Não escolher é a melhor escolha

Não escolher é a melhor escolha

Conhecidos como ‘sommeliers’ de vacina, brasileiros que selecionam o imunizante podem prejudicar a vacinação em massa e até serem punidos em razão da postura

Os profissionais que escolhem o melhor vinho para os clientes são conhecidos por “sommeliers”. A palavra, de origem francesa, substituiu, no século XIX, o termo “échanson”, ou escanção, utilizado, na Idade Média, para se referir ao oficial da corte que servia vinho ao rei — antes, ele provava, para ter a certeza de que a bebida não estava envenenada e garantir a segurança da realeza.

Séculos depois, a expressão “sommelier” de vacina ganhou espaço com a imunização contra a Covid-19. Nos quatro cantos do país, há relatos de brasileiros que querem escolher qual imunizante receber. Atualmente, no país, estão disponíveis doses produzidas pelos laboratórios AstraZeneca (Oxford/Fiocruz), SinoVac (CoronaVac - Butantan), Pfizer e Johnson & Johson (vacina de dose única conhecida como Janssen).

À medida que pesquisas são divulgadas sobre a eficácia ou efeitos colaterais da imunização, a tendência a um laboratório é acentuada. Contudo, quem escolhe, além de prejudicar o avanço da vacinação, pode ser punido. Em Ribeirão Preto, o “sommelier” de vacina, ao se recusar a receber qualquer imunizante, vai para o final da fila e precisa aguardar uma nova campanha.

Rodrigo Stabeli, pesquisador titular, diretor da Fiocruz-SP e professor de Medicina na Ufscar, sintetiza: “a melhor vacina é a disponível”. “Quando colocadas as vacinas na vida como ela, foi possível perceber que a CoronaVac, por exemplo, tem basicamente a mesma eficácia em suas duas doses que a AstraZeneca e a Pfizer em primeira dose. Portanto, escolher vacina não é um ato inteligente. Se quisermos diminuir a possibilidade de adquirir o vírus, é importante se vacinar o quanto antes”, afirma.

O fato de uma vacina possuir, por exemplo, 10% a mais de eficácia que outra não possui relevância, já que isso acontece com todos os outros imunizantes presentes no combate a diversas doenças. A vacina da Gripe Influenza, por exemplo, tem em torno de 60% de eficácia e se torna ainda mais eficaz, porque é recebida pelo coletivo.

Notícias falsas

Rodrigo Stábeli ressalta que as notícias falsas durante a campanha de imunização têm acentuado o movimento pela escolha de imunizantes. “Foram as notícias falsas que começaram colocar a AstraZeneca como a vacina que tem mais reação e, na verdade, não é esse o contexto. A Pfizer e a CoronaVac, em população mais jovem, também apresentam reações adversas, que são um efeito normal em qualquer outra vacinação”, ressalta.

Pesquisas que avaliam os resultados da vacinação indicam que as possíveis reações adversas são mais brandas do que os efeitos causados pela Covid-19 em muitos pacientes que contraem a doença. “Um cidadão que escolhe a vacina ou que se recusa recebê-la deve ir ao final da fila, além de receber uma carteirinha de proibição de entrada aos locais públicos, já que a vacinação pensada no coletivo é para preservar vidas”, sugere Rodrigo.

 

Resultados

Segundo a plataforma leitoscovid.org, na quinta-feira, 15 de julho, a quantidade de pacientes em leitos de UTI para Covid-19 em Ribeirão Preto atingiu o menor índice desde 13 de março, quando 218 pessoas estavam internadas. Até o fechamento desta edição, 216 pacientes estavam na UTI especializada.
Já o Vacinômetro do governo do Estado de São Paulo aponta que 451.016 pessoas já receberam pelo menos a primeira dose da vacina contra a Covid-19 no município. Desse total, 105.061 são consideradas imunizadas com as duas doses e 15.641 com a vacina de dose única.

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