Música para a mente

Música para a mente

A psicóloga Marina Belelli relaciona músicas com a psicologia e retrata a mudança social e interativa por parte da arte

Desde quando nascemos a arte, principalmente as músicas, faz parte das nossas vidas. Das cantigas de ninar às músicas da adolescência. Com isso, a personalidade e os gostos são construídos. A música no desenvolvimento contribui para a integração da sensibilidade e da razão, colabora com a comunicação, expressão corporal e socialização. Além disso a música é um momento pode se tornar um momento de reflexão. A psicóloga Marina Belelli, formada na Universidade de São Paulo e blogueira no Portal Revide, conta sua relação entre a música e a psicologia; Marina atualmente trabalha no Centro de Referência de Assistência Social.

Qual é a sua história com a música e a psicologia?

Eu comecei a fazer aula de piano com três anos de idade. Minha mãe sempre gostou de música clássica e ela disse que eu acostumava brincar fingindo que estava tocando. É muito engraçado isso porque eu não era nem alfabetizada ainda, então a minha experiência com a música vem antes da própria escrita. Eu não tenho nem a memória de como consegui aprender, de tão pequena que eu era, depois participei de um conservatório e de corais, como da orquestra sinfônica de Ribeirão. Eu tinha um pouco de medo de apostar na música como profissão, e já gostava muito de psicologia, área na qual eu me formei. 

Qual é a conexão entre a música e a psicologia?

A arte em si tem muito a ver com a psicologia. Através da arte expressamos o que estamos sentindo, os nossos conflitos. Às vezes pode ter uma função catártica. De todas as artes, a música é a que me toca mais, é a que mais me conecta com o que eu estou sentindo. Por isso comecei a escrever sobre o que determinada música está me dizendo a partir das minhas experiências e das relações que eu faço com a psicologia. Ao mesmo tempo que a música cumpre um papel de te levar para uma outra realidade, muitas vezes ela ganha essa função de te trazer para aquilo que você está vivendo, essa é a relação que eu tenho particular com a arte.

Como você avalia a música para o desenvolvimento psicológico e social das pessoas?

Se formos pensar no desenvolvimento de forma mais ampla, a música é muito importante para o desenvolvimento da criança. Ela afeta no próprio aspecto físico também, porque a música mexe muito na questão corporal como bater palma, se batucar, dançar. É importante para as crianças essa arte para a evolução delas. Sem falar da música em grupo, que eu acho que favorece muito a sociabilidade entre as crianças.

Você acredita que a arte também é responsável pela formação da personalidade de um indivíduo?

Não podemos pensar que uma coisa determina a outra. Acredito sempre na interação entre ambas. A pessoa faz parte de uma cultura, tem contato com diversas manifestações culturais durante a sua vida e com algumas ela se identifica, não só por si mesma, mas também do grupo no qual ela faz parte. Também tem a questão da própria produção cultural dela, então acredito que é algo interativo. A personalidade da pessoa pode variar por conta disso.

Para você como seria a sociedade, caso não existissem a cultura e a arte?

Não dá para pensar no ser humano sem arte, não tem como pensar em uma sociedade sem uma manifestação artística. Seria uma humanidade desumanizada, por assim dizer, até nas sociedades mais primitivas, existiam desenhos nas cavernas. O ser humano tem a coisa do campo simbólico, temos a necessidade de representação do que a gente vive. Sem a arte seria a mesma coisa que desumanizar o homem, o que nos torna diferente. A arte é essencial e transforma o que vivemos.

A psicologia explica de alguma forma, a necessidade do consumo de músicas ou de arte?

Eu não utilizaria a palavra consumo, eu acho que o ser humano tem a necessidade de dar significado às experiências que ele passa e, nesse sentido, cria a necessidade do consumo. Acredito que a arte serve para ressignificar o vivido e isso tem tudo a ver com a psicologia. A própria terapia é uma ressignificação das experiências, mas fazemos isso de outras formas com o uso da nossa criatividade, estamos sempre elaborando o que estamos vivendo e dando outros significados também. A arte cumpre esse papel, não no sentido de consumir, mas sim no sentido do esforço criativo e também de apreciar as elaborações dos outros.

Qual foi a proposta para o blog no portal da Revide e qual a vontade de escrever sobre músicas relacio­nando com sua vivência?

A proposta não foi falar sobre psicologia em si, é que a psicologia está relacionada com tudo o que eu vivo e por isso vou fazendo as conexões. Por exemplo, tem um texto meu sobre N Vidas, que é uma música do Paulinho Mosca e eu a relaciono com o luto de uma relação amorosa. O intuito não é tanto o meu trabalho com outras pessoas, mais sim, uma relação de arte comigo mesma e as ligações que realizo. A música me afeta diretamente e em um certo aspecto, ela me faz sair um pouco fora da realidade. A realidade do meu trabalho, enquanto psicóloga social é um trabalho muito árduo, então a música é uma área em que eu consigo sonhar.

Qual música você gostaria de destacar nesta entrevista?

Tem uma que eu estava tocando no piano esses dias. É uma música que eu ainda pretendo realizar um vídeo tocando, que é do compositor Luiz Tatit e a música chama Estrela Cruel. Para mim, ela fala de um amor tóxico. Eu acho essa música genial e o simbolismo para falar sobre esse assunto, que mesmo que simples você consegue captar o que está falando, principalmente nos dias atuais. 


Foto: Arquivo Pessoal

Compartilhar: