
Fenômeno de olhos puxados
Original da Coreia do Sul, gênero musical K-Pop ganha força em Ribeirão Preto e conquista uma legião de admiradores
O ano de 2019 ainda está longe de terminar, mas um gênero musical já é considerado o campeão de audiência entre os jovens. Original da Coreia do Sul, o K-Pop arrasta multidões atrás de bandas orientais que esbanjam cores em clipes e no próprio visual. A música desembarcou com força no Brasil e, em Ribeirão Preto, o estilo atrai fãs de todas as idades.
Com recordes em visualizações, públicos em shows e apresentações em programas de TV, o K-Pop explode cerca de 30 anos depois de sua criação. O gênero surgiu como solução encontrada pelo governo do país sul-coreano para sair da crise que afetava os Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan). A aposta era exportar um produto além dos aparelhos eletrônicos e foi a partir daí que os grupos musicais foram criados.
O grupo "Seo Taiji and Boys" foi um dos precursores. Formada em 1992, a banda era conhecida como "New Kids On The Block" da Coreia. Inspirado no estilo norte-americano, o grupo cantava letras sobre juventude e mostrava atitude rebelde, mas foi em 2012 que o Brasil passou a conhecer o estilo a fundo com o cantor Psy.
Dono da irreverente canção “Gangnam Style”, que atualmente conta com mais de 3 bilhões de visualizações na internet, o sucesso abriu portas para os demais conjuntos que já lotam os estádios de futebol do país com a realização de shows.
Com tanto sucesso, o K-Pop se tornou uma fonte de renda que movimenta o mercado oriental. Cinco empresas líderes do movimento são as detentoras das principais bandas: CJ E&M, JYP Entertainment, YG Entertainment, SM Entertainment e Big Hit Entertainment. Essas empresas selecionam meninos e meninas ainda jovens e os preparam até que seja possível a formação do grupo. As agências oferecem contratos vinculativos para potenciais artistas — na maioria das vezes em uma idade jovem. Eles são conhecidos como trainees e vivem juntos em um ambiente supervisionado, passando muitas horas diárias aprendendo sobre música, dança, línguas estrangeiras e outras habilidades de preparação para a estreia.
Esse sistema de treinamento considerado "robótico" é criticado no Ocidente. Em 2012, o The Wall Street Journal informou que o custo para formar um único artista pode chegar a até US$ 3 milhões — o equivalente a cerca de R$ 12 milhões.
A advogada Mariana Inácio Faciroli, de 28 anos, é fã do gênero e acredita que o diferencial do K-Pop é a preocupação em apresentar um espetáculo completo, com letras significativas, bons vocais e coreografias que chamam a atenção. Fã do grupo BTS, ela admira os esforços dos artistas em espalhar uma mensagem positiva e ajudar pessoas, sendo reconhecidos até pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Desde a adolescência, comecei a me interessar pela cultura oriental — primeiro pela japonesa, por meio dos animes, e depois pela cultura coreana. Passei a assistir e me encantar pelos doramas, que são as séries da Coreia do Sul. Minha paixão pelo K-Pop foi decorrência disso, por amar as trilhas sonoras dos doramas e começar a buscar pelos cantores”, conta.
Mariana relembra a emoção de assistir a um show. “Tive a sorte de assistir a uma apresentação do BTS no dia 26 de maio. Foi simplesmente incrível, não dá para descrever a emoção e energia que contagiaram o estádio. Espero ter a oportunidade de vê-los novamente, dessa vez bem perto do palco”, diz.
O grupo BTS é possivelmente o de maior expressão no mundo ocidental. Em maio de 2018, tornou-se o primeiro artista de K-Pop a liderar o ranking de álbuns da Billboard. Os artistas já conseguiram emplacar três álbuns no topo das paradas em menos de um ano.
A estudante Luísa Ribeiro Soares, de 17 anos, também foi ao show da banda em maio, mas é fã do gênero desde 2015, acompanhando o trabalho de grupos como o NCT e TXT. Para ela, é muito difícil escolher uma música entre as favoritas de cada grupo, pois cada uma tem um atrativo específico. “Acho que as músicas, além de serem em uma língua bem diferente da nossa, têm letras boas, bem escritas e as batidas ficam na cabeça. Os videoclipes têm uma superprodução e contam com uma tecnologia mais avançada. As coreografias são feitas nas performances ao vivo e os figurinos combinam com os conceitos dos clipes, com o estilo da música e, também, entre os membros do grupo”, afirma.
Característico
Embora o K-Pop se refira à música popular sul-coreana, alguns consideram que seja um gênero abrangente, exibindo um vasto espectro de elementos musicais e visuais. O Instituto Nacional de audiovisual da França define o estilo como uma "fusão de música sintetizada, rotinas de dança afiadas e roupas coloridas e modernas". As canções consistem, tipicamente, em uma ou mais misturas de pop, rock, hip hop, R&B e gêneros de música eletrônica.
Especialista em vídeos, o professor de Audiovisual Alex Vissoto conta que os clipes compartilhados pelos grupos possuem uma grande variedade de elementos audiovisuais e, consequentemente, uma estética visual bem definida. Apesar de misturar muitos ritmos musicais, na Coreia do Sul o gênero é tido como música Pop — por isso o nome. “Podemos definir os clipes desses grupos como uma fusão tanto na parte de música, quanto na parte visual, de danças e de roupas coloridas e modernas. Há muitos efeitos práticos. Os grupos são divididos como cantores líderes, dançarinos principais, além de um integrante que é referência em visual e moda. Isso reflete nos fãs, que replicam o comportamento. Os jovens sentem uma identificação, mas é importante ressaltar que a estética visual não é exclusiva do K-Pop. Outros estilos musicais investiram em formatos semelhantes, como o Rock e a Disco Music”, explica.
Carolina Toyota Defendi, de 19 anos, conheceu o K-Pop por acaso em 2017 e se apaixonou. O que chamou a atenção da estudante foram o ritmo animado e a estética colorida. “Meus grupos favoritos são GOT7 e SHINee. Esses foram os que eu mais me identifiquei, tanto no estilo musical, quanto na personalidade dos cantores. O K-Pop é diferente de tudo aquilo que já escutei. É muito acolhedor. Com ele, tive muito contato com outras fãs do Brasil todo, até mesmo do mundo. Ele funciona como uma espécie de comunidade que conecta todo o planeta, faz com que você tenha um maior conhecimento de culturas diferentes da sua e abra sua mente”, destaca.
A operadora Gabrielle Corretti Siqueira, de 21 anos, é tão fã do estilo que lembra a data em que viu o primeiro vídeo de K-Pop. “Foi dia 10 de outubro de 2014. Eu vi um vídeo aleatório passando na TV e gostei. Hoje sou fã de inúmeros grupos. Eu fui a três shows no Brasil, mas sempre que eu conseguir ir, vou de novo. É diferente de tudo”, conta.
Dança
Atuante na área de produção cultural, direção e coreografia, Rodrigo Araújo de Souza, de 41 anos, é fundador de uma escola de dança de Ribeirão Preto e pioneiro a trazer aulas profissionais do gênero para a cidade. Segundo ele, o K-Pop agrega muitas danças do Hip Hop em que grande parte das coreografias é criada por especialistas. “A ideia de colocar as aulas surgiu da primeira vez que vi um clipe. Eu já conhecia coreógrafos internacionais envolvidos com o K-Pop, pois participo de competições e vi que havia essa necessidade. Montei uma metodologia e trouxe aos ribeirãopretanos”, explica.
Embora toda a dança seja uma forma de expressão, no K-Pop, a coreografia está mais ligada à letra da música. O professor Antônio Pilan, de 21 anos, também ensina o ritmo em Ribeirão Preto. “Com certeza o foco das coreografias é expressar a música e ser copiável, pois a tendência dos covers, que imitam a coreografia original, é bem forte, o que também funciona até como forma de divulgação do próprio grupo. Uma das ideias principais é atrair todos que se interessam”, afirma.
Para o professor, todos podem praticar, mas é preciso ter empenho e dedicação. “O estilo leva influência forte do Pop americano e suas diversidades, apesar de ser voltado para um tipo específico de estética e visual. Para quem gosta e tem interesse, acima de tudo tem de ter vontade de dançar e empenho, como qualquer outra atividade”.
Safra ribeirãopretana
Um dos grupos covers mais tradicionais de Ribeirão Preto é o XPoP, formado por 19 integrantes, entre eles toda equipe técnica. Ao todo, são 15 dançarinos, mas a composição muda com frequência. De acordo com os membros, o nome XPoP reúne várias referências e conceitos, como, por exemplo, os nomes K-Pop e J-Pop.
Conhecido em todo o território nacional, o grupo, que realiza covers desde 2013, marca presença em uma série de eventos, independentemente de serem competições ou apresentações livres. Para eles, o importante é realmente entregar uma apresentação que será lembrada, mesmo que isso signifique não competir. Para tanto, o grupo se prepara: os ensaios são realizados todos os sábados e domingos.
Para alguns integrantes da banda, o K-Pop é um estilo musical, para outros é um estilo de vida, comprovando que apesar de a Coreia estar do outro lado do mundo, a comunicação por meio da arte, como a música e a dança, tem o poder de conectar as pessoas.
Por outro lado, alguns integrantes também observam o lado negativo do gênero, considerado totalmente planejado e altamente capitalista, que vende um padrão de beleza e comportamento inalcançáveis para jovens que, muitas vezes, dedicam-se a fazer parte de empresas do ramo que os expõem a condições sub-humanas e trabalho quase escravo.
Os dançarinos das equipes são: Yasmim Mayumi Hayashi Lahud, Octávio Riul, Victoria Boer Martins Bassi, Natasha C. P. Abdalla Santos, Girrim Rick Luo, Tiago Schiavi Santana, Elisa Damião de Pádua, Laís Kaori Jomori, Antônio Augusto Pilan dos Santos, Vanessa Barbosa de Lúcio e Kai.
Outro grupo que também faz sucesso na região é o Kosmös. Composto por sete pessoas de Ribeirão Preto e Batatais, o coletivo foi criado em 2017. O K-Pop foi uma maneira que as amigas encontraram para fazer aquilo que mais gostam: dançar. “Nós mesmas somos nossos pilares e nos mantemos firmes. Por nós. Por dançar”, afirmam as integrantes, que ensaiam semanalmente.
Kozmös significa “universo”, de maneira literal. Para a equipe, o grupo é o universo, composto dos mais diferentes corpos celestes.
As integrantes são Fernanda Schievano Sançana, Júlia Marani Baptistella, Marina Tosti Junqueira, Joana de Souza Silva, Maria Clara Campos Cruz, Cristal Darini Garcia Leal de Souza Ramos e Maria Dami Populin.
Principais grupos de K-Pop
BTS
BLACKPINK
EXO
Red Velvet
Seventeen
Got7
Kard
TWICE
Girls’ Generation
Big Bang
Monsta X
SHINee
Super Junior
2NE1
TVXQ