
O caminho da volta
Com aval do governo estadual para o retorno de atividades presenciais em cursos superiores e técnicos, faculdades de Ribeirão Preto se adaptam para oferecer a segurança aos estudantes e profissionais
Texto: Cárila Covas
No dia 13 de julho, o governador João Doria e o secretário da Educação Rossieli Soares anunciaram que as atividades práticas e laboratoriais de cursos do Ensino Superior e Técnico poderiam retornar às aulas presenciais, assim como o estágio curricular obrigatório e internato dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Odontologia poderiam retornar de forma regional e gradual.
Para a retomada, ficou definido que as cidades segmentadas por direções regionais de Saúde precisariam estar, no mínimo, 14 dias na fase 3 (amarela) do Plano São Paulo. Esse período é para assegurar que a transmissão do novo coronavírus na região esteja estabilizada, evitando o risco de abertura e fechamento das instituições. Além dessa, foram impostas outras determinações, como respeitar a presença máxima de até 35% do número de alunos matriculados.
NOVOS TEMPOS
Apesar de ajustes serem feitos nesse contexto de pandemia, com adiamento de disciplinas presenciais e a substituição por aulas on-line, como recomenda o parecer do Conselho Nacional de Educação CNE/CP Nº 5/2020, além dos cursos de saúde, outros que demandam obrigatoriamente que os estudantes realizem as atividades práticas e laboratoriais, e que não podem ser realizadas por meio da educação a distância e do ensino mediado por tecnologia, foram liberados para cumprirem as atividades presenciais.
Esta é a situação da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), onde, além dos cursos de saúde, também retornaram disciplinas de Comunicação Social. Victor Custodio Pegôlo, de 22 anos, cursa a sexta etapa de Jornalismo e, segundo ele, a retomada tem sido uma boa experiência. “No início eu fiquei apreensivo. Eu pensava que não tinha cabimento o retorno nessas condições, mas, agora, vivendo a experiência, eu estou aprendendo bastante. Além disso, a Universidade está atendendo todos os protocolos, o que ameniza a insegurança”, pontua.
De acordo com a reitora da Unaerp, Elmara Bonini, a instituição está planejando o retorno às atividades presenciais há mais de três meses, pois essa volta ao campus exigiu desde readequações físicas em laboratórios e clínicas, até a aquisição de equipamentos, suprimentos, placas e banners de sinalização e comunicação. “Com a chegada do novo coronavírus ao Brasil, antes mesmo de entrarmos em isolamento social, a Unaerp montou uma comissão de especialistas para orientar e decidir medidas de proteção e segurança. Essa comissão recebeu novos integrantes e teve sua composição alterada para elaborar o Plano de Retomada às Atividades Presenciais na Unaerp, com o objetivo de deixar tudo preparado para o retorno imediato quando as autoridades governamentais liberassem”, esclarece Elmara.
O retorno gradual está sendo feito desde o dia 24 de agosto, de acordo com as decisões e especificações definidas pelos órgãos colegiados de cada curso que acontece, majoritariamente, na área de saúde. “O campus foi inteiramente revitalizado e readequado, desde a reforma física das instalações das clínicas universitárias até a higienização dos espaços, mudança nos bebedouros, aberturas de vitrôs e espaços de ventilação natural”, argumenta a reitora.
Com essas adaptações e seguindo todos os protocolos, a Universidade, que é inserida no Sistema Único de Saúde (SUS), atende à orientação municipal e volta a realizar atendimentos à população nas suas clínicas-escola, no próprio Hospital Electro Bonini e em cenários externos, como a UPA Treze de Maio, UBSs, Unidade de Saúde da Família, Hospital Beneficência Portuguesa, entre outros, onde há uma grande demanda de atendimentos que estavam suspensos e retornaram agora, atendendo ao governo municipal. “Um exemplo de mudança na estrutura para auxiliar na segurança dos colaboradores e pacientes que precisam de atendimento é a instalação das baias de separação e pias individuais na Clínica-Universitária de Odontologia”, destaca a reitora.
Elmara afirma que a Universidade está cumprindo rigorosamente as normas governamentais e está mantendo aulas on-line para a maioria absoluta das disciplinas e cursos, tendo retornado somente as práticas laboratoriais, clínicas e estágios, a fim de atender à população e possibilitar que os estudantes deem continuidade às suas formações. “Portanto, se for necessário suspender as atividades presenciais por risco de nova onda da pandemia, a Universidade cumprirá imediatamente os decretos, como sempre o fez, assumindo sua parcela de responsabilidade junto com as autoridades públicas, com os alunos e com a sociedade”, conclui.
NOVAS PERSPECTIVAS
No Centro Universitário Barão de Mauá, as atividades presenciais dos cursos de saúde retornaram em 28 de agosto. O pró-reitor de graduação, Prof. Me. Thiago Moraes, explica que esse retorno está sendo de forma planejada, por fases e de forma consciente, responsável e gradativa. “Toda a estrutura da instituição está sendo reavaliada e adaptada de acordo com as normas sanitárias. O retorno está sendo curso a curso, respeitando as especificidades de cada área e os protocolos de segurança estabelecidos para preservar a saúde de toda a comunidade acadêmica”, esclarece.
O pró-reitor destaca que, no momento, serão retomadas apenas as atividades práticas que necessitam das estruturas laboratoriais. “Todas as atividades serão realizadas mediante agendamento prévio de acordo com o planejamento estabelecido pelos docentes e coordenadores de curso considerando as normas sanitárias”, afirma Thiago.
A estudante do segundo semestre de Medicina Veterinária, Anna Beatriz Martins Amaral, de 19 anos, que até então não teve muitas experiências no curso, destaca a importância do retorno das atividades. “A Medicina Veterinária, sendo um curso da área de saúde, é de extrema importância que os alunos realizem as práticas para a melhor fixação e entendimento do conteúdo”, argumenta.
Segundo Anna, o retorno presencial, agendado para o dia 14 de setembro, trará algumas mudanças na rotina, mas, também, será uma motivação a mais para continuar os estudos. “Desde o início do isolamento social, estive a maior parte do tempo em minha casa. Essa mudança vai ser, principalmente, no cuidado redobrado da higienização. Fora isso, a volta das aulas práticas do meu curso será, para mim, um incentivo e uma motivação para continuar estudando e aplicando esses conhecimentos para poder me tornar uma ótima profissional”, explica a estudante.
EM AVALIAÇÃO
Segundo o diretor acadêmico Anderson Romanello, do Centro Universitário Moura Lacerda, desde o início da pandemia do novo coronavírus, a instituição montou um comitê interdisciplinar para acompanhar a situação. “Esse comitê é responsável pelo planejamento e implementação dos protocolos da retomada e que avalia, diariamente, as orientações, os decretos governamentais, as informações e as diretrizes das entidades do setor”, detalha.
O Centro Universitário ainda não retornou com qualquer atividade presencial, mas garante que está trabalhando na possibilidade de um retorno gradual das aulas práticas. “Estamos realizando todas as adaptações necessárias na infraestrutura de nossos prédios e unidades. Pretendemos retornar assim que todas as condições estejam estabelecidas e consolidadas e as orientações, tanto estaduais quanto municipais, apontem para essa condição de forma que possamos fazê-la com total segurança para nossos alunos, docentes e colaboradores administrativos”, explica Anderson.
O diretor acadêmico informou que o Centro Universitário terá maior ênfase às aulas práticas e laboratoriais dos cursos e que o critério não é, exatamente, por curso, mas por característica de cada disciplina. “Seguiremos os percentuais de lotação e protocolos recomendados pelos órgãos sanitários e governamentais, como medição de temperatura, distanciamento e delimitações de espaços”, explica.
Israel Soares Rodrigues, de 22 anos, é estudante do quarto período de Economia e prevê a insegurança caso as aulas presenciais retornem ainda este ano. “Como eu moro com meus pais e ambos têm doenças crônicas e idade avançada, esse retorno presencial significa um aumento dos riscos oriundos do contato social que posso oferecer para mim e minha família”, pontua.
SÓ EM 2021...
Em um evento virtual do dia 19 de agosto, a Universidade de São Paulo (USP) anunciou o Plano USP, elaborado pelo grupo de trabalho coordenado pelo vice-reitor Antonio Carlos Hernandes que tem atuado na elaboração do planejamento de readequação do ano acadêmico de 2020.
De acordo com o vice-reitor, o Plano USP se baseia parcialmente no Plano SP do governo do Estado e é constituído por cinco fases, que vão de A a E, sendo a primeira a mais restritiva e a E classificada como “normal 2021”, quando se espera a retomada completa das atividades presenciais da Universidade e o retorno de toda a comunidade universitária. Para passar de uma etapa para outra, menos restritiva, o campus tem de permanecer em determinada fase por, pelo menos, quatro semanas.
Atualmente, dos oito campi da USP, apenas o de São Paulo poderá retomar parcialmente as atividades de forma imediata, privilegiando o acesso aos laboratórios de pesquisa. Caberá ao dirigente da Unidade de Ensino e Pesquisa a responsabilidade pela convocação dos servidores e pesquisadores que deverão trabalhar presencialmente e o número não deve ser superior a 30% do total de pessoal da área.
Com isso, as atividades presenciais para graduação e pós-graduação do segundo semestre deste ano da USP de Ribeirão Preto continuarão ser ministradas de forma remota e o teletrabalho deverá ser mantido sempre que possível.