O coração em perigo

O coração em perigo

Doenças cardiovasculares matam 30% dos brasileiros e estilo de vida é um dos principais responsáveis

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Essas doenças incluem os casos de infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca, arritmias e outros. Segundo o Ministério da Saúde, as enfermidades cardíacas atingem cerca de 14 milhões de brasileiros e provocam pelo menos 400 mil mortes todos os anos, número que corresponde a 30% de todos os óbitos registrados no país. 


“A doença cardiovascular consiste na principal causa de morte no mundo. Estima-se que representa 31% das mortes em nível global e isto, segundo as estatísticas, também é observado no Brasil, representando 30% de todos os óbitos ao ano. Sendo assim, este número pode ser considerado dentro da média mundial”, observa o cardiologista e cirurgião cardiovascular, Eduardo Cosac Paranhos.


Nunca foi tão atual e importante se falar sobre a saúde desse órgão vital e do sistema cardiovascular como um todo. Ainda mais quando se sabe que 23% dos brasileiros nunca foram ao cardiologista, de acordo com o Instituto Nacional de Cardiologia (INC). Segundo a médica cardiologista Patricia Varotti, as doenças cardiovasculares estão ligadas a fatores de risco modificáveis e não modificáveis. Entre os modificáveis estão os hábitos de vida como alimentação adequada - pobre em gorduras -, deixar de fumar, dormir pelo menos 8 horas por noite, um sono reparador, praticar exercícios físicos regularmente - no mínimo 150 minutos por semana em intensidade moderada -, ingerir com moderação álcool e controlar o stress diário. Entre as causas não modificáveis estão as doenças congênitas. 

Mulheres em risco


Levantamento do INC aponta que, entre 2008 e 2022, o número de internações por infarto aumentou no Brasil. Entre os homens, a média mensal passou de 5.282 para 13.645, alta de 158%. Entre as mulheres, a média foi de 1.930 para 4.973, aumento de 157%.   


O estudo leva em consideração dados do Sistema de Internação Hospitalar do Datasus, do Ministério da Saúde. Por isso, cobre todos os pacientes brasileiros que usam os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), seja nos hospitais públicos ou nos privados que têm convênios. Isso representa de 70% a 75% de todos os pacientes do país.


“Temos observado, nos últimos anos, um aumento crescente no número de infartos em jovens e mulheres, principalmente pelo hábito de fumar e uso de esteroides anabolizantes”, diz a médica Patricia Varotti. “Até algum tempo atrás a doença coronariana (infarto) era muito mais prevalente no sexo masculino, porém a mulher vem alcançando números cada vez maiores devido aos hábitos adquiridos e estilo de vida”, alerta.


O cardiologista Eduardo Paranhos também observa um aumento expressivo de mortalidade por doença cardiovascular em mulheres e jovens e aponta o estilo de vida como um dos principais responsáveis, mas chama a atenção para a falta de políticas públicas de prevenção, com exames e consultas periódicas, o que tornaria possível a realização precoce do diagnóstico e o início do tratamento das patologias cardiovasculares tão logo elas fossem detectadas.

 

Sintomas


O médico cardiologista Antonio Vitor Moraes Junior, presidente da Associação Brasileira de Arritmias, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca, explica que muitos quadros de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral podem ser o primeiro aviso da doença. Os sintomas de um infarto são: dor ou desconforto no centro do peito, nos braços, ombro esquerdo, cotovelos, mandíbula ou costas e, mais raramente, dor no abdome superior de forte intensidade.


“Além disso, a pessoa pode ter dificuldade em respirar ou falta de ar, sensação de enjoo ou vômito, sensação de desmaio ou tontura, suor frio e palidez. Mulheres são mais propensas a apresentar falta de ar, náuseas, vômitos e dores nas costas ou mandíbula”, observa.


Já os sintomas mais comuns de um acidente vascular cerebral (AVC) são uma fraqueza repentina da face e dos membros superiores e inferiores, mais frequentemente em um lado do corpo. Também podem ser sentidos: dormência na face, braços ou pernas, especialmente em um lado do corpo; confusão, dificuldade para falar ou para entender; dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos; dificuldade para andar, tontura, perda de equilíbrio ou coordenação; dor de cabeça intensa sem causa aparente e desmaio ou inconsciência.


Doenças cardiovasculares geralmente não dão sinais claros, mas alguns deles podem apontar para problemas que devem ser investigados. De acordo com Paranhos, a dor torácica repentina, de forte ou média intensidade e desencadeada por esforço físico ou não deve levar o paciente à procura por ajuda imediata. Ele cita também a falta de ar, desconforto torácico, dor de cabeça súbita, ansiedade e taquicardia com sintomas. “É importante destacar que, nem sempre, a doença cardiovascular produz sintomas de aviso”, alerta.

Consciência e prevenção 


As doenças cardiovasculares são silenciosas, se desenvolvem ao longo do tempo e, por isso, geralmente não apresentam sintomas no início. Por isso a conscientização e a prevenção, com a mudança de hábitos, são atitudes fundamentais.


“Mesmo estando no século 21 parece que a população ainda não se encontra bem informada sobre a prevenção de doenças cardiovasculares. Ela é um dos fatores mais importantes e, sendo a causa genética ou não, a pessoa deve procurar um cardiologista e realizar exames anuais como um eletrocardiograma, que é um exame tão simples e rápido e que nos fornece várias informações”, frisa Patricia Varotti. “Já os pacientes que possuem risco cardiovascular mais alto devem incluir o teste ergométrico e o ecocardiograma como exames de rotina, além dos exames laboratoriais”, complementa.


O médico Eduardo Paranhos coloca como essencial o diagnóstico precoce de distúrbios que afetam o coração como hipertensão arterial, obesidade, diabetes e dislipidemia (presença de níveis elevados de gordura no sangue), que são fatores silenciosos. Mas ressalta ainda a importância da aderência do paciente às orientações médicas e ao tratamento.


“Acredito que a grande maioria da população tem informações sobre prevenção às doenças cardiovasculares, mas há baixa aderência à orientação profissional”, frisa. “A prevenção inclui tanto a adoção de hábitos de vida saudáveis quanto a realização de exames regulares. O check up é importante para todas as pessoas, após a adolescência. Diante destes exames é possível fazer o diagnóstico de algumas patologias cardiovasculares. Já os exames específicos, quando necessários, são importantes para pacientes que apresentam algum sintoma cardiovascular”, explica.


O cardiologista Antonio Moraes Junior aponta que, além das intervenções em nível individual, há outras medidas tomadas em nível coletivo que podem reduzir a ocorrência das doenças cardiovasculares na população. 
“Pode-se adotar políticas abrangentes para o controle do tabagismo, construção de parques e vias para caminhadas e ciclismo com o objetivo de aumentar a prática da atividade física, criar estratégias para reduzir o uso do álcool e orientar crianças e adolescentes para refeições sadias e atividade física no ambiente escolar”, frisa. “De uma maneira geral, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Sociedades de Cardiologia do mundo todo advertem que a maioria das doenças cardiovasculares podem ser prevenidas ao seguir certos hábitos e comportamentos”, conclui.  

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