Mais lento que o esperado

Mais lento que o esperado

Campanha de vacinação contra a Covid-19 tem início em Ribeirão Preto com poucas doses, muitas filas e alguns contratempos

A enfermeira Vanessa Alves Loureiro, de 27 anos, enfrentava dias de incerteza durante a pandemia no novo coronavírus. O local em que trabalha, a Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Luiz Gaetani, no bairro Cristo Redentor, zona Norte de Ribeirão Preto, é responsável pelo atendimento a uma população de aproximadamente 30 mil pessoas. “Aparecem muitos pacientes sintomáticos, que acabam fazendo o teste e dão positivo. É angustiante, porque às vezes você apresenta algum sintoma e já acha que também está contaminado e que vai passar para a família”, desabafou a enfermeira. Por integrar o grupo de profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia, Vanessa foi incluída no grupo que recebeu as primeiras doses no Estado de São Paulo. No dia 25 de janeiro, ela foi imunizada e ressaltou o trabalho árduo dos profissionais da saúde e de pesquisadores. “Para quem não quer tomar a vacina, eu digo que a ciência vem trabalhando duramente para estudar sobre esse vírus e produzi-la. Apesar de ser a vacina com criação mais rápida, ela possui uma eficácia de 100% nos casos graves, portanto, não teremos esse caos na ocupação dos leitos nos hospitais”, finalizou a enfermeira.

A primeira aplicação em Ribeirão Preto, ainda em caráter experimental, foi administrada no dia 30 de julho de 2020, no Hospital das Clínicas (HC). De lá para cá, trabalhadores da saúde de todo o país uniram esforços para a realização dos testes do medicamento. Dessa forma, a primeira dose oficial de Ribeirão Preto pôde ser aplicada no dia 19 de janeiro de 2021, também no HC, em cerimônia que contou com a presença do prefeito Duarte Nogueira (PSDB) e do governador João Doria (PSDB). Durante entrevista coletiva, antes da vacinação dos profissionais, o governador comentou sobre o desapreço do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à vacina. Além disso, comemorou a situação atual da chegada da CoronaVac até o Estado de São Paulo e, então, ao município. “São Paulo não teve o Dia ‘D’, nem a hora ‘H’, São Paulo teve o Dia ‘V’. V da vitória, V da vida, V da vacina. A vacina que salva, é a vacina do Butantan”, comemorou Doria.

PRIMEIRAS DOSES E PRIMEIROS PROBLEMAS

Desde então, assim como a enfermeira Vanessa, outros 11,8 mil profissionais de saúde que integram o grupo prioritário foram vacinados até o dia 2 de fevereiro. A partir do dia 3, teve início a vacinação dos profissionais autônomos e liberais da saúde. Também a partir desse dia, o município passou a enfrentar problemas de logística e teve de rever o planejamento da campanha municipal de imunização. A previsão era vacinar 1,4 mil pessoas por dia, sendo 700 em cada posto, por meio de uma distribuição de senhas por ordem de chegada. Por isso, desde as primeiras horas da madrugada do dia 2 para o dia 3 de fevereiro, profissionais de saúde formaram filas em frente aos dois postos de vacinação selecionados. Quando o dia nasceu, a fila já dobrava o quarteirão. O cansaço da espera foi agravado pelo sol forte. Na fila, já estressados, profissionais discutiam sobre quem teria prioridade. Alguns pediram atendimento prioritário, pois eram idosos e aposentados, enquanto os mais jovens solicitavam atendimento preferencial por estarem na linha de frente. A situação atingiu o ponto mais crítico quando, no posto de vacinação montado no Centro Médico, no Jardim Irajá, um gastroenterologista, de 52 anos, morreu enquanto acompanhava a esposa na fila. Segundo as informações, o homem teria tido uma convulsão e foi atendido Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas teve uma parada cardiorrespiratória ainda no local e não resistiu. A morte do médico não tem relação com a imunização pela CoronaVac, uma vez que ele apenas acompanhava a esposa, que seria vacinada.


No mesmo dia, uma entrevista coletiva foi convocada pela diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Prefeitura, Luzia Márcia Romanholi Passos. Ela ressaltou que a vítima fora prontamente atendida pelos profissionais do Samu e lamentou a fatalidade. Tendo em vista as filas e as reclamações, a Secretaria de Saúde decidiu, então, mudar um dos locais de vacinação para a Sociedade Recreativa, a Recra, e aprimorar a metodologia utilizada na triagem e na distribuição de senhas. Sobre um possível agendamento, que reduziria filas, a diretora da Vigilância em Saúde explicou que muitos dos profissionais não possuem cadastro no sistema Hygia, que é o banco de dados utilizado pelo sistema único de saúde. “Para fazer o agendamento no nosso sistema de saúde, todo mundo tem de ter o sistema Hygia. Muitas pessoas têm convênios e não o têm. Isso também foi um impeditivo para fazermos um agendamento”, argumentou. Apesar da formação de algumas filas, o restante da semana de vacinação dessa categoria seguiu sem maiores adversidades. 


IDOSOS

Os idosos começaram a receber a vacina no dia 8 de fevereiro. Nos primeiros dias, o imunizante foi direcionado para as pessoas acima dos 90 anos e com a obrigatoriedade do agendamento para que se evitem filas. Porém, temendo um possível atraso com o ponto facultativo do Carnaval, o governo municipal antecipou a vacinação das pessoas com 85 anos ou mais para a quinta-feira, dia 11. A prioridade do Executivo é vacinar todos os idosos para, com isso, diminuir significativamente a pressão na ocupação de leitos de UTI. “Cerca de 84 % das pessoas que morreram em Ribeirão Preto, desde o início da pandemia são pessoas com 60 anos ou mais. Portanto, quando atingirmos a vacinação de 60 anos ou mais, nós vamos estar ‘blindando’ de morte”, ressaltou Nogueira. Não obstante, a quantidade é suficiente para a campanha ter início, mas a velocidade com que os insumos chegam o município ainda não é a ideal. “Ainda não estamos recebendo vacina em número que é suficiente para fazer tudo o que é necessário. Aliás, está chegando muito menos do que nós mesmos esperávamos. Nós ainda não temos todas as doses, isso não depende do município”, declarou o secretário municipal de Saúde, Sandro Scarpelini.
Para que a vacinação nos idosos tenha início, o município recebeu mais 17 mil doses do imunizante, sendo que 12,3 mil delas serão destinadas à aplicação da segunda dose nos profissionais da saúde do município, enquanto as outras 4,6 mil serão reservadas aos idosos. Sandro explicou que a segunda dose da CoronaVac, destinada aos profissionais de saúde que atuam na linha de frente dos hospitais, pode ser aplicada a partir do 21º dia após a aplicação da primeira dose. Já os profissionais que tomaram a vacina AstraZeneca devem tomar a segunda dose após três meses. Esse segundo imunizante foi aplicado, em sua maioria, em profissionais do HC. Como as faixas etárias mais avançadas possuem menos indivíduos, a Prefeitura optou por manter a vacinação apenas nos postos. Porém, a partir do avanço para nichos mais populosos, como o dos idosos com 60 anos ou mais, o governo municipal deverá abrir os postos de vacinação por drive thru.

AGENDAMENTO 
Para que o idoso receba a dose da vacina, é obrigatório o agendamento no site da Prefeitura ou por telefone. Durante o cadastro, será solicitado o número do CPF e a data de nascimento. O agendamento segue liberado para pessoas acima de 90 anos e, agora, também para os idosos com idade acima dos 85 anos. No site é possível ver quando uma nova faixa etária for incluída no programa de vacinação. O agendamento também pode ser feito por telefone das 8h às 17h, de segunda a domingo, nos seguintes números: (16) 3977.9441 ou (16) 3977.9442. Ao realizar o agendamento, será gerado um número de protocolo, além de serem informados a data e o local de vacinação. 

Pré-cadastro (opcional) 
Antes de receber a vacina, será feito um pré-cadastro do idoso no sistema do Estado do Governo de São Paulo. Porém, para agilizar o atendimento, existe a possibilidade de que esse cadastro seja feito direto pelo site do governo estadual. Basta acessar o site Vacina Já e realizar o pré-cadastro. Essa opção não é obrigatória, mas é recomendada, já que diminui o tempo em que o idoso ficará exposto. 

No dia da vacinação 
Após realizar o agendamento obrigatório, o idoso será informado sobre data, horário e local da aplicação da dose, além de receber um número de protocolo que deverá apresentar no dia. Esse número poderá ser impresso ou simplesmente anotado em um papel ou celular. A vacinação acontecerá das 8h30 às 16h30, de segunda a sexta-feira, em 36 postos de vacinação. 

Os idosos deverão apresentar os seguintes documentos no posto de saúde: 
• Documento oficial com foto (RG, CNH, etc.) 
• CPF 
• Comprovante de residência atualizado 
• Protocolo de Agendamento gerado após a finalização de agendamento no site ou telefone 

Idosos acamados ou sem mobilidade 

O Serviço de Atenção Domiciliar iniciou, simultaneamente, nesta fase, a vacinação de idosos de 90 anos ou mais que se encontram acamados em suas residências. Os idosos dessa faixa etária, acamados, podem receber a vacina em sua própria casa, por meio do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD). Basta entrar em contato com a unidade de saúde mais próxima ou no próprio SAD, pelo telefone: 3977.7111

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