Orgânicos à mesa

Orgânicos à mesa

Alimentos orgânicos: eles estão ganhando a mesa da população de Ribeirão Preto e região

Em busca de uma alimentação saudável, composta por produtos cultivados de forma natural e sustentável, os brasileiros consomem cada vez mais produtos orgânicos, cultivados sem adição de agrotóxicos. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, a produção nacional aumenta de 15% a 20% por ano. Mais otimista, o Projeto Organics Brasil, instituição que reúne membros da iniciativa privada, entidades governamentais e do terceiro setor, aponta que o consumo cresce, em média, 40% ao ano.

Além da isenção total de produtos químicos em seu cultivo, os alimentos orgânicos são produzidos respeitando aspectos ambientais, sociais e culturais de cada região. Seja nas prateleiras dos supermercados, nas feiras livres ou entregues em domicílio, hoje, o consumidor encontra uma imensa variedade de produtos orgânicos, além das hortaliças e frutas, como café, ovos, carnes, leite, mel, cereais, vinhos e até cosméticos e tecidos, produzidos a partir de matérias-primas isentas de produtos de origem química.

Apoiados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), instituída pelo governo federal, os produtores rurais que investem no sistema ganham espaço no mercado nacional e internacional. Para ampliar o cultivo e o consumo desses produtos até 2014, a Comissão Nacional de Agroecologia — formada por representantes de órgãos ambientais e agroecológicos, entidades do executivo federal e representantes da sociedade civil —, a Produção Orgânica e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) querem elevar o número de famílias envolvidas com a produção orgânica em bases agroecológicas de 200 mil para 300 mil. Também estão previstos o aumento da distribuição de sementes, a qualificação dos produtores e da assistência técnica.

Por meio da Política Nacional de Agroecologia, o governo também planeja ampliar de 2% para 15% a participação de produtos orgânicos nas compras governamentais. Com a campanha “Brasil Orgânico e Sustentável”, o Governo quer divulgar os selos de produtos orgânicos, da agricultura familiar, do comércio justo e solidário e com indicação geográfica.

Uma das ações para ampliar o consumo de orgânicos é levá-los para as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, fazendo com que alimentos, bebidas, cosméticos, artesanato e outros itens, sejam comercializados na rede hoteleira e em bares, restaurantes e supermercados. Gerida pela Associação Brasil Orgânico e Sustentável (Abrasos), formada por agricultores familiares, setor empresarial e sociedade, a iniciativa poderia beneficiar cerca de 400 mil famílias de agricultores familiares, povos tradicionais, extrativistas, ribeirinhos e quilombolas em todo território nacional.

São famílias como a de Luciana Cristina Alves, do sítio Ridelutha, de Santa Rosa de Viterbo. O cultivo de hortaliças que no início era apenas para consumo próprio, hoje se transformou na principal renda da família. Certificada desde 2006, Luciana explica que entre as principais mudanças no sistema de cultivo adotado estão compostagem, fossa séptica biodigestora, barreira de proteção, conservação de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e consorciação com o mato nas culturas. Para agregar valor aos produtos, a família também passou a produzir doces, geleias e polpas de frutas congeladas.

O sítio é credenciado pela Associação Agroecológica Terra Viva (AATV), de Ribeirão Preto e região, certificadora responsável pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG). “Nosso compromisso é oferecer verduras, legumes, raízes e frutas orgânicas fresquinhas, colhidos diariamente e vendidos direto ao consumidor”, ressalta Luciana. A produção, estimada em uma tonelada por semana, é distribuída em Ribeirão Preto, Jaboticabal e região.




Culturas consorciadas

Na Fazenda Divindade, em Sales Oliveira, a proposta vai além do sistema orgânico convencional. A proprietária Clarissa Chúfalo Pereira investe em culturas consorciadas, com produtos resultantes de safras anuais e perenes dividindo o mesmo espaço e tempo. São os chamados sistemas agroflorestais e hortas “sucessionais”, cultivados em círculos, respeitando a sequência natural de uma floresta. As plantas são regadas com água de mina, protegida por árvores estrategicamente cultivadas para conservação dessa fonte.

Um único canteiro chega a ter mais de dez produtos consorciados. O cuidado na colheita e na manutenção é muito maior do que em um hectare de apenas um produto, como alface, por exemplo. “Isso gera um aumento de biodiversidade no mesmo espaço. A vantagem é que quando aparece uma praga ou doença, logo surge um predador natural para combatê-la, pois o sistema tenta manter o equilíbrio natural”, aponta a produtora, que cuida da fazenda em parceria com a mãe e sócia, Silvia Maria Chufalo.

As podas são usadas para ciclagem de nutrientes nos solos, enriquecendo-o de forma natural e imitando, assim, a estratégia das florestas naturais. “Não usamos nenhum tipo de agrotóxico ou de fertilizante artificial. Quanto ao manejo orgânico, não tenho dúvidas sobre os benefícios e as vantagens para o ser humano e para o meio ambiente”, frisa Clarissa. Hortaliças, legumes, frutas, pimentas de vários tipos e até madeira de lei nobre, como a Teca, são produzidos na Fazenda e comercializados na região.

Para adubar as plantações, Clarissa usa uma compostagem preparada com esterco de galinha, terra e outros resíduos orgânicos, como restos de folhas e de alimentos, devidamente descansado para estabilizar a relação entre carbono e nitrogênio. Para ela, os alimentos orgânicos são superiores aos alimentos convencionais tanto do ponto vista nutricional quanto toxicológico, pois não foram tratados com agrotóxicos sintéticos. “Já foi comprovado que o cultivo especial preserva um teor maior de nitratos, de vitamina C e de compostos fenólicos, úteis ao sistema imunológico do organismo. É importante esclarecer que os orgânicos não emagrecem, mas seu cultivo mais saudável contribui para uma alimentação de mais qualidade”, alerta Clarissa.

Para o clínico geral e secretário da Associação Terra Viva, Paulo Neves Júnior, são muitos os benefícios de uma alimentação saudável com produtos orgânicos. Além de evitar intoxicações de longo prazo que possam provocar doenças cancerígenas, alérgicas ou mutações genéticas, esses produtos contribuem para aumentar a quantidade de vitaminas, fibras, entre outros nutrientes. Segundo ele, a introdução de alimentos orgânicos é uma proposição de saúde que, associado a outros fatores, tais como exercícios físicos, não consumir cigarro e álcool, fará com que a pessoa tenha menor probabilidade para adoecer. “É uma concepção de estilo de vida saudável”, aponta.

Responsável pelas certificações e pelo acompanhamento das produções orgânicas na região de Ribeirão Preto, o Terra Viva foi fundado em agosto de 2002 e agrega consumidores, comerciantes e produtores de alimentos orgânicos. A entidade está registrada no Ministério da Agricultura e Pecuária entre as entidades certificadoras de produtores agroecológicos para agricultores familiares. Com uma parceria com a Associação de Agricultura Natural de Campinas (ANC), participa da certificação das demais categorias de produtores rurais.

Banco de sementes

Para difundir os sistemas de produção mais naturais, como os orgânicos e a agroflorestal, o engenheiro agrônomo, administrador da Fazenda São Luiz, em São Joaquim da Barra, e presidente da Terra Viva, Rodrigo Junqueira Barbosa de Campo, criou um banco de sementes. Ele explica que a iniciativa está sendo realizada em parceria com o Ministério da Agricultura e com agricultores da região. “O objetivo é produzir sementes variadas, usadas habitualmente nas mais diversas produções agrícolas, florestais, ligadas à cultura e à segurança alimentar, por agricultores agroecológicos”, reforça Rodrigo.

O projeto, idealizado em 2012, teve a primeira reunião na loja Floresta Produtos Naturais, de Ribeirão Preto, da empresária Maria Dilma Bicalho Favacho. Além de Rodrigo, o encontro contou com a participação de Sueli Silva, integrante do Terra Viva, e Denise Amador. Sueli aponta que, hoje, cerca de 70% da produção de orgânicos que vai à mesa vem da agricultura familiar regional. 

Pioneira na comercialização de produtos naturais e orgânicos na cidade, Dilma revela que já existe uma infinidade de produtos orgânicos: arroz, feijão, trigo, soja, sucos, café, temperos e até alguns tipos de castanhas, como a do Pará, a de caju e a macadâmia. Na loja, o cliente encontra os produtos embalados ou a granel, e também podem saborear algumas das receitas preparadas no local, como pães, sucos ou biscoitos.

Imunidade aumentada

Adepta de uma alimentação natural, o casal Paula e João Fernando de Araújo e os filhos Theo e Clara não abrem mão da qualidade nutricional dos alimentos orgânicos, consumidos há mais de sete anos. Além de ter aumentado a imunidade do organismo, Paula notou mudanças positivas também no comportamento dos filhos, que estão mais tranquilos. Sempre que podem almoçar em família, procuram locais que servem alimentos orgânicos, como no restaurante da escola Waldorf, onde os filhos estudam.

Em casa, Paula aponta que todas as verduras, legumes e frutas, sempre que possível, são orgânicos, vindos diretamente do sítio Ridelutha, de Luciana. “Também não comemos carne vermelha, preferimos leite natural ou de arroz. O meu marido já cortou o açúcar e os produtos derivados do leite”, enfatiza Paula. Na loja de Ana Paula Ferreira, a preferência também é pelos orgânicos. “Eu compro para consumo próprio e também para produzir as receitas servidas aos consumidores, como sucos, salada de frutas, tortas e bolos. Sem adição de substâncias químicas, os produtos têm uma qualidade superior. São mais saudáveis”, aponta a empresária.

Mudas orgânicas

Na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de Ribeirão Preto, o engenheiro agrônomo Sérgio Veraguas Sanches antecipa que o órgão oferece assistência técnica gratuita, sementes e mudas de várias espécies de verduras, legumes, temperos e frutas. Tudo é cultivado de forma natural, atendendo a um rigoroso critério técnico, para oferecer uma planta ainda mais saudável, imune a doenças e pragas.

Onde encontrar:

- Sítio Ridelutha Em Ribeirão Preto:

- às quartas-feiras das 7h às 13h no estacionamento da escola Waldorf
- aos domingos pela manhã na feira livre da Av. Portugal
- às terças-feiras no Condomínio Hípica
- entrega de sacolas orgânicas a domicílio às terças-feiras a partir das 7h

Em Jaboticabal:
- aos domingos pela manhã na feira livre no Lago Municipal (box 48)
Tel.: (16) 9174.6285 em Santa rosa de Viterbo
https://lucianaorganicos.blogspot.com

Fazenda Divindade
Entregas em domicílio
Tel.: (16) 3877.6330, 9722.2457 e 9715.1851

Armazém Orgânico
Rua Marechal Rondon, 47
Tel.: (16) 3446.0511

- Delícias do Sítio
R. Cavalheiro Torquato Rizzi, 1268
Pão de Açúcar

- Floresta Produtos Naturais
Rua Garibaldi, 1647
Tel.: (16) 3636.5642

- Mundo Verde Ribeirão Preto
Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1900
Tel.: 16 3610.9971

- Pão de Açúcar
Av. Independência, 1765
Tel.: (16) 3623.0921
Av. João Fiúsa, s/nº
Tel.: (16) 3620.3544
 
 
Brasil tem o maior mercado consumidor da América do Sul

Enquanto na Europa a Lei para Orgânicos tem mais de 20 anos e nos Estados Unidos, 10 anos, no Brasil a legislação entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2011, com inovação em duas categorias de certificação: por Auditoria feita por auditores externos que visitam produtores e, a Participativa, onde associações ou cooperativas de produtores podem aplicar a certificação. Apesar de nova a legalização do setor produtivo tem atraído grandes investidores, aumentado a oferta de produtos no mercado.

De acordo com a assessoria do IBD Certificações, o Brasil tem o maior mercado consumidor de orgânicos da América do Sul e está em crescimento. No país, 70% dos orgânicos são vendidos direto ao consumidor, nos supermercados e também nas mais de 100 feiras orgânicas espalhadas no território nacional. Na Alemanha esse índice é de 26% e, na Itália, de 23%. O IBD registra um crescimento anual da ordem de 20% em projetos de certificações, e tem o SEBRAE como um parceiro importante na expansão da produção nacional de orgânicos certificados.

Apenas o IBD possui 350 agroindústrias e indústrias alimentícias certificadas, desde micro empresas até grandes unidades de produção e, esse volume verificado no início de 2012, já é 20% maior em relação ao começo do ano anterior. O órgão aponta ainda que o Brasil é considerado pelos principais importadores de orgânicos – EUA, União Européia e Japão – como o país de maior potencial de produção para exportação. Cerca de 70% da produção orgânica brasileira (em valor) é exportada. A Certificadora aponta ainda que, um dos grandes desafios do setor é alinhar produção, demanda interna, exportação e o interesse das indústrias, que têm papel fundamental para alavancar toda a cadeia de matéria-prima.



Texto: Rose Rubini
Fotos: Carolina Alves
Diagramação: Lucas Chaibub

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