Olhar inspirador
Atento a tudo que o cerca, o cartunista Caetano Cury Nardi transforma situações do cotidiano em quadrinhos
Com jeitinho pacato — herança da infância em Guaxupé MG — e muito talento Caetano Cury Nardi conquistou fãs, histórias e prêmios através de seu trabalho com os quadrinhos.
Definidos pelo intelectual italiano Ricciotto Canudo como nona arte, os quadrinhos começaram a fazer parte da rotina do radialista logo na infância quando produzia livrinhos com poemas e ilustrações.
A paixão pelos desenhos foi amadurecendo junto com Caetano, que em 2002 lançou-se profissionalmente no mercado, fazendo charges para um jornal de Guaxupé e em 2006 o artista lançou o blog “Tirinhas do Pança”, onde publica seus trabalhos até hoje.
Inspiração não falta para o artista, que consegue ver de modo singular uma história atrás de cada acontecimento. “O mundo é muito rico em inspiração. Uma volta no shopping, uma saída à noite, um caminhada. Sempre aparecem ideias de todos os lados. A vida comum é minha fonte. E ao longo do tempo observei também os mestres dos quadrinhos e procurei extrair um pouco de cada um: Bill Watterson, Angeli, Liniers, Fábio Moon e Gabriel Bá, André Dahmer, e claro, Henfil”, comenta o cartunista.
São mais de 600 trabalhos, divididos entre tirinhas, charges, cartuns e ilustrações, obras cujo artista define como uma terapia. “Atualmente meu trabalho tem sido um Divã. A folha em branco é um bom analista”, diz bem humorado.
Entre as obras mais conhecidas do cartunista estão a Caverna do Jedi, uma série que mistura personagens do filme Star Wars com personagens do desenho Caverna do Dragão, Os Oitentinhas, série que concorreu ao festival de Paraguaçu Paulista e a novidade Téo & O Mini Mundo, retrato abstrato da sociedade. “Téo é poesia. É uma busca por um sentido na vida. Dar vida para essa série tem sido muito empolgante. A todo momento surgem ideias. Téo é um menino que passa a vida observando pessoas que moram na lâmina de um microscópio. É um mundo vastíssimo, embora minúsculo, e no meio dessa observação, ele encontra momentos de alegria e tristeza”, argumenta.
A cada momento o cartunista gosta de desenhar algo diferente. “Hoje estou numa fase bem reflexiva, então a tirinha é uma válvula de escape, dá para criar muito dentro de uma mesma história. Quando morava em Guaxupé, fazia mais charges locais, tirando sarro com os políticos”, relembra.
Nardi lamenta que o trabalho artístico, apesar de gratificante, ainda seja marginalizado pelo brasileiro. “Como em qualquer trabalho existe dificuldade, mas a falta de valorização poderia ser mudada. Para ser valorizado, tem que ser muito bom. E tenho consciência que o humor gráfico raramente será considerado arte”, ressalta.
Atualmente, Caetano tem trabalhado nas tirinhas do Téo & o Mini Mundo, contudo, o cartunista não descarta a possibilidade de publicar alguns de seus trabalhos. “Vira e mexe tem tirinhas minhas em livros didáticos, naqueles exercícios “o que o autor quis dizer com...”. Mas sobre personagem meu ainda não, tenho muita vontade de ver o Téo impresso por aí”, confessa.
Selecionado cinco vezes no Salão Internacional de Humor de Piracicaba e em outros festivais como o de Paraguaçu Paulista, Caetano guarda com carinho as lembranças dessas seleções e frisa a importância de um trabalho bem feito, principalmente na área das artes. “É fácil até demais fazer humor no Brasil. Aqui é um país-piada, com um povo que não leva as coisas muito a sério. O problema é que todo mundo faz humor hoje. De cada dez postagens no Facebook, nove são piadas. É tanta informação que ninguém consegue absorver direito, fixar, enfim. O humor tem que ser sentido e refletido com a alma”, desabafa.
Para Caetano, os quadrinhos retratam os problemas sociais, porém nem sempre através do humor. Segundo o cartunista as melhores tiras são as que fazem chorar. “Se a gente chora, ou se emociona, é porque vivemos aquilo. Ou seja, o quadrinho é um espelho”, finaliza.
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Texto: Pâmela Silva
Fotos: Julio Sian