Mobilidade urbana

Mobilidade urbana

Especialistas apontam que a implantação de ciclovias é urgente e pode ser viabilizada em todas as avenidas de Ribeirão Preto

Todos os dias, milhares de ciclistas desafiam a sorte disputando espaço no trânsito já caótico de Ribeirão Preto. Polo regional de serviços, a cidade concentra riquezas e índices não muito animadores. A frota de 389.945 veículos no final de 2009 saltou para 398.527, no primeiro semestre deste ano, de acordo com levantamento da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano (Transerp). No mesmo ritmo, cresce o número de acidentes de trânsito com vítimas. Dados do Corpo de Bombeiros apontam que, em média, são 188 ocorrências por mês.

Outro agravante é a expansão urbana acelerada, que amplia o tempo que se gasta para ir e vir de um ponto a outro da cidade, intervalo que poderia ser gasto com lazer, educação ou cultura. Com a motorização de 60%, é urgente a necessidade de se pensar em alternativas para melhorar a mobilidade urbana, bem como a qualidade ambiental. Para especialistas em trânsito, a implantação de ciclovias é viável e necessária.

Creso de Franco Peixoto, engenheiro civil, mestre em Transportes, professor dos cursos de Engenharia Civil do Centro Universitário Moura Lacerda e pesquisador da Unicamp, afirma que todas as avenidas da cidade comportam ciclovias. “Precisamos resgatar a mobilidade viária urbana. Estamos chegando à 40 mil mortos por ano no trânsito brasileiro e isso já é um problema de saúde pública”, ressalta. Creso explica que, a exemplo do que já acontece em várias cidades da Europa, nos pontos em que não for possível a construção de ciclovias, os ciclistas poderiam contar com o apoio dos ônibus urbanos, que ganhariam um suporte especial para o transporte dos veículos até a ciclovia mais próxima.

Enfático em defesa do sistema, o engenheiro foi ouvido na Câmara Municipal pela Comissão Especial de Estudos (CEE) para implantação de ciclovias na cidade. A CEE está ouvindo todos os segmentos envolvidos e levantando informações para que a Prefeitura possa implantar ações alternativas para melhorar a mobilidade e cobrar agilidade no processo de implantação de ciclovias nas áreas de maior tráfego. “Estimamos que mais de 200 mil pessoas circulem de bicicleta na região central, mas estamos tentando levantar um número concreto que represente a realidade”, reforça a vereadora e presidente da CEE, Silvana Resende.

Sonho antigo
Apaixonado por bicicletas, o empresário e ciclista Adair Francisco da Silva também é a favor da implantação urgente de ciclovias em Ribeirão Preto. A exemplo do que já acontece em cidades como São Paulo, Campinas ou Sorocaba, segundo ele, é preciso diminuir o número de carros em circulação. Além disso, aponta a necessidade de campanhas para melhorar a educação e o respeito no trânsito.
Empenhado na construção de ciclovias na cidade, Adair lamenta que seu projeto, já apresentado nas gestões de Luiz Roberto Jábali, Antonio Palocci e Welson Gasparini, ainda não tenha saído do papel. “A obra pode ser viabilizada com recursos do Governo Federal, disponíveis por meio do Ministério das Cidades. A ciclovia faz bem para todo mundo. É uma alternativa viável para desafogar o trânsito e uma tendência nacional que não tem volta”, frisa.

Incentivador do ciclismo como prática esportiva para o dia a dia, Adair promove encontros semanais, com passeios noturnos pela cidade às terças, quartas e quintas, a partir das 19h30. Aos sábados, o roteiro de até 60 km explora trilhas em meio à natureza.  “Se precisar, também ensinamos a pessoa a pedalar”, brinca o empresário, que só vê benefícios na atividade física para o organismo.

Resultados positivos que o gerente de negócios Eder Antonio Bueno conheceu bem, há cerca de um ano. Com uma vida atribulada, estresse elevado e fora do peso ideal, ele sentiu que precisava praticar algum esporte e se encontrou no ciclismo. Hoje, pedala três vezes por semana e já chegou a fazer passeios com até 40 km. Eder também participa dos passeios organizados por Adair e, no grupo, já fez grandes amigos. “Minha qualidade de vida e minha disposição física melhoraram muito”, relata.

Como Eder, o comerciante Valmir de Andrade re-encontrou o estímulo e a saúde nas pedaladas diárias. Ele relembra que sempre praticou esporte, como atletismo e ciclismo, mas depois dos 17 anos, ao ingressar no mercado de trabalho, isso ficou em segundo plano. Casou-se, teve filhos, adotou uma rotina profissional intensa e as pedaladas ficaram cada vez mais raras. Com uma vida sedentária, cigarro e estresse, ganhou mais de dez quilos e os exames clínicos indicavam a necessidade de uma mudança de hábitos urgente. Com a vida financeira equilibrada, Valmir resolveu que era hora de se cuidar um pouco mais e, no ciclismo, re-encontrou o estímulo que precisava. Há 15 anos, retomou a atividade física regular e, há um ano, decidiu que faria da bicicleta seu principal veículo locomotor. Com as pedaladas diárias, recuperou a saúde e a vitalidade da juventude. “Hoje minha mobilidade e a sensação de liberdade são totais”, indica ele. Desafiando os perigos do trânsito, corta a cidade todos os dias para ir para o trabalho ou a qualquer outro lugar. Atropelado por duas vezes, Valmir observa que, além das ciclovias, é preciso elaborar campanhas educativas para melhorar também o respeito no trânsito. “Os motoristas, os ciclistas e os motociclistas precisam se respeitar mais, principalmente na área central da cidade”, enfatiza Valmir.

Primeiro passo
Implantado em 2007, o Plano Viário de Ribeirão Preto reserva um capítulo para a normatização e a implantação do sistema cicloviário. A peça contempla todos os novos empreendimentos imobiliários e os projetos de expansão viária. O loteamento São Marco e a Colina dos Sabiás já contam com a faixa exclusiva para bicicletas. “Outro exemplo será a duplicação de um trecho de dois quilômetros da avenida Henry Nestlé e a revitalização de aproximadamente seis quilômetros da avenida Eduardo Andrea Matarazo, que já têm previsão para ciclovias”, explica José Luiz de Almeida, chefe da Divisão de Sistema Viário da Transerp.

Mesmo que somente para lazer e em horários e dias determinados, as pistas exclusivas para as bicicletas começam a ganhar as ruas. A última iniciativa aconteceu no dia 26 de setembro, com o lançamento do Programa Ciclofaixa de Lazer. A primeira delas liga os parques Luiz Roberto Jábali (Curupira) ao Luis Carlos Raya. Com aproximadamente três metros de largura e 6 km de extensão, a ciclofaixa será liberada aos ciclistas somente aos domingos, das 7h às 13h.

Plano cicloviário
Com uma população de cerca de 585 mil habitantes e muitos problemas de mobilidade urbana, nos últimos 12 anos, Sorocaba passou por diversos projetos de urbanização, preparando-se para o tráfego intenso. Polo regional de serviços, buscou alternativas para sanar deficiências no trânsito e hoje contabiliza 65 km de ciclovias implantadas. Segunda maior malha cicloviária do Brasil, Sorocaba caminha para um total de 100 km de ciclovias interligadas até 2012.

De acordo com a assessoria de imprensa, a Prefeitura coloca o Plano Cicloviário entre suas ações prioritárias, dentro dos ideais de “Cidade Saudável” e “Cidade Educadora”. Elaborado por técnicos da Trânsito e Transportes (Urbes) e da Secretaria de Obras e Infraestrutura Urbana (Seobe), o Plano constrói ciclovias em avenidas e interligações de pistas novas com as já existentes, para propiciar aos usuários deslocamentos mais longos.

O projeto prevê a criação de bicicletários — pontos estratégicos com serviços de apoio aos usuários — e de dispositivos para facilitar a integração do sistema cicloviário com os demais meios de transporte. Além das ciclovias, o “Pedala Sorocaba” atrai centenas de ciclistas, com a realização de passeios, sorteios, ações recreativas e culturais, tendo como foco principal o uso da bicicleta.

Ciclofaixa aos domingos
Para segurança dos usuários, além da sinalização, monitores da Federação Paulista de Ciclismo e agentes civis de trânsito acompanham o percurso. A São Francisco Saúde disponibiliza uma ambulância da São Francisco Resgate para pronto-atendimento e remoção em caso de acidentes. Nos parques, a operadora oferece exames preventivos e dicas sobre hábitos saudáveis de vida. Os profissionais especializados orientam para a prática correta de alongamentos, respiração, entre outros aspectos importantes para o bem-estar e saúde. A pista passa pelas avenidas Costábile Romano, Francisco Junqueira e Maurílio Biagi, mas o diretor de Trânsito da Transerp, Mauro Haddad não descarta a possibilidade de, em breve, interligar os grandes parques da cidade. “O próximo a receber a ciclofaixa de lazer deverá ser o Bosque no Parque Morro de São Bento”, estima, apontando ainda que outras ações como a melhoria do transporte coletivo e o incentivo ao deslocamento a pé também estão sendo analisadas.

Confira o mapa da ciclovia aqui

Texto: Rose Rubini

Compartilhar: