Resgate das cores
Moda, política e universo digital se chocam com a tendência BrazilCore

Resgate das cores

Tendência de moda BrazilCore ressignifica para o universo da moda e influenciadores digitais o verde e amarelo; especialistas discutem os impactos estéticos e culturais

As cores da bandeira do Brasil e a camiseta da Seleção Brasileira de futebol tem se tornado uma tendência na composição de looks de personalidades nas redes sociais, incluindo artistas estrangeiros. A tendência recebeu até um nome: BrazilCore. Abraçada por uns e criticada por outros, a popularização dessa estética levanta diferentes teorias. Vale ressaltar que o “estilo brasileiro” sempre existiu, mas a BrazilCore enquanto uma tendência local e estrangeira e com aspectos específicos, é algo novo para a cultura pop.

 

 

De acordo com a professora de moda, Juliana Bononi, esse estilo sempre existiu nas periferias e é destacado principalmente pela Copa do Mundo e as eleições deste ano. Com isso, essa estética sai das periferias e é apropriada pela classe média e influenciadores digitais. “Essa não é a primeira vez que uma moda de rua vira tendência. Várias são as possíveis origens”, afirma Juliana. As críticas ao estilo giram entorno da forma de ascensão dessa tendência. “Nas comunidades, por exemplo, as camisetas da Seleção Brasileira sempre foram usadas. Foi necessário que personalidades internacionais usassem as cores do país para que esta estética passasse a ser valorizada e copiada pela massa”, aponta a estilista e influenciadora Marcela Tumas.

 

 

SIMBOLOGIA E POLÍTICA

 

Um símbolo tem o poder de unificar pessoas. No caso do Brasil, a bandeira e suas referências de cores são símbolos do país. De acordo com João Flávio de Almeida, doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Ufscar e com pós-doutorado em discurso imagético pela USP, os símbolos nascem com a prerrogativa de aglutinar ideias, desejos e pulsões. “A instituição da bandeira do Brasil, o Hino Nacional, o nome do país, se tornaram símbolos capazes de organizar um grupo muito grande de pessoas. Ao mesmo tempo que organiza, domina”, explica.

 

 

Segundo Almeida, com a ascensão de grupos antidemocráticos, esses símbolos foram “sequestrados” para um propósito político de poder. Dessa forma, o “estilo brasileiro” vem carregado de receios associados a determinado viés político, mas que, com a difusão desses símbolos por figuras públicas, atrelada apenas a significação da estética, acaba por fortalecer um tipo específico de discurso. “Um símbolo nacional deve ser de todo um povo. Para que ele cumpra sua função ele precisa ser o mais inclusivo possível. As cores verde, amarela, azul e branca precisam encontrar, abraçar e cobrir todos os cidadãos brasileiros, dos mais ricos aos mais pobres, todas as cores, todo mundo”, conclui Almeida. Para Juliana, independente da influência, é maravilhoso os brasileiros usarem e se orgulharem das cores da nação, das cores do que é realmente do Brasil e não copiado de outros países. “Temos moda brasileira muito forte e bem posicionada que precisa ser reconhecida e valorizada no país pelo nosso povo. Inclusive, deveríamos aportuguesar o nome dessa tendência, assim como precisamos aprender a ressignificar as cores da nossa bandeira, não somente em tempos de jogos ou eleições”, pontua.

 

Assim como as últimas tendências que bombaram nas redes sociais, pode ser que o BrazilCore também sofra um declínio, de acordo com Marcela. “As tendências de moda são passageiras e saturam muito rápido. A internet fica inundada com aquilo e, mesmo que você não veja pessoalmente tantas pessoas usando a estética brasileira, os conteúdos postados na internet já fazem as pessoas enjoarem rapidamente daquilo”, explica a estilista.


Fotos: Reprodução Instagram/ Arquivo Revide

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