Plantas para a saúde mental
Segundo especialistas, contato mais próximo com a natureza tem efeito terapêutico inegável
A palavra biofilia vem do grego “bios”, que significa vida, e “philia”, que significa amor, afeição ou necessidade de satisfação. Biofilia seria o amor pela vida. E mais. Segundo o biólogo e entomologista norte-americano Edward Osborne Wilson, seria, ainda, o amor por tudo o que é vivo. Em sua obra “Biophilia”, publicada em 1984, ele define o termo como sendo “uma tendência natural do ser humano voltar sua atenção para as coisas vivas”. Ainda que existam poucos estudos mais aprofundados sobre os efeitos terapêuticos dessa relação, é inegável que a convivência com a natureza é algo positivo para o nosso bem-estar. Regar, podar e adubar são ações que contribuem para um estado mais leve e relaxado, desacelerando a mente. Resumindo: ter plantas (e cuidar delas) faz muito bem para a saúde mental.
Caio Diógenes Luziardi é protético dentário e conta que sempre gostou de plantas, com as quais convive desde criança, vendo o pai mexer na terra e nos vasos. “Para mim, é muito relaxante tê-las dentro de casa. Só de ver as minhas plantinhas já me sinto bem, me traz uma sensação de tranquilidade e paz”, afirma. A relação de Caio com as plantas é um compromisso diário com cuidados de rega, poda, banhos de sol e, segundo ele, muito amor. São, ao todo, 24 vasos com plantas, sendo 15 apenas na sala.
As espécies são, em sua maioria, folhagens como a costela-de-adão, o fícus lyrata (uma das preferidas com seus dois metros de altura), alocasia, begônia, antúrio e a zamioculca. “Por morar em apartamento, acho que tenho bastante, mas teria mais se coubesse”, revela. Caio destaca que, além de ser um hobby, cuidar de suas plantas é como uma terapia. “Muitas vezes, depois de um dia puxado e estressante no trabalho, eu chego em casa e começo a mexer com as plantas. Mudo de lugar, dou uma adubada e até limpo as folhas uma a uma. Em uma casa com plantas, a energia fica mais leve”, ressalta.
A psicóloga Bruna Meneghelli explica que estar cercado de plantas pode ter significados diferentes para cada pessoa. Segundo ela, pode significar um contato mais próximo com a natureza ou um foco de cuidado, hábito e prazer. “Ter plantas por perto, dentro ou fora da residência, ou, ainda, caminhar por um jardim, pode causar sensação de paz e calma, trazendo benefícios a quadros de sofrimento psíquico, como sintomas de ansiedade, depressão e estresse”, aponta. O que vai definir se esta é uma relação terapêutica ou não é o simbolismo que cada pessoa tem com o hábito do cultivo, rega, cuidados e contemplação. “Em fases de luto, por exemplo, quando as pessoas estão passando por uma perda importante, o hábito do cuidado com as plantas pode se tornar um cuidado com elas mesmas, ao se tornar uma atividade que as sustenta e lhes dá propósito durante um momento difícil de elaboração subjetiva dessa perda. Além disso, é possível tirar lições de resiliência através do cultivo e dos cuidados às plantas, observando as características e as necessidades de cada uma de acordo com o clima. Se está sol, se está nublado, se chove ou não”, explica.
Para a psicóloga, assim como as plantas, o ser humano também precisa de cuidados e apresenta necessidades que variam conforme o momento e o ambiente. “Muitas pessoas não percebem isso. Através do cuidado às plantas, é possível aprender sobre autocuidado”, enfatiza. Além de ser um recurso para momentos de tristeza ou para se distrair em meio a uma rotina cansativa e conturbada, essa pode ser uma atividade prazerosa por si só, facilitando, inclusive, o contato com outras pessoas que tenham o mesmo hobby. “Não há uma recomendação específica da Psicologia em relação ao cultivo ou apreciação de plantas, mas, toda atividade que proporcione bem-estar, elaboração subjetiva de sofrimento e que seja um recurso de fortalecimento para as pessoas deve ser incentivada. Nesse ponto, acredito que as plantas são muito bem-vindas, de qualquer forma e em qualquer lugar”, conclui.
Informações básicas para iniciantes
Cuidar de uma planta não é um bicho de sete cabeças, mas exige algumas informações básicas que podem ser fornecidas pelo próprio profissional de uma loja de plantas ornamentais e jardinagens.
Antes de mais nada, é preciso saber se a planta ficará no sol ou na sombra. E se ela exigirá muita ou pouca rega. Outras informações básicas, mas importantes, a considerar são:
• Quanto mais delicadas as espécies, mais cuidados elas exigem;
• Espécies com raízes maiores têm mais chances de recuperação no caso de erros iniciais no cuidado;
• Plantas e vasos maiores são mais visíveis e, portanto, é mais fácil se lembrar de cuidar delas;
• Entre as plantas mais indicadas para quem está iniciando na jardinagem estão os cactos, dracena, comigo-ninguém-pode, jiboia, gerânio e espada de São Jorge.
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