O filósofo selvagem

O filósofo selvagem

O filósofo esteve em Ribeirão Preto para uma conferência na Feira Nacional do Livro

A figura do filósofo Luiz Felipe Pondé sempre divide opiniões. Seus leitores e a crítica o adjetivam como uma pessoa de temperamento ácido, polêmico, porém, divertido. São essas características que o escritor utiliza em sua coluna no caderno “Ilustrada”, do jornal Folha de S. Paulo.

Sua participação na 13ª Feira Nacional do Livro foi motivo de uma pequena mobilização, na entrada do Theatro Pedro II, feita por integrantes da Frente Feminista de Ribeirão Preto, em função de um de seus artigos publicados, “Bonecas de Quatro” (Leia aqui), onde o filósofo aborda questões do feminismo e  refere-se ao movimento social como “a nova forma de repressão social do sexo”.

Para Pondé, a figura feminina é a melhor coisa que existe no mundo, em todos os sentidos. “Não é uma questão só sexual. Interesso-me pelas aspirações e as inconstâncias do ser. Do ponto de vista político e social acho que elas têm que trabalhar para realizar seus sonhos e entender esse rolo que é ser mãe e manter um casamento. E acho legal que elas vivam uma superação do feminismo da idade da pedra”, afirma.

Polêmicas à parte, o filósofo iniciou a conferência contando como surgiu a sua carreira filosófica, quando trocou a medicina, na Universidade Federal da Bahia, pelo curso de Filosofia na USP. Sobre seus textos, que, segundo ele, apresentam um teor visceral e forte, Pondé explica. “Eu não desisti da carreira médica para ‘brincar de filosofia’”.

Fã do jornalista Paulo Francis e estudioso da obra do dramaturgo  Nelson Rodrigues, Pondé conta que o estilo “visceral e forte”, presente nos seus textos publicados na “Folha”, dá-se pela influência de Nelson Rodrigues na sua vida. Durante a conferência, por meio de alguns contos escritos por Rodrigues, que tratam sobre o adultério, o filósofo expôs um pouco de “A filosofia da adúltera - Nelson Rodrigues um filósofo Selvagem”, sua nova obra, que será lançada em setembro deste ano, pela editora Leya.

“A adúltera é um arquétipo para se compreender a natureza humana, de insatisfação consigo mesma e, quando realiza algum desejo, logo cai em tédio”, explica o filósofo sobre o tema de seu livro.

A concepção do tema na “Filosofia da Adúltera”, na opinião de Pondé, não se trata só da mulher, e sim da natureza humana, assim como na obra de Nelson Rodrigues, em que há uma análise profunda da natureza humana através do adultério. “O Nelson sempre falava mais de mulher, porque ele dizia que tudo o que envolvia a figura feminina, o comovia muito. Nelson afirma em sua obra que a adúltera passa um juízo sobre o mundo. A adúltera é uma espécie de arquétipo para compreender como é difícil o ser humano viver a sua própria vida afetiva numa sociedade em que ele tem que cumprir determinados papéis”, explica Pondé.

Para o filósofo, a melhor ideia do que a natureza humana precisa, segundo Nelson Rodrigues, é o perdão. “Para ele [Nelson], não existem pessoas bem resolvidas, existem pessoas que são capazes de se perdoar”, diz.

Carreira literária
Em 2012 Luiz Felipe Pondé lançou “O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”. O livro, segundo o ranking da revista Veja, integrou a lista dos mais vendidos naquele ano.

O filósofo começou a escrever para “pessoas reais” (não acadêmicos), a convite da editora Leya, em 2010, com o livro “Contra um mundo melhor: Ensaios do Afeto” de 2010.

A intenção da editora portuguesa Leya, recém-chegada a Ribeirão Preto, recorda Pondé, era lançar uma série de livros que ficassem entre a academia e o mercado. “Relutei, mas ela conseguiu me convencer e, devido às minhas colunas na Folha, aprendi a escrever numa linguagem menos acadêmica”, conta.

Pondé é autor dos livros “O homem insuficiente: Comentários da Psicologia Pascaliana” (2001); “Conhecimento na desgraça: Ensaio da Epistemologia Pascaliana” (2004); “Crítica e profecia: filosofia da religião em Dostoiévski” (2003); “Do pensamento no deserto: Ensaio de Filosofia, Teologia e Literatura” (2009); “Contra um mundo melhor: Ensaios do Afeto” (2010); “O Catolicismo Hoje” (2011) e “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” (2012).

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Texto: Bruno Silva
Fotos: Ibraim Leão

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