Patrimônio Comercial

Patrimônio Comercial

Com 67 estabelecimentos comerciais e 117 anos de existência, Mercado Central de Ribeirão Preto recebe aproximadamente quatro mil pessoas diariamente

Referência regional em diversidade de produtos, o Mercado Central de Ribeirão Preto, o Mercadão, tem sua história intimamente ligada ao desenvolvimento econômico da cidade. Com 117 anos, abriga 152 boxes divididos em 67 estabelecimentos comerciais ativos, que somam 4.150 m² de área construída. Esse espaço democrático oferece milhares de itens de todas as regiões do país. Alimentos, bebidas, roupas, calçados, utensílios domésticos, cestarias, pedras, especiarias, temperos, artigos religiosos e de decoração, tecidos e até ferramentas são produtos responsáveis por atrair cerca de quatro mil pessoas para o local todos os dias. Aos sábados, o número de visitantes praticamente dobra.

O importante marco comercial do município ainda abastece muitas famílias de todas as classes sociais da cidade e da região. Localizado no quadrilátero formado pelas ruas São Sebastião, José Bonifácio, Américo Brasiliense e Avenida Jerônimo Gonçalves, o Mercadão gera, atualmente, 370 empregos. A edificação é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) como Patrimônio Histórico e declarada ponto turístico do município. No local simples, agradável e tipicamente familiar, as pessoas não só realizam suas compras, mas também aproveitam para passear e saborear as delícias da gastronomia nacional que já se tornaram marcas registradas do espaço, como pastéis, sucos e as refeições caseiras.

Propriedade da Prefeitura Municipal, o prédio é gerenciado pela Associação dos Comerciantes do Mercado Central de Ribeirão Preto (Acomecerp) de forma independente. No cargo há um ano, o gerente Ademir Lima Souza faz parte da equipe composta por nove diretores. São eles os responsáveis pela saúde financeira, social e estrutural do Mercadão. O comprometimento do grupo, segundo o gerente, já apresenta resultados positivos. Entre eles estão a conquista dos alvarás de vistoria e de funcionamento, emitidos pelo Corpo de Bombeiros em 2017. Apesar dos avanços, os desafios ainda são grandes. “Os principais entraves que enfrentamos são a falta de estacionamento para os clientes, o vandalismo e a mendicância de moradores de rua nas imediações, entre outros”, lista o gerente.
“Alvará de funcionamento foi uma das maiores conquistas desta gestão”, avalia Ademir
Em 2018, a meta da Associação é amenizar o calor interno do espaço com a colocação de um isolamento térmico no teto. “Também pretendemos refazer o cabeamento das linhas telefônicas e de dados, oferecendo aos visitantes uma internet de melhor qualidade, e realizar a reforma geral do escritório administrativo e dos banheiros masculino e feminino”, continua Ademir. As obras mencionadas serão executadas com recursos próprios, mas podem acontecer rapidamente com o repasse de R$ 104.105,20, por parte da Prefeitura, referente ao pagamento do aluguel do prédio à administração municipal, em 2017. 

A disponibilização da verba atende ao decreto 344/2017, publicado no Diário Oficial em dezembro do ano passado, que determina que esses recursos sejam investidos na manutenção e na preservação do Mercadão, bem como em projetos de fomento turístico. Assim explica Edmilson Carlos Domingues, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Serviços. A legislação também regulamenta a cobrança da permissão de uso de espaço no Calçadão e da locação do Parque Permanente de Exposições. 
“Aluguel pago à Prefeitura deverá retornar à Associação em breve”, aponta Edmilson
De acordo com o secretário, a Prefeitura tem investido na segurança do município, através da contratação de 50 novos guardas civis da elaboração do projeto da Operação Delegada, que autoriza que policiais militares de folga possam fazer o patrulhamento e garantir a segurança da cidade. O projeto deverá ser enviado à Câmara Municipal ainda este ano para apreciação. O secretário lembra que bens tombados podem receber verbas provenientes de leis de incentivo à cultura, como Lei Rouanet, ProAC-ICMS, entre outras. “A Secretaria está realizando estudos para viabilizar ações dessa natureza”, observa Edmilson.

Produtos frescos

Há 28 anos à frente do Rei do Queijo, o empresário Clayton Ramos encontrou na estrutura e no movimento do Mercadão os incentivos que faltavam para montar seu negócio próprio. Especializado em queijos e em bacalhau, ampliou, aos poucos, seu portfolio e, hoje, reúne uma enorme lista de itens frescos a preços acessíveis. O comerciante está otimista com as melhorias na estrutura que estão por vir. “O espaço é muito bom e os lojistas, muito entrosados”, ressalta Clayton.

Herança de família
Samara, Oswaldo, Oswaldo Aparecido, Andreia e Kauê comercializam cerca de três toneladas de produtos por semana
Na família Galo, o comércio de peixes começou com o pai, Oswaldo, que, hoje, conta com o trabalho da esposa Roseli; dos filhos Guilherme, Oswaldo Aparecido e Samara; da nora Andréia Cristina Monteiro e do enteado, Kauê. Há 31 anos, a Peixaria Galo coloca à disposição dos consumidores do Mercadão mais de 200 espécies, entre frutos do mar e peixes de águas doce e salgada, vindos da natureza e também de cativeiros. 

Em média, são vendidos cerca de três toneladas de produtos por semana, como explica Oswaldo Aparecido, que está à frente da mais nova loja da família, a Peixe e Cia., aberta no empreendimento há cerca de um ano. “A nova unidade atende a uma demanda específica, especialmente durante os fins de semana, quando já não conseguíamos expor tudo o que comercializamos”, justifica Oswaldo Aparecido. Trabalhando com o pai desde pequeno, o químico não se arrepende de ter deixado a carreira acadêmica para dar continuidade aos negócios da família. O comerciante também integra a diretoria  que gerencia o Mercadão. “Estamos bem otimistas com o trabalho que está sendo desenvolvido. Colocamos as contas em dia, estamos arrumando a casa e esperamos crescer ainda mais este ano”, estima o empresário. 

De pai para filho

O empresário Ismael Massaro mantém a Casa Massaro Comércio de Sementes e Temperos com a mesma dedicação dispensada pelo seu pai desde a inauguração, em 1926. Um dos primeiros estabelecimentos do espaço, também é uma das lojas mais procuradas pelos consumidores. Isso acontece, segundo Ismael, por causa da tradição e da diversidade de produtos. O mix da loja, atualmente, conta com mais de três mil itens, muitos vendidos a granel, de acordo com a necessidade dos clientes. “Sempre falo que o Mercadão é o vovô do shopping center, por isso, ele é fascinante e aconchegante”, opina Ismael. Por seguir os passos do pai desde muito pequeno, Ismael escolheu permanecer no Mercadão. “Apesar de ser um local simples, oferecemos um bom atendimento, geralmente, direto com o proprietário.

Além disso, dá para resolver inúmeras compras sem sair do Mercadão. Por isso, não penso em sair daqui”, garante o lojista. Ismael reconhece, no entanto, que o espaço precisa reforçar a segurança e passar por uma excelente limpeza. “Internamente, a associação cuida das instalações e da manutenção, cujas despesas são dividas entre os lojistas de acordo com a metragem do seu espaço. No entanto, falta um pouco de atenção com o entorno do Mercado”, acrescenta Ismael.

Marco comercial

Com uma arquitetura grandiosa para época, o Mercado Municipal começou a ser construído em 1899 e foi inaugurado no ano seguinte. A edificação alta, feita de tijolos de barro, tinha uma cobertura envidraçada, diferente da atual, que se destacava na paisagem. Já em funcionamento, tornou-se um marco para a cidade, abastecendo famílias de todas as classes sociais da cidade e da região. Por oito anos, a concessão do imóvel ficou sob responsabilidade do grupo Folena & Cia, indenizado pela Prefeitura em 120 contos de reis, que tomou posse do imóvel.

O antigo prédio foi atingido pelas frequentes enchentes, características da região da cidade e, no dia 7 outubro de 1942, enfrentou um incêndio iniciado por um curto-circuito. A destruição da edificação foi total, obrigando os comerciantes a improvisar barracas na Av. Francisco Junqueira. Pela falta de infraestrutura e espaço adequado para o comércio, a migração não prosperou e, aos poucos, os pontos foram desativados. 
Curto circuito deu origem ao incêndio que destruiu a edificação completamente
Um novo mercado municipal foi construído e inaugurado em 1956, após16 anos da tragédia, pelo então prefeito Costábile Romano. As novas instalações foram projetadas pelo engenheiro Jaime Zeiger, seguindo uma arquitetura moderna e com uma importante obra de Bassano Vacarini em seu exterior. Na década de 90, o empreendimento passou a ser responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp) e, hoje, está a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Serviços. 

Genialidade em relevo

Com seis décadas de existência, o painel de Bassano Vaccarini continua intrigando e encantando os visitantes do Mercadão. O mural inaugurado no dia 28 de setembro de 1958 não constitui uma obra plana e ressalta a genialidade do artista, que assina diversas peças que têm a geometria e a assimetria como destaque. No Mercadão, o revestimento com pastilhas de vidro coloridas e irreverentes brinca com a imaginação e a sensibilidade de quem passa pelo local, ora em relevo, ora em profundidade. Em julho de 2006, a Prefeitura realizou a limpeza e a reposição das pastilhas danificadas. A recuperação foi viabilizada pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp), que também retirou a grade de proteção e instalou uma nova iluminação. 

Compartilhar: