Por uma cidade mais criativa

Por uma cidade mais criativa

Criado em 2012, por iniciativa da ex-secretária da Cultura, Adriana Silva, e da historiadora Lilian Rosa, o IPCCIC promete resgatar a identidade cultural de RP

Bons frutos. Sem dúvida, a expectativa de qualquer semeadura. Assim, pode-se dizer, nasceu o Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais - IPCCIC, em Ribeirão Preto. Fruto da bem sucedida parceria de trabalho entre a jornalista, educadora e ex-secretária da Cultura, Adriana Silva, e da historiadora e ex-Diretora do Patrimônio Cultural, Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa, o instituto foi criado em 2012, com o objetivo de estudar a realidade das cidades brasileiras, e com base nas suas referências culturais, transformá-las em lugares criativos.

A ideia surgiu depois da experiência de ambas com a formação da Rede de Cooperação Identidades Culturais, que contou com a participação de outros 20 pesquisadores, e possibilitou a realização do Inventário de Referências Culturais de Ribeirão Preto e a criação do Programa de Preservação do Patrimônio Cultural do município. “A partir desse trabalho, entendemos que havia espaço na sociedade civil para essa atuação, então,  bolamos o IPCCIC e convidamos outras pessoas a se juntar a nós”, conta Adriana Silva.

Identidade Cultural
Tendo como braço a questão do patrimônio e como alicerce a chamada ‘economia criativa’, o IPCCIC se coloca a disposição de Ribeirão Preto, e de outras cidades, para pensar o seu desenvolvimento, mas sem perder de vista sua memória cultural.

Segundo Lilian Rosa, grande parte da população tem dificuldade em entender o que significa patrimônio e de o identificar como uma herança, como um legado cultural. “A referencia histórica precisa chegar até as pessoas, para que elas possam entender que está tudo associado, que para ir para frente não é preciso cortar suas raízes, ficar desterritorializado”, afirma Lilian Rosa.

Do ponto de vista da geração de emprego e renda, a restauração é apontada pelas diretoras do instituto como mais vantajosa. “Existem indicadores americanos que defendem a tese, afirmando que  demolir e construir tudo novo pode não ser um bom negócio. Uma nova construção gera 36 empregos, enquanto a restauração de um prédio de mesma dimensão gera 40 novos empregos e os profissionais ainda saem mais qualificados. É preciso um olhar diferenciado nesse quesito”, afirmam.

O IPCCIC se propõe a despertar e a consolidar o interesse das pessoas, a formar o cidadão na questão do patrimônio, no entanto, sua essência está no desenvolvimento  econômico pelo viés da cultura e criatividade. “Para nós esse conceito está bem definido. Só validamos como iniciativa de economia criativa, se estiver relacionada a identidade cultural da cidade”, ressalta Adriana Silva. 


Economia Criativa

Um exemplo de aplicação do conceito, está na potencialidade de Ribeirão Preto para se tornar uma referência de Turismo Cultural. “Ainda não concluímos a última etapa do estudo da cidade, mas já é possível apontar — em função da geografia, dos museus existentes e projetos nessa área —, que um bom projeto de economia criativa para Ribeirão Preto seria transformar a cidade numa referência de museus. Hoje são sete museus (cinco públicos e dois privados) existentes, e ainda temos projetos de construção do Museu da Biodiversidade (USP), do Museu do Carro Antigo, do Museu do Tempo e do Museu da Agricultura”, explica.

Ainda segundo Adriana, os museus da TAM e de Inhotim, são exemplos bem sucedidos nessa área, pois atraem um tipo de turista  — o cultural —, que consome quatro vezes mais na cidade e ainda respeita muito mais o local. “Ribeirão Preto, hoje, atrai o turista de negócios. Oferecer a esse turista algo para fazer enquanto está aqui, transformando-o em um turista cultural, pode ser considerada uma ação de economia criativa”, completa.

Para as diretoras do IPCCIC, a cidade demonstra, ao longo de sua história, uma transitoriedade muito grande, que a torna vulnerável às perdas. A cidade tem uma tendência em ser pioneira, mas não consegue manter sua posição. Um processo histórico, define Lilian Rosa. “Diferente de outros lugares, o fazendeiro do café de Ribeirão Preto, por exemplo, não era só fazendeiro, era um homem de negócios, que mantinha um pé na cidade outro no campo, visava a modernidade. A cidade foi a primeira do país, por exemplo, a ter uma siderúrgica elétrica, porque os cafeicultores investiram o seu capital nisso. Trouxeram o trem, o teatro e muitas outras coisas. Pensavam ‘se não podemos ir até a vida cultural trazemos ela até aqui’. E a cidade tem esse perfil intrínseco”, enfatiza Lilia Rosa.

“Economicamente falando, Ribeirão Preto já foi destaque por diferentes segmentos, hoje é o comércio seu forte, mas acreditamos que a economia criativa possa vir a ser o fator que a torne mais respeitada, porque ela tem essa característica. As quatro milhões de pessoas que vem comprar aqui podem  também vir consumir cultura”, diz Adriana.

Tradição no café
O primeiro passo para isso, está no reconhecimento do ribeiraopretano de sua origem. “O que somos hoje, ainda que não tenhamos um único pé de café plantado, é herança do café e da visão desses homens de negócios. O café é a nossa tradição e não sabemos disso porque ficou oculto nas camadas da história, se perdeu na transitoriedade e no tempo, mas pode ser resgatado”, afirma Lilian Rosa.

Em função disso, o IPCCIC e a Rede de Cooperação Identidades Culturais se uniram para dar continuidade ao trabalho de divulgação do patrimônio cultural de Ribeirão Preto, lançando — depois de “Filhos do Café”, —, o projeto “Paisagem Cultural do Café”, em livro e documentário. O próximo passo será o lançamento, possivelmente em janeiro, da obra “Memórias dos Cafezais”, que terá como foco a área rural e a memória das pessoas que viveram na fazenda de café.

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Apesar de incentivar e trabalhar com a publicação de obras pautadas no princípio da referência cultural, o maior trabalho desenvolvido pelo IPCCIC é o de diagnosticar a identidade do município (em termos de referência cultural), olhar para as diretrizes urbanas voltadas para o patrimônio e potencializar as características encontradas no lugar.

Com esse propósito, o instituto vem trabalhando em Bonfim Paulista. O distrito foi um dos seis pontos estudados pela Rede de Cooperação e se tornou uma importante experimentação da proposta do IPCCIC. Uma semeadura que, espera-se, dê bons frutos. “Em cinco anos, nossa expectativa é ter concluído o projeto de Bonfim Paulista e que muita gente esteja falando e se apropriando disso tudo. Esteja acreditando que as ideias criativas possam fazer a diferença”, finaliza Adriana Silva.

Veja também o vídeo de um dos projetos do IPCCIC: Artistas do Mundo



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Texto: Yara Racy
Fotos: Carolina Alves

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