Mulheres e os vinhos

Mulheres e os vinhos

Com um olfato e um paladar, geralmente, mais apurado do que o deles, as mulheres saem na frente na busca pelas sutilezas dos vinhos

Se até pouco tempo, os vinhos eram mais facilmente relacionados ao universo masculino, atualmente, já não deixam as mulheres de lado. Uma nova geração de apreciadoras da bebida tomou para a si a missão de propagar o vinho. Hoje em dia, elas são bem-vindas a esse mundo profissionalmente ou apenas como consumidoras — das mais exigentes, aliás. Aos poucos, as mulheres estão conseguindo provar que o vinho não depende de gênero, mas de sentimento. 

De acordo com a coordenadora da Grand Cru, Tatiana Arruda, na última década, a atuação delas nesse mercado aumentou consideravelmente. Segundo Tatiana, as mulheres que trabalham com a bebida são desbravadoras e competem com os homens em pé de igualdade. “Acredito que há espaço para todos, seja vendendo, comprando, degustando, estudando ou elaborando os vinhos. Aliás, estamos quase superando o número de participantes masculinos em feiras, adegas, degustações dirigidas, enfim, nos eventos ligados ao vinho”, destaca. 

A sensibilidade feminina, aliás, não está relacionada apenas à fabricação ou à degustação dos produtos. O mercado está descobrindo o poder das mulheres na hora de mudar o cenário de consumo da bebida. Para Tatiana, dizer que mulher gosta de vinho doce é um mito. “Nós gostamos de vinho bom, com custo-benefício interessante e valor agregado. Pode até ser que algumas prefiram um vinho mais adocicado, mas quando apuram o paladar e começam a degustar outros rótulos, percebem a mudança e ficam mais exigentes”, pontua. 
“Mulher não gosta de vinho doce, mulher gosta de vinho bom”, esclarece Tatiana
Agora, quando se trata de vinhos doces, os vinhos de sobremesa mesmo, como os de colheita tardia, vinho do Porto, Vin Santo, Sauternes entre outros, estes, sim, encerram com muita elegância uma refeição e não há mulher que resista. Aliás, se a combinação é entre vinho e chocolate, a coordenadora sugere o Fortificado Tinto Porto Van Zellers Ruby. “A bebida é resultado de um blend de várias castas da região do Douro e envelhece, pacientemente, por três anos, adquirindo texturas e aromas complexos de uva passa e frutos vermelhos. Harmoniza bem com mousse de chocolate ou trufa”, finaliza Tatiana. 

Confraria

“Não há fundamento que prove as antigas afirmações que o paladar feminino prefere vinho suave. Isso provavelmente foi dito por algum homem (risos). Brincadeiras à parte, para quem está começando nesse surpreendente universo dos vinhos, a dica é sacar a rolha e provar os vinhos varietais — feitos apenas com um tipo de uva — para conhecer a diferença de cada casta e descobrir seus preferidos. Eu comecei degustando os Primitivos (uva da região da Puglia, Itália). Hoje, prefiro os vinhos italianos de clima mais frio, tais como Barolo, Barbera e Barbaresco (Piemonte e Lombardia), e os franceses da Borgonha, do Loire ou de Bordeaux, especialmente, os de produção biodinâmica e livre, ou seja, produzidos com o mínimo de intervenção humana. Espumantes, brancos, rosès, tintos ou vinhos de sobremesa: cada rótulo se aplica a uma harmonização especial na gastronomia. Como gosto muito de cozinhar, sempre penso em qual tipo da bebida vai bem com determinado prato que eu faça. É a parte boa de brincar com meu noivo João Carlos em casa: vinho e comida harmonizados com muito amor. Apreciar um bom vinho envolve estudo, degustação e interesse. Assim, através do estudo, conheceremos as diversas regiões produtoras e os vários tipos de vinho. Pela degustação, adquirimos o interesse nas regiões ou castas que mais agradam ao nosso paladar, que é individual e evolui com o tempo, à medida que nosso conhecimento avança.”
Lígia Mara Turci Reis, advogada.

Vale a pena
Por Lígia Mara Turci Reis

Lunações Chardonnay, 2015: lindo vinho branco brasileiro, de produção orgânica com toque feminino dado na produção pela Marina Santos. Cor amarelo-palha fantástica, com aromas cítricos, ótima acidez e retrogosto de frutas amarelas. 

Morei Teroldego, 2011: tinto produzido na região das Dolomitas, nordeste da Itália, pela enóloga e produtora Elizabetta Foradori, com uma casta natural da região, a uva teroldego. Como não tem intervenção humana exagerada na produção, é um vinho que só faz bem à saúde e faz viajar exatamente ao terroir da região de produção.

Mulheres que roubam a cena
Conheça importantes personagens femininas protagonistas da história do vinho no mundo

Jancis Robinson: é a crítica de vinhos mais respeitada do mundo, foi a primeira mulher a receber o título Master of Wine, resultado de um exigente teste de qualificação que mede os conhecimentos no assunto. É autora de livros importantes, como o Atlas do Vinho.

Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin: viúva aos 27 anos e sem qualquer formação empresarial, assumiu o controle da vinícola do marido. Em meio a guerras, transformou a pequena vinícola em um verdadeiro império. Conhecida como a Viúva Clicquot, fez do produto um sinônimo de luxo e tornou-se uma lenda na França.

Lily Bollinger: comandou os destinos da vinícola da família com firmeza mesmo diante das dificuldades que Champagne viveu durante a 2ª Guerra Mundial. Figura amada na região, sempre era vista andando de bicicleta pelos vinhedos todos os dias. 

Antónia Adelaide Ferreira:
essa portuguesa também despertou para os negócios após ficar viúva, porém, havia recebido a Vinícola Ferreira como herança do pai, que já fabricava vinho do Porto. Lutou contra a falta de apoios de sucessivos governos portugueses, que não acreditavam no potencial vinícola do país. 

Donatella Cinelli: fundou, em 1993, o Movimento Turismo do Vinho e inventou a Manifestação Vinícola Aberta, que contribuíram significativamente para incrementar o turismo de vinho na Itália. Donatella criou seu próprio negócio, o Casato Prime Donne, em Montalcino, uma vinícola onde só trabalham mulheres.

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