O valor da escuta

O valor da escuta

Presença de psicólogo na escola se mostra essencial para dar suporte e orientação aos jovens

Um levantamento do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) indicou que 36% dos jovens brasileiros desenvolveram quadros de ansiedade e depressão durante a fase mais aguda da pandemia da Covid-19 e muitos ainda carregam consigo estes transtornos, ou pelo menos as consequências deles. Mas não é só isso. Passado o período mais crítico da pandemia, outros assuntos se somam aos antigos em uma lista de preocupações e angústias. Segundo Franco Giagio, coordenador pedagógico do Colégio Faap de Ribeirão Preto, mesmo com o arrefecimento da pandemia e o retorno das aulas presenciais, as lacunas deixadas pelo afastamento da vivência escolar, familiar e social ainda se apresentam com uma maior busca por orientação e apoio psicológico oferecidos pelas instituições de ensino. 


“Além dos prejuízos acadêmicos e socioemocionais provocados pela pandemia, a juventude atual lida com grandes desafios: a questão ambiental e as possíveis transformações pelas quais o mundo poderá passar no médio prazo e a revolução que o mercado de trabalho deverá sofrer com tecnologias como a Inteligência Artificial são variáveis importantes que gerações anteriores não precisaram experienciar”, diz.  Este é, certamente, um cenário desafiador para profissionais que integram a equipe escolar, já que a instituição de ensino hoje se coloca como um dos principais pilares de suporte e orientação aos jovens, juntamente com a família.  “Essa nova realidade exige muita responsabilidade e empatia, além de uma atuação mais próxima à família, indicando a possibilidade de ação na promoção da saúde mental e qualidade de vida”, frisa.


Escuta qualificada


A psicóloga e orientadora profissional Marina Candiani Meles, também ressalta a existência de efeitos e resquícios deste momento histórico (pandemia) para os adolescentes, o que pede um olhar sempre atento por parte da família e dos profissionais de saúde mental. “As queixas são variadas e subjetivas, mas podemos apontar, de maneira geral, ansiedade, insegurança em relação ao futuro, quadros depressivos e de insônia, entre outros”, afirma. Uma escuta qualificada, segundo ela, é importante para conhecer os sentimentos e angústias que são sempre individuais, oferecendo suporte em situações que requerem uma atenção mais focada. Ela cita ainda a orientação profissional como auxílio no processo de escolha de carreira e futuro e, especialmente, uma comunicação aberta e direta com as famílias, tanto em orientações quanto ao acolhimento a questões mais contextuais. 


Neste sentido Franco Giagio salienta a importância da capacitação e qualificação dos profissionais que atuam no ambiente escolar, com formação continuada para atender as demandas que mudam de forma cada vez mais rápida.  “A escola é onde os jovens passam parte significativa do seu dia. Neste sentido ela é parte importante na busca pela solução e melhoria de qualidade de vida dos seus educandos”, enfatiza. Marina Candiani reforça a importância da presença de um psicólogo na equipe escolar para auxiliar no desenvolvimento dos alunos, acompanhando-os em suas possíveis necessidades emocionais e comportamentais.  “Buscar a prevenção e a promoção da saúde e bem-estar do jovem, rastreando questões que influenciam a sua evolução e atuando com um olhar sistêmico e integrado por meio de ferramentas capazes de promover a reflexão, humanização e conscientização”, observa. 

 

Rede estadual


No final de agosto a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc) iniciou o Psicólogos nas Escolas, um programa inédito na rede estadual com 550 psicólogos que passam a integrar o quadro das unidades de ensino em todas as regiões do Estado.  Atrelada ao Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva), a contratação beneficiará todas as regiões do Estado e tem como objetivo melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. O programa Psicólogos nas Escolas prevê que esses profissionais atuem principalmente em conjunto com os professores orientadores de convivência (POCs) e diretores escolares e, em nível regional, com os professores especialistas em currículo (PECs) do Conviva, a fim de apoiar o desenvolvimento de ações do plano de melhoria da convivência escolar.


Cada profissional vai atuar por 30 horas semanais, no horário de funcionamento das unidades escolares às quais estão vinculados. Entre as atividades do profissional estão a elaboração e promoção de formações e dinâmicas com a equipe escolar e estudantes para prevenir e mitigar conflitos. O atendimento individualizado, segundo a Seduc, é permitido apenas em caráter de exceção com orientação e encaminhamento para as unidades de saúde. A Secretaria informa que serão investidos R$ 126 milhões no programa. 

 

FATOS 

• As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos.

• Metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.

• Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes.

• O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

• As consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades.

Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde

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