O poder da alimentação adequada

O poder da alimentação adequada

José Eduardo Dutra de Oliveira defende a importância da alimentação na prevenção de doenças e no desenvolvimento do indivíduo

"Você é o que você come”. A frase, relacionada ao reflexo da alimentação no organismo, na saúde e na aparência das pessoas — e de qualquer ser vivo — também é a base de anos de estudos do médico e professor José Eduardo Dutra de Oliveira, pioneiro em Nutrologia, especialidade médica clínica que se dedica ao diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças do comportamento alimentar.

Dutra formou-se em 1951 pela Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu doutorado em Fisiologia (1957), na área de Nutrição Clínica. Depois, passou quatro anos em estágios nos Estados Unidos e, ao retornar, iniciou seu trabalho na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, da qual foi diretor, e onde iniciou uma série de trabalhos em Nutrologia. Paralelo a isso, também criou a Unidade Metabólica, centro voltado ao ensino da especialidade, a experiências e a pesquisas do ramo com enfoque social e humano. “Realizamos estudos dos alimentos e da alimentação na saúde. Queremos ensinar às pessoas a importância da alimentação adequada”, explica Dr. Dutra.

O médico é autor de mais de dez livros, entre eles: “Ciências nutricionais”, referência tradicional do ensino de nutrição no Brasil, “Boias frias”, uma realidade nacional, que mostra a alimentação e a nutrição dos trabalhadores nas plantações de cana de açúcar, “A desnutrição dos pobres e dos ricos”, entre outros. Publicou também mais de 300 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, e vários outros de divulgação de temas relacionados à alimentação e à nutrição. Foi presidente da Sociedade Latino Americana de Nutrição (1965 a 1966), membro emérito da International Colleges for Advancement of Nutrition (2004), patrono da cadeira número 14 da Academia Ribeirãopretana de Educação (2002) e membro da Academia Ciências de Ribeirão Preto (2000). Além disso, foi membro da Pan American Health Organization, da Tulane University, da Cincinatti University e da Vanderbilt University.

Atualmente, é professor colaborador Sênior da FMRP-USP e membro correspondente da Academia Nacional de Medicina. “Gosto da área de ensino e de pesquisa”, afirma ele, que pensa em criar, em Ribeirão Preto, o Centro Médico de Referência em Nutrologia, Ensino, Pesquisa e Assistência à Comunidade. Na FMRP-USP, ainda dirige a Unidade Metabólica, da qual saíram importantes pesquisas e programas, entre eles o trabalho que deu vida ao livro “Boias Frias”, além de um estudo pioneiro sobre a soja na alimentação humana e a adição de ferro na água de creches para prevenção da anemia. “Quando chegamos às creches, 68% das crianças estavam anêmicas. Quatro meses depois, já com a água fortificada com ferro, este número reduziu para 28%. Depois de mais um tempo, apenas uma criança tinha anemia”, conta o médico, que apresentou o programa em creches de Ribeirão Preto e da região — Pontal e Orlândia estão entre as cidades. “É um exercício que temos feito, pois todos têm direito à boa alimentação, que significa comer com qualidade e quantidade adequadas. Muitos programas do governo dão a comida, mas não ensinam a comer. Nos últimos 20 anos, têm aparecido crianças gordas e anêmicas. Gordura não é sinônimo de saúde”, expressa.

Dutra defende a importância da nutrição desde a gestação. “A criança bem alimentada, quando chega à fase adulta, tem muito menos doenças do que aquela que não é bem alimentada. Todo mundo devia tomar conta da alimentação da mulher porque vai influenciar no neném quando ele nasce. Se ele toma o leite materno, que é o alimento ideal, em quatro meses dobra de peso, cresce bem, só com aquilo. Por isso, também destacamos a importância do leite materno. Leite de vaca é o melhor alimento para o bezerro. Temos que dar ênfase ao aleitamento materno e ao acompanhamento da alimentação periódica do indivíduo”, destaca.

Uma das principais mensagens reforçadas pelo professor é a boa alimentação como parte de todo programa de saúde pública dos governos federal, estadual e municipal. Segundo ele, há preocupação geral com a cura dos doentes e pouca dedicação à prevenção de doenças, o que se consegue basicamente com alimentação adequada. “A obesidade é a maior epidemia e as doenças do coração são as maiores causas de morte. É preciso saber qual o estado nutricional da pessoa, que deve ser muito mais preventivo, sendo que hoje é muito mais curativo. Colesterol alto, acidente vascular cerebral, hipertensão e alguns tipos de câncer também têm relação com a alimentação do indivíduo, que deve ser uma forma de prevenir doenças. É muito mais fácil do que tratá-las depois”, aponta. Sobre a obesidade, o médico explica que existe a influência genética, mas também depende da comida que a pessoa ingere. A parte preventiva é extremamente importante. “Melhor aprender a comer direito e evitar tratamentos”, conclui Dutra.

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