Problemas do sono

Problemas do sono

A rotina de estresse, tensão física e emocional prejudica o descanso tanto quanto os distúrbios do sono

O despertador toca às seis horas e, imediatamente, o botão “soneca” é acionado. Em cinco minutos ele volta a tocar e o processo se repete por algum tempo. Por fim, faltam apenas 30 minutos para o horário de entrada do trabalho e só resta a alternativa de saltar da cama e se vestir, rapidamente, ao mesmo tempo em que se escova os dentes e prepara uma caneca de café para tomar a caminho.

O resultado desse episódio é um trabalhador estressado, tenso e cansado, que não descansou o necessário (visto que o botão “soneca” foi ativado repetidas vezes) e a produtividade baixa é motivo de mais estresse.

Ao meio dia, para aproveitar o horário de almoço, o mais prático é o “fast food”. E todo o estresse anterior só fez aumentar na fila do drive-thru, onde o carro da frente demorou para fazer o pedido e todos os demais resolveram buzinar, afinal, o tempo é curto para  todos.

No final do dia, a saída correndo do escritório para buscar as crianças que esperam há 20 minutos na escola e na natação e já ligaram duas vezes pedindo para buscá-las. Brigas no trânsito, ofensas e crianças reclamando. A cabeça parece que vai explodir a qualquer momento.

Quando, enfim, as crianças dormem e se pode descansar, o sono não vem. De bruços o pescoço dói, de barriga para cima a respiração cessa por alguns instantes, seja de um lado ou de outro, o sono simplesmente desaparece.

Essa rotina de estresse, tensão física e emocional prejudica o sono, impedindo o descanso adequado e isso torna-se um círculo vicioso, visto que quanto menos se dorme, maior é o estresse.

Segundo a Dra Daniela Vianna Pachito, médica neurologista responsável pela clínica Prossono, as tensões emocionais como depressão, estresse e ansiedade têm relação direta com as noites mal dormidas. “Mesmo que a pessoa não sofra de nenhum distúrbio, uma noite mal dormida pode causar um dia estressante criando, assim, uma bola de neve”, avalia.

Noites  repousantes
Para se ter uma boa noite de sono algumas dicas são fundamentais como adotar um horário regular para dormir e despertar, ir para a cama somente na hora de dormir e manter o corpo saudável: não fazendo uso de álcool próximo ao horário do sono; não utilizando medicamentos para dormir sem orientação médica; não exagerando nas bebidas café, chá e refrigerante; não praticando atividades físicas em horários próximos à hora de dormir; jantando moderadamente em horário regular e adequado; não levando problemas para a cama e praticando atividades repousantes e relaxantes após o jantar.

A maneira de se deitar e o colchão utilizado também têm influência na qualidade do sono e na saúde da coluna. Tanto durante o dia quanto durante o repouso é importante evitar longo período na mesma posição, por isso, para dormir é importante adotar as posturas decúbito dorsal (deitar com a barriga voltada para cima) e lateral (para os lados esquerdo ou direito) que são as mais indicadas para a coluna.
Dormir de barriga para baixo pode agravar as dores nas costas e no pescoço, além de atrapalhar a respiração, já que o rosto fica no travesseiro.

“Quem tem problema na coluna cervical, deve evitar dormir de bruços e tentar dormir de lado, com um travesseiro rígido e da altura do ombro para manter o alinhamento da coluna. Já para quem sofre de apneia do sono e ronco, o ideal é dormir de lado com um travesseiro entre as pernas levemente inclinadas. Quem tem apneia deve evitar dormir de barriga para cima, pois a língua se desloca, fechando as vias aéreas, o que dificulta a passagem de ar”, explica Daniela.

Em decúbito dorsal o travesseiro deve ser bem baixo, da altura do ombro e em lateral deve-se usar um travesseiro entre os joelhos, que deverão estar levemente dobrados. Ao dormir de costas, é indicado que se use um travesseiro sob os joelhos para dar apoio à curvatura normal da parte inferior das costas.

O colchão semi rígido é o mais adequado para se dormir e a densidade da espuma deve variar de acordo com o peso da pessoa.

Distúrbios do sono
Os distúrbios do sono mais comuns que atingem a população são a insônia (entre 30% e 40% das pessoas, sendo 15% de insônia crônica) e apneia (que atinge de 4% a 8% das pessoas) e não tem cura.

“Existem 80 tipos de distúrbios de sono e todos são associados a doenças patológicas crônicas. Esses distúrbios só podem ser amenizados por meio de tratamento contínuo.  O sonambulismo, por exemplo, é tratado com medicamentos enquanto o bruxismo com o uso do aparelho odontológico. O sonambulismo costuma atingir crianças e, quando surge na idade adulta, tende a melhorar. Já a apnéia é uma doença crônica, por isso, não melhora com o tempo. Seu tratamento deve ser contínuo, e raramente, há a possibilidade de cirurgia”, comenta a neurologista.

- Apneia do sono:  Distúrbio frequentemente associado a roncos. É uma interrupção da respiração durante o sono de pelo menos 10 segundos. Acontece geralmente com homens de pressão alta e acima do peso. O maior fator de risco é a obesidade, pois reduz o “espaço aberto” da orofaringe devido à deposição de gordura ao seu redor e alterações no centro respiratório.

O ronco indica a diminuição ou estreitamento da via aérea durante a passagem de ar. O estreitamento severo da via aérea é resultado da apneia, que pode ser definida por três tipos:
- Apneia Central: o sistema nervoso central não gera o devido estímulo para os músculos da caixa torácica e, então, não se inicia o esforço respiratório.
- Apneia Obstrutiva: nesse caso, o esforço respiratório chega a ser iniciado, mas, o ar não atinge os pulmões devido à obstrução da via aérea.
- Apneia Mista: inicialmente, não há esforço respiratório, porém, quando esse esforço é iniciado, a apneia persiste devido ao colapso da via aérea.

A apneia do sono é o distúrbio mais comum, sendo as duas últimas as formas de apneia que mais atingem a população.

De acordo com Valdir de Oliveira, mestre em implante dental, o uso de aparelhos intra-orais pode auxiliar na redução do problema.

“Os aparelhos intra-orais são semelhantes a alguns aparelhos ortodônticos móveis. As partes superior e inferior são unidas, formando um só conjunto. O objetivo do uso do aparelho é fazer com que a mandíbula se posicione mais para a frente e mais para baixo, criando maior espaço dentro da boca para acomodação da língua. O paciente apneico, tem as vias aéreas superiores bloqueadas durante o sono, devido à língua, relaxada, ir para trás, bloqueando parcial ou totalmente a passagem do ar. O aparelho permite que a língua encontre espaço para vir para frente, mantendo livre a passagem do ar, reduzindo ou eliminando o ronco e a apneia”, explica o ortodontista.

- Síndrome das pernas inquietas: É uma desordem sensorial que afeta 7% da população, fazendo com que o indivíduo sinta uma necessidade incontrolável de mover as pernas. Essa necessidade é causada por sensações incômodas que ocorrem ao ficar quieto. Esses incômodos podem ocorrer também nos braços.

- Insônia: É a dificuldade em dormir ou em se manter dormindo por certo período.  O indivíduo com insônia apresentará cansaço e dificuldade em se concentrar seja no trabalho ou na escola.  A insônia pode ser classificada como crônica, aguda e transitória.  A insônia crônica é a dificuldade para dormir quase todas as noites por um período maior de seis meses, enquanto a aguda dura de quatro a seis meses. O indivíduo que tiver insônia transitória poderá ficar até quatro semanas sem dormir.

- Bruxismo: é um fenômeno associado ao sono e às doenças bucais. Afeta 15% da população e sua causa está na tensão emocional ou fechamento inadequado da boca. A doença é freqüente entre os 15 e 35 anos, sendo mais comum nas mulheres do que nos homens.

“O Bruxismo consiste em apertar e ranger os dentes, causando grande desgaste dental, acompanhado geralmente de dores de cabeça, dores ou cansaço faciais, perda de altura da parte inferior da face e problemas na articulação temporomandibular. O aparelho para tratar do ronco e da apneia serve para tratar o bruxismo também. Para pacientes que apresentem apenas bruxismo, existem as placas de mordida para aliviar o problema”, diz Valdir.

- Sonambulismo: Ocorre em 30% das crianças de 3 a 10 anos de idade, diminuindo na adolescência, embora um grupo persista até a idade adulta. Nas primeiras horas de sono, o sonâmbulo se levanta e parece estar acordado. De olhos abertos, caminha e conversa, embora esteja dormindo profundamente. O distúrbio pode durar poucos segundos e até longos minutos e pode haver dificuldade em acordar o sonâmbulo. Durante o distúrbio, o indivíduo costuma falar coisas sem sentido e pode andar pelos cômodos da casa, raramente apresentando comportamentos mais complexos como trocar de roupa e escovar os dentes.

Revide On-Line (colaboradora: Gabriela Castilho)

*matéria publicada em 27/08/2010

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