Inspiração para se cuidar

Inspiração para se cuidar

Histórias de superação do câncer de mama, como as de Carla Petean e Raquel Rodrigues, são um alerta para todas as mulheres: a prevenção é o melhor remédio

“Por mais difícil que pareça no momento, esta fase irá passar e a vida seguirá repleta de novos significados e oportunidades”, afirma Carla PeteanCarla Campos Petean, médica ginecologista e obstetra, coordenadora do Curso de Medicina da Faculdade Estácio, descobriu o câncer de mama em um autoexame que fazia frequentemente. “Observei que tinha uma área não tão pequena e mais endurecida, muito diferente do restante da minha mama esquerda e logo agendei consulta com um amigo que, antes de ser oncologista, atuava como mastologista. Imediatamente ele solicitou uma mamografia para avaliação, em seguida, com a biopsia, ficou demonstrado o câncer de mama”, conta.


Isso foi há 11 anos, e apesar de já existirem procedimentos avançados, o tratamento foi um grande desafio para ela. Com 36 anos, sem antecedentes de câncer na família, ser a primeira a precisar de um tratamento oncológico não foi fácil. “Os dois dias após a quimioterapia eram difíceis por conta das náuseas e intensas dores abdominais. Minha filha tinha só cinco anos e eu tentava ficar bem para não impactar o dia a dia dela, mas muitas vezes acabava tendo muito mal-estar e cansaço. Tive que fazer quimioterapia por seis meses, antes de poder operar, e logo depois fiz radioterapia e uso de medicação de anticorpo monoclonal, por mais seis meses”, relembra. 


A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é de 66 mil novos casos de câncer de mama no país a cada ano do triênio 2020-2022. Segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer, em 2019, ocorreram 18.295 mortes pela doença, sendo 18.068 mulheres e 227 homens. Na maioria dos casos, o câncer de mama pode ser detectado logo no começo, o que aumenta as chances de cura e as possibilidades de tratamentos menos invasivos e, para isso o autocuidado é essencial. 


 “Somos impactadas com a dúvida da cura, temos a nossa autoestima abalada por diferentes motivos, desde a cirurgia para retirada de parte da mama ou toda ela, passamos pela perda de cabelo momentânea e até alteração hormonal. Nesse processo, temos sentimentos contraditórios: oscilando da angústia para entender o motivo do câncer, da incerteza de como será o tratamento, para a alegria quando está dando certo; da ansiedade dos exames realizados logo após o tratamento, para a alegria em comemorar mais um ano de cura. Com tudo isso, é muito importante resgatarmos ou fortalecermos a nossa fé, independente da nossa religião ou espiritualidade, acreditarmos que tudo de melhor está sendo realizado para nosso tratamento e que, com certeza, sairemos mais fortes deste momento do que quando recebemos o diagnóstico. Por mais difícil que pareça no momento, esta fase irá passar e a vida seguirá repleta de novos significados e oportunidades”, enfatiza Carla.


Impulso para transformação 


“A palavra ‘câncer’ é até difícil de se pronunciar quando se trata de você, do seu próprio corpo e da sua vida, que está ameaçada”, diz Raquel RodriguesRaquel Dias Ribeiro Rodrigues, 44 anos, advogada, casada e mãe de duas filhas recebeu o diagnóstico de câncer de mama em uma sexta-feira, dia 4 de agosto de 2017. “Nunca mais esqueci esta data porque sabia que nada mais seria como antes”, recorda. Não havia nenhum caso de câncer de mama na família e sempre acreditou que isso jamais aconteceria com ela, até perceber um “caroço” no seio e buscar ajuda. “Impossível descrever o desespero quando você se depara com essa doença tão temida. A palavra ‘câncer’ é até difícil de se pronunciar quando se trata de você, do seu próprio corpo e da sua vida, que está ameaçada. Daquele dia em diante tudo mudou, eu mudei e minha vida mudou por completo”, conta a advogada.  Suas filhas, Julia e Marina, tinham apenas dois e seis anos, respectivamente, e acompanharam cada fase do tratamento junto com a mãe, com todos os altos e baixos, mas sempre confiantes de que tudo acabaria bem.


“Passei pela cirurgia e difíceis sessões de quimioterapia que me custaram muitas lágrimas e todo meu cabelo, mas me agarrava à certeza de que estava perdendo o cabelo e ganhando a cura, pois sabia que a cura viria de dentro para fora”, enfatiza. Para superar essa fase Raquel contou com o apoio dos médicos, do marido, da família e dos amigos. “Foram todos verdadeiros anjos colocados em minha vida. E quando você compreende, aceita e fica em paz com o momento que está passando, tudo se torna mais leve e você entende que é só uma fase e vai passar. Aliás, escrevi está frase no meu espelho e pronunciava para mim mesma todos os dias: vai passar. E passou!”, acrescenta.


Desde então, muita coisa mudou na sua vida. Ainda mais apaixonada por viver cada dia, Raquel correu a São Silvestre em 2019 e dedicou sua medalha aos médicos que a assistiram, Dr. Fernando e Dr. Hélio. Atividade física e fé, aliás, são sua “receita’ para atravessar todo o processo de tratamento. “É preciso tirar o foco da doença”, afirma.


Consciente de que ainda há muito a ser feito, Raquel tem procurado fazer a sua parte de alguma forma, conversando, orientando, dando palestras e torando a sua história um meio de ajudar outras mulheres a se cuidarem e a enfrentarem o tratamento. 


Para a advogada, a doença representou uma grande oportunidade de mudança de vida e para melhor. “Compreender verdadeiramente que a vida é finita faz com que você mude o olhar sobre ela e tenha a oportunidade consciente de mudar a forma como está vivendo seus dias, como está se relacionando com sua família, se está verdadeiramente fazendo o que ama e contribuindo para axilar o próximo e fazer do mundo mais humano”, define Raquel.

 

Exames represados 


Por conta da pandemia, muitas mulheres deixaram de ir ao médico e fazer exames. Segundo o médico Diocésio Alves Pinto de Andrade, há um aumento na taxa de identificação do câncer de mama em estádio metastático. “Apresentamos um trabalho no Congresso Americano de Oncologia Clínica, onde foram avaliados 11750 casos do grupo Oncoclínicas em todo Brasil, sendo 5.260 entre 2018 e 2019 e 6.500 entre 2020 e 2021. Vimos um aumento no número de casos avançados do tumor triplo negativo. O que era por volta de 11% a 13%, passou para índices entre 17% e 20%”, ressalta.


Devido ao represamento de exames não realizados nestes dois anos de pandemia, estima-se que em 2022 haja um aumento na incidência de casos de câncer de mama. "Entre 2019 e 2020 a queda na taxa de mamografias realizadas no SUS foi de 45%. E apesar de ter tido certa melhora na comparação entre 2020 e 2021, o índice ainda ficou 15% abaixo do estimado. Como em 2022 houve uma certa normalização da procura dos pacientes por consulta médica, após o Outubro Rosa poderemos ter aumento no número de casos de câncer de mama diagnosticados."


Para o médico Fernando Marin Torres, o rastreamento desses casos é urgente e, por isso, o ressalta a relevância da campanha Outubro Rosa. “Nos deparamos na clínica com muitas pessoas com sintomas, pequena queixa ou um nódulo que ficou na suspeição, tinha uma dor abdominal e ficou esperando por conta da pandemia, não fez os exames, o tempo passou, e agora se deparam com casos mais avançados. Como esses exames não foram realizados, muitas vezes, nos vemos diante de diagnósticos tardios, situações em que o tumor já adquiriu um volume grande e a pessoa precisa realmente iniciar o tratamento de urgência, às vezes sem conseguir fazer cirurgia, precisando fazer quimioterapia para haver uma redução do tumor que possibilite depois a cirurgia, por isso, nossa orientação é buscar o quanto antes colocar em dia consultas e exames de rotina”, alerta Torres. 


Segundo a coordenadora do Complexo Regulador da Secretaria Municipal de Saúde de Ribeirão Preto (SMS), Elaine Mara Kamada Moreira, na rede pública as vagas de mamografias foram otimizadas junto aos prestadores com a finalidade de diminuir a demanda reprimida. Em nota, a SMS afirma que as mulheres que estão com os exames atrasados podem procurar a unidade de saúde mais próxima da sua residência para agendar consulta. Em outubro, está sendo feito também um cadastramento pelo site da Prefeitura para o agendamento da mamografia de rastreamento, para as mulheres de 50 a 69 anos, que não apresentem queixas. Já as mulheres com queixa de algum sintoma na mama devem procurar o mais rápido possível uma unidade de saúde e solicitar uma consulta de acolhimento. 

 

Compartilhar: