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ChatGPT abriu o debate público sobre os limites técnicos e éticos das inteligências artificiais

"As inovações tecnológicas têm mudado profundamente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. O ChatGPT é um exemplo emblemático desses avanços, trazendo consigo impactos sociais que vão muito além da simples automação de conversas. O modelo de linguagem de OpenAI treinado com milhões de exemplos da web tem revolucionado a forma como entendemos e utilizamos a inteligência artificial. Ao mesmo tempo, porém, sua capacidade de imitar com precisão a fala humana tem trazido questões éticas e de privacidade, tornando-se um dos mais importantes debates tecnológicos de nossa época. Em uma era de informação constante, é importante compreender esses impactos e considerar as implicações para o futuro da tecnologia e da sociedade como um todo.”


O parágrafo que você acabou de ler não foi escrito por nenhum jornalista. Esse texto foi escrito pelo ChatGPT, o chat de inteligência artificial (IA) que tem causado alvoroço no mundo da tecnologia. A ferramenta foi desenvolvida pela OpenAI, uma empresa criada em 2015, que teve o empresário Elon Musk como um de seus primeiros investidores. O campo promissor desbravado pela companhia fez com que, em 2019, a gigante Microsoft anunciasse um investimento de US$1 bilhão para colaborar na pesquisa em IA e no desenvolvimento de soluções tecnológicas. Com o aporte financeiro necessário, a equipe da OpenAI pôde trabalhar no seu mais audacioso projeto. Em 2021, o ChatGPT foi lançado, com o objetivo de responder perguntas e gerar textos no formato de um chat, ou seja, como uma conversa de WhatsApp. Diferente de outros chat bots, o GPT entende o contexto da conversa e consegue fazer relações entre as perguntas e temas. 

 

LÍNGUA E DADOS 


O professor Milton Faria Júnior é formado em Física, possui doutorado em Engenharia Biomédica na Inglaterra e tem vasta experiência na área de modelagens de sistema. Ele explica que a Inteligência Artificial é o ramo da computação que se concentra em desenvolver sistemas que imitam aquilo que entendemos como o comportamento humano inteligente. Esses sistemas são baseados em algoritmos e modelos matemáticos que aprendem com dados e são capazes de realizar tarefas como reconhecimento de voz e de imagem, tradução de idiomas, resolução de problemas e tomada de decisões. “A IA visa criar máquinas que possam pensar e agir como seres humanos. Isso é alcançado através do treinamento de modelos de computador com dados reais, o que permite que eles aprendam e melhorem ao longo do tempo. O objetivo da IA é automatizar tarefas e resolver problemas de forma mais eficiente e tem aplicações em uma ampla gama de setores, desde saúde e transporte até jogos e entretenimento”, detalha Faria.


Para que o ChatGPT alcançasse a capacidade que ele dispõe atualmente, ele foi “treinado” com milhões de conversas e documentos de texto da internet, o que lhe permite aprender e compreender uma ampla gama de assuntos e variações linguísticas. Ou seja, assim como em uma fórmula matemática, o ChatGPT detecta padrões na linguagem. Por exemplo, se dermos o comando “complete a frase: água mole em pedra dura...”, o programa responderá “tanto bate até que fura”, porque ele entende, com base no seu banco de dados, qual é a sequência mais lógica dessa “equação linguística”. “A estrutura de rede neural do Chat é baseada em Deep Neural Networks (DNNs), uma classe de modelos de inteligência artificial altamente avançados, capazes de processar grandes quantidades de dados e aprender a partir de exemplos, possibilitando que ele capture padrões complexos no texto, o que é fundamental para compreender o contexto e responder de forma apropriada”, acrescenta o professor Faria.

 

FRONTEIRA DIGITAL


As novas tecnologias representam um campo fronteiriço no Direito. A velocidade dos avanços tecnológicos e, consequentemente, suas implicações éticas e até criminais têm sido debatidas por especialistas na área do direito digital. Uma das principais polêmicas sobre o uso de IA na produção de conteúdo tem sido a respeito dos direitos autorais. As IA utilizam grandes bancos de dados que podem ou não possuir obras com direitos reservados. O advogado Walcleber Udson Carafunim, que atua nas áreas dos direitos da propriedade intelectual e de proteção de dados, esclarece que a legislação entende como merecedoras de proteção legal apenas “as criações do espírito”. Isto é, somente as obras criadas por seres humanos. “Entretanto, o debate ganha relevância porque a Internet, desde seu surgimento, tem sido uma grande aliada dos direitos autorais e possibilitado uma verdadeira solidificação desses direitos em seus domínios. É evidente que existem muitos desafios, mas os avanços são enormes. Notadamente porque, se por um lado, as contrafações de direitos autorais foram difundidas, por outro lado, os meios de produção de novas obras e de combinação de obras antigas aumentaram exponencialmente, alargando os ganhos dos artistas e produtores”, argumenta. 


Nesse sentido, avalia Carafunim, um importante limite a ser observado com o amadurecimento dessas tecnologias é no que se refere à combinação de obras preexistentes. “Considerando que a proteção autoral não recai sobre elementos isolados (palavras, cores ou formas), à medida que as criações realizadas por bots forem ganhando força, bebendo naturalmente da fonte de obras do espírito humano, penso que devem surgir novos modelos remuneratórios ou novas formas de atribuir e proteger direitos”, explica o advogado.

 

NOVOS HORIZONTES


O professor universitário João Flávio de Almeida, doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade, pondera que a chegada dessa tecnologia não deve ser vista como algo isolado. As tecnologias possuem uma genealogia. Se inteirar sobre esses avanços faz com que possamos nos preparar para as novidades e não sermos pegos de surpresa. “Costumamos ter medo das novas tecnologias, mas, no fundo, a tecnologia é aquilo que deu origem a nossa própria espécie. A linguagem e a agricultura, por exemplo, e se esticarmos o conceito, podem ser consideradas tecnologias. A própria burocracia de organização social é uma tecnologia. O ser humano sempre pensou com intermédio de tecnologia”, avalia.


O professor analisa que o Chat GPT se trata de mais uma tecnologia que nos coloca rumo a outra direção e possibilidades de conhecimento. “Cada tecnologia funciona como um campo de possibilidades para o pensamento humano. Com o lápis, o livro e o compasso, eu posso pensar até certo ponto. Agora, com o auxílio da Inteligência Artificial, eu posso alcançar outros lugares. Todo novo campo que surge abre novos horizontes, mas não podemos esquecer que ele impõe novos limites. Da mesma forma que com o Waze e o Google Maps eu posso chegar mais rápido aos lugares, eu passo a não ter mais a obrigação de decorar os caminhos. É uma ambivalência”, destaca Almeida. Em termos práticos, segundo o professor, do ponto de vista educacional, não faz mais sentido o conteúdo “decoreba”, ou seja, a educação que apenas deposita o conteúdo nos alunos e espera que ele decore fórmulas e enunciados. “Isso é bom, mas, por outro lado, perdemos todo um modelo de pensar que era baseado na memorização. Vamos chegar em um novo tipo de relação com o mundo. Melhor ou pior? Não sei, eu diria que é diferente”, pontua.


Carafunim acrescenta que, talvez, os limites éticos das IAs sejam os limites éticos da própria humanidade. “É importante lembrarmos que estamos diante de uma tecnologia altamente especializada em linguagem humana, criada para se comunicar nessa linguagem com perfeição, que, sem dúvidas, é tão revolucionária quanto a própria Internet. Até o momento, sabemos que os chatbots não podem ser hostis e, teoricamente, são proibidos, por exemplo, de serem preconceituosos. Portanto, ainda nesse sentido, acredito que a qualidade e a ética dos inputs serão sempre determinantes para os resultados obtidos da máquina. O emprego justo e responsável da ferramenta dependerá de forma significativa dos valores dos humanos que a usarão, bem como de nossa capacidade criativa contra o comodismo e o pavor que acompanham as grandes revoluções tecnológicas da humanidade”, conclui o advogado. 

 

ENTREVISTA COM O ROBÔ

A seguir, uma entrevista conduzida pela reportagem com o ChatGPT

 

Posso fazer uma entrevista jornalística com você? CHATGPT: Certamente! Estou à disposição para responder às suas perguntas. Como posso ajudá-lo?

 

Explique, em poucas palavras, para uma pessoa leiga, como você funciona. CHATGPT: Eu sou um modelo de linguagem de inteligência artificial treinado por meio de um grande volume de dados de texto. Isso significa que, com base em todas as informações que eu aprendi, eu posso entender a linguagem natural e responder a perguntas, fornecer informações e gerar texto em diferentes estilos e formatos. Meu objetivo é ajudar as pessoas a obter respostas e informações úteis de forma rápida e eficiente.

 

Quais são os próximos passos da Open IA no campo da inteligência artificial? CHATGPT: A OpenAI está trabalhando em projetos para aprimorar modelos de linguagem natural, desenvolver robôs autônomos, pesquisar inteligência geral e explorar novas aplicações da IA em setores como saúde, finanças e educação.

 

No seu banco de dados existem obras com direitos autorais? Como vocês lidam com a questão do plágio? CHATGPT: Como modelo de linguagem, eu não tenho um banco de dados próprio, mas sou alimentado com textos e informações de fontes públicas disponíveis na Internet. Algumas dessas obras podem ter direitos autorais, e a OpenAI é uma empresa que respeita os direitos autorais e as leis de propriedade intelectual. Portanto, para evitar possíveis problemas de violação de direitos autorais, a OpenAI adota práticas de segurança que incluem monitorar e filtrar conteúdos que possam infringir os direitos autorais de terceiros. Quanto à questão do plágio, a OpenAI não tolera a prática e está comprometida em promover a ética na pesquisa e desenvolvimento de inteligência artificial. Como modelo de linguagem, eu não produzo textos com a intenção de plágio, mas é importante destacar que o uso de um modelo de linguagem não garante automaticamente a originalidade do texto produzido. Portanto, é responsabilidade do usuário do modelo garantir que o texto produzido seja original e atenda a todas as normas éticas e legais aplicáveis.

 

Devemos nos preocupar com o desemprego causado pela crescente automação? CHATGPT: Sim, a automação pode levar ao desemprego em algumas áreas, e é importante que sejam implementadas medidas para  minimizar o impacto sobre os trabalhadores afetados.

 

E quais medidas você sugeriria? CHATGPT:  Para minimizar o impacto do desemprego causado pela automação, é possível incentivar a formação e reciclagem de habilidades, investir em programas de educação, implementar políticas de proteção social e desenvolver políticas de incentivo à criação de empregos em setores não facilmente automatizáveis.

 

Muito obrigado por participar da nossa entrevista. CHATGPT: Foi um prazer participar! Fico à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas no futuro. 

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