meses do novo governo brasileiro, tivemos a visita de políticos de alto nível, o nosso chanceler [Olaf Scholz], além de quatro ministros. Acredito que, com isso, se abra uma janela de oportunidades e estamos nos preparando para uma visita do governo brasileiro à Alemanha no segundo semestre. 


Foto: Luan Porto

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