Inovação no agronegócio

Inovação no agronegócio

Co-fundadora de uma startup focada na produção de flores comestíveis e microverdes em Batatais, Luciana Dalmagro destaca a importância da sustentabilidade

Farmacêutica por formação e mestre em Ciências, Luciana Dalmagro atuou por diversos anos para o desenvolvimento de pesquisas na área acadêmica. A vontade de continuar evoluindo – e de fazer a diferença no ambiente, na economia e na sociedade em que está inserida – a levou para o campo.

 

Nascida em uma família de produtores rurais, ela cresceu nesse meio, mas, há 13 anos, aprofundou-se no segmento quando iniciou um processo de sucessão na administração da fazenda dos pais, em Sales de Oliveira, na região de Ribeirão Preto. O objetivo era somar forças e modernizar os processos que já vinham sendo feitos no local. A escolha, que se mostrou acertada com o passar do tempo, foi seguir pelo caminho da sustentabilidade. Para isso, Luciana buscou ainda mais conhecimento. 


Tornou-se gestora empresarial, produtora rural e empreendedora. O trabalho tem rendido bons frutos e reconhecimento. Foi vencedora do Prêmio Mulheres do Agro 2020 Grandes Propriedades. Em 2021 e 2022, foi embaixadora do mesmo prêmio.

 

Em 2021, foi eleita pela Bloomberg Línea como uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina. Atualmente, é membro de diversos projetos com foco em sustentabilidade e desenvolvimento social.

 

Ao lado do marido, Marcelo, é co-fundadora Republica do Jardim, uma startup focada na produção de flores comestíveis e microverdes em Batatais. Na entrevista a seguir, ela compartilha alguns passos dessa jornada e destaca a importância de ações de incentivo para fomentar o setor. 

 

Apesar da formação em Farmácia, mestrado em Ciências e um amplo trabalho na área de pesquisa, você sempre teve uma vida muito ligada ao Agronegócio?

 

Sim. Faço parte de uma família de produtores rurais (eu sou a quinta geração de produtores na mesma fazenda). Há 13 anos, decidi me aproximar do agro. Comecei a trabalhar com o meu pai na nossa propriedade, que fica em Sales Oliveira, e me encontrei fisgada pela avicultura de corte, área que, hoje, eu lidero na propriedade.

 

Tenho a sorte de estar construindo, ao lado do meus pais, uma sucessão familiar bastante harmônica. Foi neste processo de trabalho na fazenda, enquanto sucessora, que eu resolvi trazer algo que fosse agregar ao que já era realizado lá: assim, iniciamos os projetos de sustentabilidade.

 

Sem dúvidas, a sustentabilidade foi a área que mais me encantou até hoje. Sempre penso que podemos fazer diferente, com mais respeito ao meio ambiente, às pessoas, encarando a produção rural como um estilo de vida e a nossa fazenda como ecossistema. Essa caminhada como sucessora ficou muito mais leve e completa com a chegada do Marcelo, meu marido, à nossa família. Ele desempenha um papel complementar nos negócios uma vez que é um veterinário com muita experiência em produção animal. 

 

A República do Jardim é um projeto desenvolvido em conjunto com o marido, Marcelo, e incentivado pela chegada do filho, Antônio

 

A questão da sustentabilidade deixou de ser um diferencial para ser uma necessidade nos dias atuais?

Trabalhar com sustentabilidade, em qualquer tipo de empresa, deixou de ser uma questão de quem vai chegar na frente. Entendemos que quem não incluir a sustentabilidade no DNA do seu negócio já está ficando para trás. Logicamente, esses movimentos não ocorrem da noite para o dia, mas temos certeza de que estamos no caminho e no momento certos.

 

Como surgiu a ideia do projeto República do Jardim?

 

A República do Jardim nasceu do meu casamento com o Marcelo. Desde o começo, sonhávamos em sermos agricultores (daqueles que colocam a mão na terra mesmo). Pensávamos em desenhar um modelo de produção diferente, que fosse verdadeiramente sustentável, viabilizando a produção em pequenos espaços, conectada a uma necessidade de mercado. O gatilho para o sonho se tornar um projeto foi quando fomos presenteados com a chegada do nosso filho, Antonio, há seis anos.

 

Percebemos que era a hora de colocarmos em prática a nossa ideia e assim nasceu também, no mesmo ano, a República do Jardim: uma empresa de flores comestíveis e microverdes, que segue práticas da agricultura orgânica e que tem os três pilares da sustentabilidade (ambiental, social e econômica) não somente como uma prática, mas também como o motivador do próprio negócio. 

 

Por que optaram por investir nesse nicho de flores comestíveis e microverdes?

O uso de flores comestíveis e microverdes na gastronomia já é uma prática bem consolidada há algum tempo fora do Brasil e em algumas capitais por aqui. Percebemos que não havia produção no interior de São Paulo, o que dificultava muito o acesso e o uso desses produtos na nossa região.

 

Foi o estímulo que faltava para começarmos o projeto. Assumimos todos os desafios de uma nova produção (principalmente devido ao clima muito quente da nossa região). Ao longo dos anos, fomos aprendendo e nos aperfeiçoando, principalmente ao entender que a natureza tem seu tempo e seus ciclos.

 

 

Por que decidiram estruturar a produção na área urbana?

 

Decidimos que começaríamos a República do Jardim dentro da cidade, em Batatais, pois sabemos da importância da agricultura urbana pelo potencial de regeneração de áreas degradadas/abandonadas, trazendo a natureza para dentro da cidade, e, também, pela facilidade de deslocamento para as mulheres que trabalham conosco e para o dinamismo nas entregas aos nossos clientes.

 

Queríamos que fosse um lugar que permitisse a conexão de quem utiliza nossos produtos com quem planta. E estar na cidade faz com que isso seja muito mais simples.

 

Como funciona a produção?

Produzimos parte dos nossos produtos em área aberta e parte em estufas, em um lote urbano. Desde o dia um da empresa, temos uma conexão muito forte com o mercado. Quero dizer que co-criamos com os nossos clientes e, a partir disso, produzimos super conectados com essa demanda.

 

O nosso objetivo é, no final da semana, não sobrar e não faltar produto. Por isso, as entregas fixas semanais são fundamentais para essa programação. Esse ajuste fino faz parte da sustentabilidade. Como disse antes, queríamos muito construir uma relação não só de confiança, mas de colaboração com os nossos clientes. E, depois de mais de seis anos de estrada, conseguimos atingir esse objetivo e nos tornar referência de qualidade e inovação, e sermos reconhecidos pelo que produzimos e também por como produzimos.

 

Como tem sido a resposta do público?

A resposta do público foi muito boa. Hoje, atendemos cerca de 100 clientes fixos por mês, em Batatais, Ribeirão Preto, Franca e São José do Rio Preto. Nosso principal público são restaurantes, confeitarias, chefs, eventos/buffets e coquetelaria. A maioria deles estão conosco há muito tempo, e é assim mesmo que imaginávamos o nosso negócio.

 

Já existe uma expectativa de crescimento?

Existe. A República do Jardim nasceu com um sonho de unir criatividade, inovação e agricultura. Demos nossos primeiros passos, erramos demais, comemoramos muito. Seguimos aprendendo e nos desenvolvendo todos os dias. Esse foi só o início de uma longa caminhada. Agora, estamos justamente trabalhando no modelo de expansão, que será por meio da replicação do que criamos em outras cidades.

 

A nossa ideia é carregar os verdadeiros propósitos da nossa produção e dar oportunidades para outras mulheres, em outras cidades, facilitando o processo com todo o conhecimento da produção, planejamento, insumos e reconhecimento de marca. Decidimos nos solidificar muito bem por aqui antes de dar esse passo, e agora chegou a hora. Seguimos adiante, sempre deixando um rastro positivo para as pessoas, a nossa comunidade e para o meio ambiente.

 

Que dica você daria para pessoas que têm um projeto e muita vontade de começar um novo negócio?

Uma boa ideia só é boa mesmo se for colocada em prática. Por aqui, na República, a gente sempre brinca que ideia é igual a mentira: tem perna curta. Tem que ir para ação, virar projeto logo, ou cai. Talvez essa seja a nossa dica: comecem, pequenos, validando e ajustando ao longo do caminho.

 

Sem ser muito apaixonados pela ideia inicial, pois, às vezes, a gente enquanto empreendedor tem que mudar o caminho (produto ou serviço) muitas e muitas vezes. E cercar-se de pessoas com os mesmos propósitos, sejam colaboradores, sócios ou clientes.

 

Produção é feita na área urbana de Batatais, trazendo a natureza para dentro da cidade

 

De que forma iniciativas de inovação corporativa como o ONOVOLAB ajudam projetos como o seu?

 

 O nosso trabalho depende de inovação. Nos denominamos como uma empresa de food design, isso quer dizer que os nossos produtos são elementos de finalização de pratos. Hoje, comercializamos flores e microverdes, mas, no futuro, podem ser outros elementos, e a inovação e a tecnologia serão, sem dúvida, parte das nossas novas criações.

 

Estar no ONOVOLAB nos ajuda a entender novos modelos de negócio, conhecer outros empreendedores que podem se tornar aliados ou parceiros, e também compartilhar nossos aprendizados. Por estar em um hub de inovação, com um ecossistema colaborativo de desenvolvimento, o que não falta são boas ideias para os nossos próximos passos.

 

Sobretudo em parceria com o Instituto Credicitrus, que será também nosso parceiro na replicação do nosso modelo, de uma forma muito conectada com a sustentabilidade na sua totalidade: com um olhar atento as pessoas, com muito respeito ao meio ambiente e com sustentação econômica para a perenidade dos projetos. 


Fotos: Revide

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