Slow Medicine

Slow Medicine

Em palestra em São Paulo, o médico italiano Marco Bobbio explicou os conceitos que regem esse movimento, que tem como base a humanização do atendimento

Mais do que uma profissão relacionada à evolução da ciência e da tecnologia, a Medicina deve ser tratada como ciência humana. Este é o conceito da Slow Medicine, defendida pelo médico italiano Marco Bobbio. O especialista esteve no Brasil em outubro para participar do Conecta Saúde, evento realizado pela Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) e por sindicatos afiliados, entre eles, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de Ribeirão Preto (SINDRIBEIRÃO).

Segundo Bobbio, a tecnologia deve ser usada como aliada no processo de diagnóstico do paciente, mas não pode ser a única maneira de interação. A carga horária cada vez mais apertada, o grande número de consultas e a redução do tempo de consulta são alguns dos fatores que têm reduzido a interação entre médico e paciente. “No cuidado primário, o médico começa discutindo com o paciente, ele sabe sua história e seu histórico familiar. É mais difícil para os especialistas verem o paciente de forma integral. Mesmo os cirurgiões podem ser ‘slow’. Não durante uma intervenção, quando eles precisam ser rápidos e tomar decisões ágeis, mas na hora de decidir o que é melhor para o paciente, dentro de seus valores e desejos”, explica Marco.

O médico acredita que existe grande desperdício de recursos na saúde, excesso de rapidez no tratamento, solicitação de exames desnecessários e consumo exagerado de medicamentos. Para o especialista, o que muitos não têm levado em consideração é que procedimentos supérfluos podem prejudicar a saúde do paciente. É o caso, por exemplo, dos efeitos colaterais que os remédios provocam.

PARTICIPAÇÃO DOS PACIENTES
Segundo Marco, em muitos casos o organismo do paciente passa por um processo de autocura, porém, a pressa que vem sendo aplicada nos hospitais não contribui para isso. Sem contar as solicitações por testes e medicamentos vindas dos próprios pacientes para evitar doenças que não existem. Bobbio não defende uma medicina lenta e, sim, positiva, quando o médico usa o tempo com o paciente da melhor forma possível. Além disso, defende que o paciente deve participar ativamente do processo de diagnóstico e tratamento e que sempre deve indagar o médico se tudo é realmente necessário.

Outro ponto defendido é que tanto paciente quanto médico devem confiar mais na experiência do profissional do que em testes. “Um único exame pode ser interpretado de forma diferente, dependendo do médico. Além disso, o mesmo especialista pode analisar um resultado de forma diferente depois de  algum tempo”, explica Marco. Números confirmam a teoria: quando um Raio-X é mostrado para radiologistas, a concordância entre os profissionais gira entre 60% e 70%.

Em sua palestra no Conecta Saúde, Bobbio apresentou os resultados da rede de hospitais slow, que começou em 2013, na Itália. O defensor desse conceito pediu para que a equipe médica identificasse três procedimentos inapropriados em três departamentos. Em 2015, os procedimentos considerados inapropriados foram reavaliados. Os primeiros resultados mostraram que houve redução na prescrição de antibióticos em 4,7%, 28% menos radiografias torácicas e 22% menos indicações de exames laboratoriais. “O Slow Medicine é o resgate da verdadeira Medicina, não do ponto de vista romântico e utópico, mas do ponto de vista do tratamento da pessoa humana, e não da doença”, analisa o médico Yussif Ali Mere Junior, presidente do SINDRIBEIRÃO.

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