Sertãozinho tem esquina dos reis do café

Sertãozinho tem esquina dos reis do café

Na cidade, ruas que homenageiam Geremia Lunardelli e Francisco Schmidt repetem relação centenária da época de ouro da produção cafeeira

No centro de Sertãozinho, próximo ao Teatro Municipal Olympia Faria de Aguiar Adami, o cruzamento da Rua Geremias Lunardelli (há exemplos grafados como Geremia e Jeremias) com a Rua Francisco Schmidt imita diariamente uma relação que começou há mais de 100 anos.

A aposentada Maria Silvia, mora há 30 anos na esquina das duas ruas. Ela diz que mesmo na região central do município, o local mantém a calmaria que a fez morar por lá, onde consegue ter sossego. Porém, a respeito dos homens que cederam o nome ao logradouro, ela admite não conhecer muito.

“Eu não sei nada, mas também nunca me interessei em conhecer. Mas sei que foram pessoas que ajudaram a cidade crescer”, comenta Maria.

Perto da casa da mulher, dois senhores realizam o bate-papo diário na varanda de uma casa na Rua Geremias Lunardelli. O dono do imóvel é Antonio Postigo (sem camisa), que mora no mesmo endereço desde o dia que nasceu: 19 de janeiro de 1926.

Ele lembra que o primeiro nome da via foi Rua Tietê, e que até 1952, ano que foi asfaltada pela primeira vez (junto com a Rua Francisco Schmidt), ela era de “grama pura”.

O outro homem que participava da conversa era o ex-prefeito de Sertãozinho, entre 1973 e 1976, Pedro Pinotti (de óculos e chapéu), que em breve também será homenageado com a denominação de um logradouro público na cidade, no caso a praça rotatória da Via de Acesso Octávio Verri, que espera a sanção do prefeito José Alberto Gimenez (PSDB).

Pinotti conta que morou na Rua Geremias Lunardelli por vários anos, e reconhece que o quinto e último Rei do Café foi significativo para o desenvolvimento da cidade.

“A Globo não tem o Rei do Gado? Ele foi o nosso Rei do Café”, reivindica Pedro, que recorda a paisagem da rua e as imediações, como a Rua Francisco Schmidt, que lhe trazem saudades.

“Antes era brejo, lagoa à beira do rio, tinha nascente. Aí o progresso veio, a cidade cresceu, mas no passado isso era o pantanal”, conta o ex-prefeito, apontando a proximidade com o Córrego Sul como motivo desse tipo de vegetação naquela região.

Primeiros encontros

Tanto o italiano Geremias Lunardelli, quanto o alemão Francisco Schmidt receberam a alcunha de “Rei do Café”, foram o quinto e o terceiro, respectivamente, a receberem o “título”, por terem milhões de unidades da planta espalhadas pelo País nas fazendas que eram proprietários, e algumas delas estavam localizadas na região de Ribeirão Preto.

De acordo com o livro Italianos no Brasil – “andiamo in’Merica”, de Franco Cenni, Lunardelli, mais novo que Schmidt, não havia frequentado a escola depois que chegou a Sertãozinho, e aprendeu a ler e a escrever sozinho, mas recorria ao alemão, na vizinha Ribeirão Preto para “buscar informações novas”.

Schmidt foi dono da Fazenda Monte Alegre, onde hoje está instalado o campus da USP Ribeirão Preto, uma das 69 propriedades que adquiriu, e que chegaram a ter mais de 12 milhões de pés de café plantadas.

Enquanto isso, o italiano, que chegou ao Brasil em 1887, e foi prefeito de Olímpia na década de 1920, se instalava na Fazenda Dumont, em Sertãozinho.

Lunardelli teve fazendas nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Goiás, e ainda de acordo com Cenni, somou 23 milhões de pés de café.

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Texto e fotos: Leonardo Santos (Colaborador)

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