Paternidade consciente

Paternidade consciente

Cada vez mais pais se conscientizam da importância de serem presentes na vida dos filhos e contribuírem com sua saúde emocional

Dia dos pais chegando, oportunidade à vista, não apenas de celebrar, mas também de refletir sobre o papel decisivo que uma paternidade consciente tem na formação de indivíduos bem resolvidos e felizes. Desde o século passado, muitas transformações sociais, culturais e familiares vem acontecendo — como a inserção da mulher no mercado de trabalho e o aumento de separações de casais com filhos —, o que tem acarretado em significativas mudanças no papel da figura paterna. Por isso, é tão importante, independente dos modelos paternos recebidos ou da estrutura familiar vivenciada, que os pais estejam atentos às transformações e busquem informação, principalmente porque teorias psicológicas e pesquisas científicas reconhecem a importância do papel da figura paterna no desenvolvimento e no psiquismo infantil. 


A interação entre pai e filho é considerada, por exemplo, decisiva para o desenvolvimento cognitivo e social e está associada à facilitação da capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade. “A experiência clínica mostra que, na vida adulta, as representações dessa vivência insurgem nas várias possibilidades de construção psicoafetiva, com repercussão nas relações sociais”, afirma Gomes AJ, Resende, em “O pai presente: o desvelar da paternidade em uma família contemporânea”. Mas, não param por aí os benefícios de uma paternidade consciente. Como demonstram as experiências de Tuca Nassif, Ronaldo Silva e Ystannyslau da Silva, são cada vez mais comuns exemplos de pais mais próximos dos filhos, mais participativos em diferentes aspectos das suas vidas — emocional, social e cognitivo —, e a literatura aponta como resultado desta maior presença paterna na vida da criança uma maior sensação de segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional. 

 

Arthur Nassif


Pai de Lucca Nassif, de 4 anos e Enrico Nassif, de 3 anos

Tuca foi pai pela primeira vez aos 37 anos

MEUS PAIS SÃO MEU ALICERCE. AMO-OS MUITO E ME ORGULHO EM DIZER QUE SOU FILHO DELES. AGRADEÇO IMENSAMENTE MEU PAI POR SER TÃO PRESENTE EM TODOS OS MOMENTOS E SENTIDOS DA MINHA VIDA. PARA MIM, A PATERNIDADE DÁ SENTIDO À VIDA E ESPERO QUE MEUS FILHOS A RECEBAM COMO UM PRESENTE. O MELHOR DE TUDO É CONHECER O MAIS PURO E VERDADEIRO AMOR E O MAIS DESAFIADOR É VÊ-LOS CRESCENDO

Saber que seria pai me trouxe uma sensação de felicidade e conquista, ao mesmo tempo, porque era um grande sonho e desejo da Carol, minha esposa, mas também senti medo pelo desconhecido que estava a caminho. Automaticamente, parece que vira uma chave dentro da cabeça, como se um senso diferente de responsabilidade fosse acionado, em função de tudo que está por vir. Meu pai é um grande homem. Sem dúvida, o maior exemplo de ser humano que eu conheço. Trago comigo seus ensinamentos, valores, dedicação e o exemplo da sua maior qualidade: o amor pela família. É como um mantra diário de como me relacionar com minha esposa e meus filhos, sendo um homem de família e assumindo as reponsabilidades da minha vida e dos meus atos, sejam os reflexos disso bons ou dificultosos. Isso é muito claro na minha educação e, analisando o passado e vendo como fui ensinado, foi preciso ajustar apenas a intensidade no ato de estar mais presente na vida das crianças, seja na escola, em casa ou com as amizades.


Considero a paternidade um aprendizado constante, onde você cresce junto com seus filhos. Aproveito minha facilidade de buscar informações para aprender novas formas de educar, seguindo pessoas que têm valores iguais aos meus, tantos educadores, professores, médicos, nutricionistas, coach e também trocando informações com outros pais e amigos. A Educação ou a Deseducação — hoje —, está mais dinâmica, em função do acesso facilitado a informação ou desinformação. Mais do que nunca, a presença dos pais em todos os processos de aprendizagem e educação dos filhos é fundamental. Quem eles se tornarão depende mais dos pais do que das instituições. Por isso, busco ser um pai amoroso, presente, atento, um pai treinador/educador. Amo meus meninos do tamanho do universo, que nunca acaba, e os agradeço por me fazerem aprender tanto e entender que na vida o mais importante é a presença.

 

Ronaldo José Silva 


Pai de João Victor Benassi Silva, de 22 anos, Raul José Benassi Silva, de 17 anos e Ana Beatriz Sgobbi Silva, de 8 anos 

Foi pai pela primeira vez aos 33 anos

PATERNIDADE, PARA MIM, É VIDA, ORIENTAÇÃO E PROTEÇÃO. UM FORTE MOTIVO PARA SE MANTER VIVO, DANDO O SEU MELHOR, PARA QUE OS FILHOS SE SINTAM SEGUROS, PROTEGIDOS E ORGULHOSOS DO PAI QUE TÊM. O MELHOR DE TUDO É QUE É UMA MISSÃO QUE TE MANTÉM VIVO, ALEGRE, ATIVO E O MAIS DESAFIADOR É SE MANTER SEMPRE UM PONTO DE APOIO, NA DOR E NOS SONHOS

 

Quando soube que seria pai, fiquei feliz com a notícia, claro, mas também apreensivo com a responsabilidade emocional e financeira. Na época, estava cheio de planos profissionais e, como perdi meu pai cedo, aos seis anos, sabia que, quando eu fosse pai, daria o máximo de mim nessa função. Tudo isso me fez refletir sobre a missão que é ser pai e me sentir privilegiado em recebê-la. Meu pai era farmacêutico e trabalhava muito. Naquela época, o farmacêutico era bem próximo do médico, uma figura respeitada, que aplicava injeções e ajudava a diminuir a dor das pessoas. Minha lembrança mais forte dele é atrás do balcão da farmácia, atendendo e ajudando as pessoas, mas também me levava ao campo de futebol e para a Festa do Peão. Ele chegava tarde em casa, tinha um molho de chaves pendurado na cinta que fazia barulho quando ele abria a porta. Então, eu corria para abraçá-lo. Sentia admiração por ele e virou minha referência de ética e trabalho. Minha mãe — que foi pai e mãe na ausência dele —, também me ensinou muito, principalmente a importância de me adaptar a toda situação. São ensinamentos que procuro repassar para os meus filhos.


Acho que o papel da paternidade na vida de uma criança é tudo — quando é uma relação sadia, sem toxicidade —, onde o pai ensina sobre a verdade, a fé, o correto, buscando dar direcionamento, sabedoria e orientação espiritual com o próprio exemplo. Há alguns pré-requisitos fundamentais para o ser humano ser bem formado e ter um bom convívio na sociedade, com aceitações, perdão, superações e habilidade para lidar tanto com o sucesso, como com as frustrações, podendo, assim, levar a vida mais leve e sorrir. E acho muito importante não entregar essa responsabilidade totalmente à escola.


Por isso, faço muita coisa com meus filhos. Cresci ouvindo pessoas dizerem que não viram os filhos crescerem e tento não fazer o mesmo. Sou brincalhão, gosto de contar histórias, assistir filmes juntos, ir ao circo e reuni-los em viagens ou em casa mesmo, para um churrasco, para criarmos momentos juntos. Busco me fazer presente e deixá-los livres, leves e felizes, mostrando, ao mesmo tempo, que o mundo exige respeito, maturidade, sabedoria, para que se possa trabalhar com fé, ter amigos e prosperar, para que a vida seja cheia de bons momentos e que traga felicidade. Assim, espero preencher a memória deles e o coração do mesmo sentimento que tenho pela família e pela memória do meu pai. 


Não é uma missão fácil ser pai. A paternidade exige orientar da melhor forma os princípios básicos da convivência humana, equilibrar a tríade — Deus, família e trabalho —, com simplicidade, fé e leveza.  

 

Ystannyslau Bernardes da Silva 


Pai do Mateus Guimenti Pessoa Bernardes, de 9 anos

Pai pela primeira vez aos 28 anos

PATERNIDADE, PARA MIM, SIGNIFICA SER COMPANHEIRO, AMIGO, SABER DAR COLO E APOIAR NOS MOMENTOS MAIS DIFÍCEIS. DAR AMOR E CARINHO E RESPEITAR O LIMITE DO FILHO. O MELHOR EM SER PAI É CRIAR ESSE LAÇO INTENSO DE AMOR E CUMPLICIDADE E O MAIS DESAFIADOR É APRENDER A DISCIPLINAR E PREPARAR UM FILHO PARA VIDA

 

Meu pai foi sempre uma pessoa maravilhosa para mim, um exemplo de dedicação, trabalho e honestidade. Quando recebi a notícia de que seria pai, minha principal preocupação foi se conseguiria ser tão bom pai para o meu filho como o meu foi para mim. Acho que, por isso, tenho conseguido encarar a paternidade com muita naturalidade. Só o que vejo que estou conseguindo fazer diferente do meu pai é ter mais momentos de lazer e viagens juntos. Acredito que a presença do pai na vida da criança seja fundamental. Uma figura paterna presente é decisiva para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança, e uma boa interação ajuda o filho a ter uma melhor autoestima e uma estrutura psicológica mais forte para tomar decisões na vida.


Para mim, todo pai deve buscar ser um exemplo para seu filho, não só na fala, mas também no comportamento, na vida pessoal e profissional, procurando sempre exercer suas atividades com muita dedicação, honestidade, respeito e amor ao próximo, dando carinho e colocando limites quando necessário, pois eles precisam crescer sabendo os limites. Também precisam se frustrar, serem corrigidos quando erram, reconhecer seus erros e acertos. A repreensão pode e deve ser feita, de forma amorosa, para que o filho aprenda a respeitar o próximo e seja preparado para viver em sociedade. E isso pode ser feito respeitando-o também, dando ouvido aos seus desejos, à sua opinião, conhecendo a pessoa que ele é. Acredito que essas são as condições para exercer a paternidade com sabedoria. Agindo assim, espero que o Mateus sinta o amor e o respeito que tenho por sua vida e que eu consiga transmitir os mesmos bons princípios que recebi do meu pai. 

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