
Os protagonistas da vez
Os pais têm demostrado interesse em fazer parte da vida dos filhos desde o início
Na maioria das vezes, o sonho de ter um bebê é relacionado, automaticamente, ao sexo feminino. Desde cedo, as mulheres são estimuladas a pensar na maternidade, a começar pelo cuidado com as bonecas, por exemplo, e quando chega a hora, são elas que encararam uma série de desafios: gerar a criança durante os nove meses, sofrer com as alterações hormonais, lidar com as novas dimensões do corpo e amamentar são apenas alguns deles. Essas funções são, por natureza, exclusivamente da mãe.
Mas os homens de hoje estão empenhados em assumir um certo protagonismo nessa história também. A figura paterna tem sido cada vez mais importante e presente, tanto durante a gestação, quanto depois do nascimento. Eles sonham em formar uma família, aprendem a trocar fraldas, dar banho e fazer a mamadeira, contam os dias para ver o rostinho dos filhos, perdem o sono imaginando como será o futuro e se sentem honrados por celebrar o Dia dos Pais.
Pais de primeira viagem
Este ano, a data, comemorada no dia 11 de agosto, terá um gostinho especial para Guilherme do Nascimento Fontanesi. O motivo é Felipe. Mesmo com sete meses e ainda escondido na barriga da mãe, ele dá novo sentido à vida do empresário. “Sempre quis ter um filho. Logo que casei com a Tatiana, há pouco mais de um ano, essa ideia ganhou força. Depois de muita conversa, decidimos que era a hora certa. A partir desse momento, já comecei a me sentir pai”, revela. A confirmação da gravidez fez com que esse sentimento crescesse ainda mais. “Cheguei em casa para almoçar e a Tati pediu para que eu pegasse um presente no carro. Quando abri a caixa, vi um exame de farmácia positivo, um livro sobre a importância da paternidade e uma camiseta com a frase: ‘Parabéns Papai 2013’. Chorei de emoção”, relembra.
Guilherme e a esposa se encantam com as inúmeras descobertas. Juntos, vão se acostumando com as mudanças, um apoiando o outro. “Não sabemos o que nos espera. Por isso, nossa união é essencial. Vou a todas as consultas e a todos os exames para acompanhar o desenvolvimento do Felipe e para garantir a saúde e o bem-estar da Tati. Estamos curtindo esta fase final. Sempre que vamos dormir, ouvimos uma música, passo óleo na barriga dela e falo para o meu filho o quanto ele já é amado. Confesso que nunca estive tão ansioso”, comenta o empresário. O pensamento de pai vai longe. Tanto que Guilherme já pensa na educação do pequeno. Quer transmitir para Felipe tudo aquilo que aprendeu com os pais e com a vida. Assim, acredita que o filho vai crescer e fazer a diferença, contribuindo para um mundo melhor.Com 39 anos, Antonio Pereira de Souza Filho passa por uma situação semelhante à de Guilherme. Casado com Daniela Souza Alvarenga há cinco anos, o médico nutria o desejo de aumentar a família, ter filhos, deixar um legado. Depois de um tempo de planejamento, começaram as tentativas. A benção veio logo e, hoje, a gestação avança para o 9º mês. “Minha esposa começou a apresentar os sinais típicos e fizemos o teste, esperançosos. Alguns dias depois, entramos no site do laboratório e tivemos a resposta: estávamos grávidos. Foi uma festa de pura alegria e gratidão a Deus por essa realização”, conta Antonio. Segundo o futuro papai, a partir daquele instante, tudo mudou: as prioridades, os pensamentos, os sentimentos e os projetos. A vontade de ver o rostinho de Débora e segurá-la nos braços é imensa, mas o casal aguarda pacientemente os dias necessários para que a bebê se sinta pronta e venha o mais saudável possível. “Acho que será como nascer de novo. Estamos nos preparando a vida inteira para isso”, completa.
As consultas, os exames e os ultrassons já fazem parte da rotina de Antonio, assim como os cuidados extras com a esposa. “Verifico se ela está se alimentando direito, se está bebendo água e descansando. Além disso, temos momentos muito especiais de interação entre os três. Coloco música, passo creme na barriga, faço carinho e converso. Ela mostra que está ouvindo com uma mexidinha, um chute, às vezes até cambalhotas”, diverte-se. Quanto a exercer a função de pai, o médico espera estar à altura do que a pequena merece. “Um bom pai deve ser, antes de tudo, um bom filho, um bom homem e um bom marido. Deve ser temente a Deus e se munir da Sua sabedoria para prover e proteger seu lar e sua família, ensinar e educar seus filhos a serem pessoas corretas, justas, altruístas e amorosas”, argumenta. Com isso, ele planeja que Débora tenha uma base concreta para ser uma mulher feliz em todos os âmbitos: pessoal, relacional, profissional e espiritual.
Quando o sonho vira realidade
Eduardo Aparicio já passou pelo turbilhão de emoções citado anteriormente. Porém, no dia 28 de março de 2013, a expectativa e a ansiedade deram lugar à plenitude, com o nascimento de Matheus. “Assisti ao parto e logo que o médico terminou os procedimentos necessários, já o peguei no colo, com a maior naturalidade do mundo, mesmo não tendo o hábito de segurar bebês. Ele é parte de mim. Queria que ele sentisse que ali, entre os meus braços, estaria seguro, acolhido. Imaginei que teria medo, que não saberia o que fazer, mas naquele minuto que olhei para o meu filho, vi que estava pronto. Minha vida mudou completamente naquele exato minuto. Foi mágico”, comenta o empresário.Durante os dias que se seguiram, o sono era artigo de luxo. “Tivemos algumas noites em claro, o que é normal. Estávamos nos conhecendo, compreendendo as vontades e as necessidades daquela pessoinha que ainda não sabe falar o que está acontecendo. A cada respiração um pouco mais forte, levantávamos correndo para olhar”, enfatiza. Com a nova rotina, os membros da família encontraram uma forma de conviver em perfeita harmonia. O Matheus tem a agenda dele, que foi incorporada a dos pais. Os horários foram acertados para que todos sejam contemplados. Para Eduardo e Naiara, o importante é estabelecer as regras, e não quebrá-las. Respeitando a hora estabelecida para comer, para tomar banho e para dormir, o bebê fica até mais calmo e não dá trabalho nenhum. Os três até viajaram juntos, sem traumas e com muita diversão.
Manter um relacionamento saudável entre o casal, depois do nascimento do filho, é um dos grandes segredos para se ter uma família feliz. “Antes de sermos pai e mãe, somos marido e mulher. Temos um dia que é nosso, que saímos para jantar, ir ao cinema, fazer um programa romântico. Para falar a verdade, nosso casamento, que já era perfeito, ficou ainda melhor com o Matheus. Somos parceiros. A Naiara é mais preocupada, eu sou mais tranquilo. Ela é mais zelosa, quer protegê-lo de tudo. Eu já quero apresentá-lo para o universo que o cerca, claro que de acordo com os seus limites. Existe um equilíbrio entre nós que faz toda a diferença”, conclui Eduardo. Dar um irmãozinho ou irmãzinha para Matheus já está nos planos do casal.
Tudo novo de novo
Aos 43 anos, Marcelino Patricio dos Santos vai ser pai pela segunda vez. A primogênita Maiara, fruto de um relacionamento anterior, tem hoje 12 anos. O fato de já ter passado pela experiência fez com que ele se sentisse mais confiante quando recebeu a notícia de que a esposa, Polyanna Sampaio Candido da Silva Santos, estava grávida. “Estávamos nos preparando para isso. Já tínhamos completado um ano de casamento, realizamos um sonho em comum, que era correr uma maratona, e aí sim, decidimos que era hora de ter o nosso filho. A confirmação veio com um exame de sangue. Dei o maior grito de felicidade no consultório. Mesmo tendo vivenciado emoções parecidas com a Maiara, cada caso é um caso. A evolução dos cuidados com a gestante e com o recém-nascido, em pouco mais de uma década, é notória. Portanto, para mim, é tudo novo de novo”, afirma Marcelino. Mesmo trabalhando em Franca, o futuro papai faz questão de estar sempre por perto. Foi a todos os ultrassons e a praticamente todas as consultas, acompanhando as etapas da gravidez. Em casa, dá todo suporte para que Polyanna se sinta bem e confortável. Em longas conversas, o casal divide a ansiedade pela chegada de Maria Thereza, que tem 32 semanas, o equivalente a sete meses e meio de vida.
A pequena, inclusive, já faz parte dessas reuniões familiares. “Quando estamos juntos, sempre falo com a Maria Thereza, faço carinho na barriga, massagem e ela se mexe bastante. Penso que ela já sabe que é o papai que está falando”, brinca. Enquanto contam as horas no relógio e riscam os dias no calendário, o casal finaliza os últimos detalhes do quartinho da pequena.
Palavra da especialista
A médica pediatra Luciana Herrero (CRM/SP: 137.701) está habituada às dúvidas e às expectativas de pais e mães durante a gestação. O interesse por essa área vem desde 1994, ainda na época da faculdade, e se intensificou com o passar dos anos. Com vasta experiência, encerrou as atividades no consultório e, em 2009, fundou o Instituto Aninhare em Ribeirão Preto. O objetivo da empresa é orientar os casais, preparando a família para receber o bebê. “Ninguém vem ao mundo pronto para a maternidade ou a paternidade. É algo que se constrói, que é estimulado desde a infância, ampliado durante a gestação, concretizado no pós-parto e reconstruído no nascimento de cada filho”, comenta Dra. Luciana. Segundo a especialista, os pais têm demostrado interesse em fazer parte da vida dos filhos desde o início. Tudo começa com a relação estabelecida com a parceira, que deve ser de cumplicidade. O homem precisa ser paciente, entender as possíveis crises e mudanças de humor, evitando conflitos. “É preciso aceitar que ambos estão grávidos. A gestação não é coisa de mulher, mas de família. Portanto, deve ser compartilhada”, relata. O laço que se forma entre os pais nesse período é tão forte que o homem também acaba sofrendo alterações hormonais. Estudos revelam que, em muitos casos, há uma redução da testosterona e aumento da ocitocina, o hormônio do afeto. Isso pode ocasionar sintomas em alguns papais, como enjoos, redução da libido e sonolência.
É notável o número de participantes do sexo masculino, animados ao aprender a lidar com o bebê na prática. Esse envolvimento vai crescendo com a emoção do nascimento, com o sentimento de responsabilidade que aflora nesse instante e com o dia a dia ao lado do filho ou filha. Abaixo, confira um pequeno manual elaborado por Luciana, com dicas para o “pai grávido”.
• Conte até 25 antes de entrar em uma briga com a gestante. Lembre-se: ela esta em uma TPM tripla
• Elogie, presentei e se declare regularmente para sua gestante. A insegurança feminina é um grande motivador de brigas na gestação
• Faça cursos preparatórios sobre as necessidades reais dos bebês, especialmente antes de sair às compras para o enxoval
• Não negue sua gestação. Respeite suas próprias emoções e sentimentos, sejam eles bons ou ruins
• Busque conversar com outros pais grávidos. A troca de experiência é sempre muito proveitosa
• Não perca os exames de ultrassom por nada no mundo. Eles são extremamente terapêuticos para os papais grávidos, tornam a gravidez mais palpável, objetiva e real.
Texto: Paula Zuliani