Superando a reprovação

Superando a reprovação

Para quem não passou no vestibular, especialistas orientam como encarar mais um ano de preparação para as provas e como retomar a rotina de estudos

Após um ano de preparação para o vestibular, é muito frustrante não encontrar o nome na lista de aprovados. No entanto, é possível dar a volta por cima para superar a reprovação, retomar a rotina de estudos e ficar pronto para encarar novas provas. De acordo com o professor e coordenador do Pré-Vestibular da FAAP, Marcio Ferreira Lourenço, há uma frustração natural e uma sensação de impotência. Porém, o vestibulando precisa perceber que a tão sonhada vaga é difícil de ser conquistada, que seus esforços não foram em vão e que, com ajustes, a vaga virá. “Ele precisa aceitar que perdeu a partida, mas não está fora do campeonato. Com foco e determinação, o objetivo pode ser alcançado”, garante. Para isso, o educador ensina que é necessário fazer uma boa análise sobre o desempenho nos exames, dissecando as notas, para julgar se o problema está relacionado ao conteúdo, à organização dos estudos ou, até mesmo, à técnica de resolução de prova. “Identificado o problema, o estudante deve buscar orientação com um profissional da área da Educação. É um novo começo, mas todos os esforços já empregados não são perdidos, são acumulados. A questão é ter um real empenho para que aconteça a retomada dos estudos, com consciência dos pontos falhos, que precisam ser corrigidos”, ressalta Lourenço.


O coordenador reconhece que o volume de conteúdos a serem estudados é grande, mas os vestibulandos devem traçar metas semanais e mensais. “Devem entender suas necessidades para fazer um estudo bem direcionado. Dessa forma, eles se mantêm em dia com os conteúdos, não gerando sobreposição de assuntos do momento com os atrasados. Ficarão mais confiantes e poderão buscar aprimoramentos, como exercícios de provas anteriores, leituras específicas sobre algum tema, entre outros”, detalha. Além disso, ele lembra que o lazer e as atividades físicas são essenciais para a saúde mental do vestibulando. “Não tirarão o seu foco, mas que fique claro: neste ano de trabalho, possuem pesos diferentes. Assim, é necessário que o estudante organize e dimensione o tempo que será utilizado com essas atividades de lazer e atividades físicas, para não atrapalhar a organização dos estudos”, orienta.


Para o diretor pedagógico do Colégio Einstein, Eduardo Gula Sobrinho, a frustração de não passar no vestibular, inicialmente, deve ser vivida. Posteriormente, diminuída e naturalizada como algo inerente à existência humana. Segundo ele, é preciso encarar a nova fase como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento. “Faça uma análise de desempenho nos vestibulares que prestou, identifique questões que acertou, questões que errou, identifique falhas em seu conhecimento, seja humilde em reconhecê-las e aceitá-las. Trata-se de um exercício de autopercepção”, recomenda. Após a identificação de seus gaps, faça adaptações e atualizações de seu método de estudo. Ele aconselha a estudar as disciplinas que fizeram o aluno sentir mais dificuldade na hora da avaliação. “Estudar mais o que não gosta pode ser o que precisa”, avalia. Ao longo do ano, Gula sugere que os estudantes façam, pelo menos, duas redações por semana, além de sempre se manter atualizado, lendo notícias nacionais e internacionais, pois o cotidiano político, econômico, ambiental e social tem feito cada vez mais parte dos vestibulares. “Além disso, busque equilibrar seus estudos com momentos de lazer e descontração. Pratique atividades físicas e culturais com regularidade. Permita-se ser humano”, indica o diretor.

 

Expectativas


A psicóloga clínica e professora universitária Maria Rosa Rodrigues Rissi explica que, no Brasil, a preparação para o vestibular é um marco importante na trajetória de vida de grande parte dos jovens, sendo este um momento de grandes expectativas e ansiedade para todos os envolvidos no processo: o estudante, a família e a escola. “O ingresso na universidade, muitas vezes, é visto como o primeiro grande sucesso do jovem e, da mesma forma, a reprovação acaba sendo vivenciada como fracasso, com sentimentos de frustração e de menos valia associados. Inversamente proporcional à alegria de conquistar uma vaga tão sonhada, é a dor de vê-la escapar quando os resultados são publicados”, esclarece. Neste sentido, ela afirma que é necessário que o vestibulando seja acolhido e fortalecido em suas capacidades. “E que veja seus esforços reconhecidos, para que a carga emocional dessa experiência seja mais leve e para que o aluno entenda que o viver implica vitórias, mas também frustrações que podem ensinar muito. Costumo dizer que as experiências dolorosas que vivemos podem gerar crescimento pessoal e desenvolvimento de novas habilidades que serão úteis ao longo da vida”, argumenta. 


De acordo com Maria Rosa, a não aprovação leva, em um primeiro momento, à tristeza e à decepção, mas o tempo, o apoio recebido e uma análise cuidadosa dos pontos a serem melhorados podem facilitar e encorajar o jovem a retomar sua trajetória. “É importante reconhecer que nunca saímos do mesmo lugar quando voltamos a um projeto, um sonho. Tudo aquilo que foi construído até ali, persiste. Portanto, todo o conteúdo formal assimilado, as habilidades desenvolvidas e até mesmo as dificuldades reconhecidas ao longo do tempo podem ser instrumentos poderosos para se reorganizar frente a um novo ciclo de preparação. Conhecemos melhor o caminho quando precisamos encará-lo novamente”, salienta.


Na nova rotina de preparação, a psicóloga frisa que é preciso incluir os cuidados com a saúde física e também com a saúde emocional, buscando equilíbrio entre as horas de dedicação aos estudos e outras atividades prazerosas. E, em especial para os vestibulandos com maior dificuldade de gerenciar a pressão, ela recomenda a busca por apoio psicológico. Outro ponto destacado por Maria Rosa é que talvez a mais importante lição que fique após a reprovação em um vestibular seja a de que a vida é feita de desafios para os quais, muitas vezes, ainda não estamos prontos. Portanto, esse resultado não deve ser compreendido como uma derrota, mas como um chamado à persistência. “Atualmente, utilizamos muito a palavra resiliência, que significa nossa capacidade de suportar as adversidades e seguir em frente, e esta habilidade será requerida ao longo de todo o Ensino Superior e ao longo de toda a vida. Portanto, para aqueles que não foram aprovados, este chamado chegou um pouco antes, convocando-os a antecipar seus atos de coragem e a acreditar que nunca é muito o preço a se pagar para alcançar o que realmente se deseja”, conclui a psicóloga.

 

Incentivo


A estudante do Einstein Giovana de Carvalho Bergamo, de 18 anos, acabou de realizar um grande sonho: foi aprovada em Medicina. Mas, para alcançar esse resultado, primeiro ela enfrentou a reprovação no vestibular. “Foi difícil. Já sabia que o curso que tinha escolhido era muito concorrido e que seria um desafio, mas, mesmo assim, não foi fácil lidar com a reprovação. Porém, a frustração de não ter passado acabou se tornando um incentivo para continuar correndo atrás do meu sonho”, diz. A jovem fez um ano de cursinho e contou com o suporte da família e da escola. “Nessa fase, o apoio da minha família, que sempre me incentivou, e de todos do colégio, que possui uma estrutura fantástica, foi fundamental. Sabia que tinha que mudar algumas coisas e descobrir uma rotina de estudos que atendesse às minhas necessidades para alcançar meu objetivo. Foi um ano difícil e de muitas privações, mas valeu a pena”, comemora. 


Giovana detalha que foi incrível finalmente passar no vestibular. “Não tenho palavras para descrever a sensação, demorei para acreditar que era real. Passei na USP Ribeirão Preto e na Universidade Federal de Uberlândia (UFU)”, conta Giovana, que optou por estudar na USP. Ela defende que é importante não desistir do objetivo, mesmo quando parecer impossível. “Mantenha o foco e a disciplina e não negligencie a parte emocional, que é tão importante quanto o estudo. Use a frustração como combustível para ir mais longe e acredite em você mesmo, até nos momentos mais difíceis”, aconselha a futura estudante da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). 

 

Sugestões para a rotina de estudos

 

• Assista às aulas com o máximo de atenção, mesmo que julgue já dominar o assunto, uma aula bem assistida diminui muito o tempo necessário para estudo pós-aula,

• Leia teorias dos conteúdos e faça exercícios, após realizá-los e corrigi-los, não deixe de anotar dúvidas e esclarecê-las.
• Realize simulados com regularidade, controle o tempo e verifique o desempenho, não deixe de identificar o motivo de seus erros, foco nos seus gaps.

• Faça, pelo menos, duas redações por semana. Se possível, utilize o processo da reescrita.

• Mantenha-se atualizado lendo notícias nacionais e internacionais, o cotidiano político, econômico, ambiental e/ou social tem feito cada vez mais parte dos vestibulares.

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