Tecnologia a favor da vida

Tecnologia a favor da vida

Especializado em técnicas cirúrgicas avançadas, o urologista Tiago José Borelli Bovo destaca a inovação como prática clínica e cirúrgica diária

Na última semana, uma notícia foi amplamente divulgada, com a seguinte chamada: “Primeira cirurgia robótica de Ribeirão Preto”. Quem ouve ou lê o relato nem sempre conhece todo o esforço e a dedicação do médico urologista Tiago José Borelli Bovo (CRM: 94246). Há cerca de 16 anos, o médico iniciou treinamento na área robótica nos Estados Unidos, tendo sido um dos precursores dessa tecnologia no Brasil. Trouxe a técnica absorvida na maior universidade americana da especialidade urológica: a Johns Hopkins School of Medicine — Brady Urological Institute e realiza cirurgias  com o sistema Da Vinci há mais de dez anos. 

Dedicado e verdadeiro entusiasta, desde o primeiro ano do curso de Medicina, na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, logo no início dos estudos já realizava cirurgias experimentais inovadoras — por vezes, motivo de premiações pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões — e dissecção de peças anatômicas em laboratório. Esse profundo conhecimento anatômico e de técnicas cirúrgicas proporcionaram a bagagem que estruturou sua base na atuação como médico e como cirurgião.  À época, Tiago tinha queda pelo academicismo, sendo que, por anos, considerou a carreira docente na universidade, o que o motivou, inclusive, a permanecer em Ribeirão Preto, mesmo com diversas oportunidades advindas de outras cidades.
A dedicação acadêmica, juntamente com a assistencial, atendendo e realizando mais de mil procedimentos cirúrgicos por ano, acabaram, após uma seleção cuidadosa por um colegiado de cirurgiões da USP, por agraciar o prêmio “Rui Ferreira Santos” como aluno que mais se diferenciou junto ao departamento de cirurgia. Esta foi a primeira de uma série de honrarias que viriam no decorrer da carreira. O esforço e a vontade de se tornar um cirurgião formado pelo departamento de cirurgia do Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto fizeram com que ele fosse aprovado em primeiro lugar na prova de residência médica, em 1999.

Primeiras cirurgias robóticas realizadas pelo Hospital São Lucas para tratar câncer de próstata

Tiago realizou estágio de aperfeiçoamento com o médico americano Dr. Louis Raphael Kavoussi, na Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, em 2003, onde refinou as técnicas em cirurgia minimamente invasiva em laparoscopia urológica. Dr. Kavoussi é o cirurgião que desenvolveu a maioria das bases cirúrgicas laparoscópicas e robóticas usadas até hoje, sendo o formador de grandes chefes de serviço de urologia dos cinco maiores e melhores hospitais dos Estados Unidos (Top Hospitals in US). Desenvolveu, juntamente com Dr. Tiago e uma grande equipe de colaboradores, em 2003, o primeiro sistema telecirúrgico do mundo, que se desdobrou em uma série de projetos, civis e militares, nos Estados Unidos e no mundo. 

No período em que se especializou nos Estados Unidos, Tiago fez uma série de grandes amigos, como os doutores Patrick Walsh, médico que descreveu a técnica de preservação de nervos na cirurgia para câncer de próstata e maior autoridade mundial de câncer de próstata até hoje, Alan Partin e Mohamad Allaf, atual chefe do departamento de urologia do hospital que estagiou.  Ao voltar para o Brasil, atuou como médico assistente no Hospital das Clínicas (HC), orientando os profissionais residentes na área de laparoscopia urológica e cirurgia minimamente invasiva, durante muitos anos.

Em 2016, o urologista retornou ao hospital da Johns Hopkins University para nova especialização, desta vez, com o Dr. Brian Matlaga, também em cirurgias de alta tecnologia voltadas para procedimentos minimamente invasivos e, como convidado, participou do maior evento de pesquisa em câncer de próstata dos Estados Unidos, o Prostate Cancer Research Day, com urologistas e pesquisadores indianos, americanos e europeus, onde foram discutidos os últimos descobrimentos em terapia e diagnóstico de câncer de próstata e, em especial, as cintilografias marcadas com anticorpos que adicionam detalhamento ao diagnóstico e em sobrevida, visto definir novas condutas terapêuticas antes não disponíveis aos pacientes. 

Atualmente, continua a exercer as atividades de ensino por intermédio de cursos de formação nacional e internacional, ensinando médicos já atuantes em diversos hospitais nas técnicas minimamente invasivas, nem sempre disponíveis em universidades para ensino e desenvolvimento. Em paralelo, mantém a clínica Borelli Urologia, unidade equipada com tecnologia de ponta, e conta com equipamentos inovadores, como o laser Holmium de alta potência, o flexível digital de alta definição para cirurgia de cálculo renal, o Greenlight Laser para tratamento de hiperplasia prostática benigna (aumento benigno da próstata) e, cada vez mais, cirurgia robótica para diversas patologias urológicas. O urologista realiza cirurgias em diversos hospitais, em especial no São Lucas, em Ribeirão Preto, há quase 20 anos, e no Hospital Oswaldo Cruz de São Paulo, onde integra o corpo clínico desde 2009. 

Tiago Bovo e a equipe das primeiras cirurgias robóticas realizadas no Hospital São Lucas

Plataforma robótica

Único urologista certificado para realizar cirurgias robóticas em Ribeirão Preto e região, Tiago Bovo já acompanhou mais de 1.500 procedimentos no exterior e realizou centenas deles em mais de uma década de trabalho no Brasil. A maioria dos casos objetivava tratar problemas de próstata, que, segundo o especialista, atingem até 85% dos homens acima de 50 anos. “Neste tipo de intervenção, a cirurgia robótica maximiza as taxas de cura, reduz o sangramento em até 80% e minimiza consideravelmente as sequelas, como incontinência urinária e impotência sexual. Além de proporcionar a recuperação das funções vitais 40% mais rápido”, explica o médico, que, no dia 27 de julho, realizou as duas primeiras  cirurgias robóticas da cidade, juntamente com sua equipe, Dr. Yuri Dantas e Dr. Rafael Tacino,  por meio do robô Da Vinci, no Hospital São Lucas. Os pacientes, homens com idades de 65 e 44 anos, ambos com câncer de próstata localizado, receberam alta rapidamente e com ótima recuperação.

A cirurgia robótica é uma evolução da cirurgia minimamente invasiva laparoscópica, ou seja, o cirurgião estabelece os acessos laparoscópicos e introduz a câmera e os instrumentos de trabalho no interior do corpo do paciente por meio de pequenas incisões. Com isso, o médico tem uma excelente visão para realizar o procedimento, além de contar com movimentos precisos dos braços do robô. O profissional realiza a cirurgia a partir de uma mesa de controle (console) e a movimentação dos instrumentos se faz pelo manuseio de “joysticks” delicados. À medida que move as mãos e os dedos, o robô reproduz seus movimentos dentro do corpo do paciente. O ato cirúrgico é guiado por imagens fornecidas por uma fina câmera introduzida no corpo do paciente.

O equipamento tem capacidade de ampliar em até dez vezes uma imagem, em 3D, o que mantém a nitidez e a percepção de profundidade sem a abertura do abdômen ou do tórax. Se o médico tirar o rosto da tela de controle, o robô paralisa automaticamente. Além de um cirurgião no controle, outro fica ao lado do paciente para apoio do ato cirúrgico. “O robô Da Vinci é ideal para cirurgias que envolvem grande detalhamento anatômico ou procedimentos cirúrgicos realizados em pequenos espaços e cavidades”, reconhece Tiago.

Ao lado de Tiago Bovo, os urologistas Rafael Tacino e Yuri Dantas fazem parte da equipe cirúrgica robótica que realizou a cirurgia inaugural em Ribeirão Preto

Segurança

Atuando como médico capacitado para treinar outros médicos em cirurgia robótica, o especialista ressalta que o robô não faz ação alguma sozinho. Qualquer movimento realizado por ele foi feito pelo médico no console. No entanto, diante de ações imprevistas pelo cirurgião, a tecnologia robótica aciona um comando de segurança que trava provisoriamente a máquina, evitando danos ao paciente. O mesmo acontece se o médico tirar o rosto da tela de controle. Por serem mais complexas, as cirurgias robóticas seguem também um protocolo de checagem de todos os itens de segurança a cada hora de cirurgia, aproximadamente.

O urologista enfatiza que, para realizar cirurgia robótica, o cirurgião passa por treinamento intensivo em simulador digital com, no mínimo, 30 horas de estudo. “Esse treino é semelhante à certificação de um piloto de avião”, ressalta o médico. Durante esse período, são passados aos cirurgiões desde ensinamentos mais básicos, como os relacionados ao funcionamento do robô, até os mais avançados, que envolvem técnicas de segurança, caso ocorra algum imprevisto com o paciente. A certificação final para cirurgia robótica ainda não ocorre no Brasil. “Todos os futuros médicos a serem treinados para usarem o Da Vinci serão certificados na Colômbia e nos Estados Unidos e, a princípio, devem estar aptos também para realizarem cirurgias convencionais abertas ou laparoscópicas”, orienta Tiago.

Reconhecendo que a chegada do Da Vinci no Hospital São Lucas inaugura uma era nova para a cidade e região, Tiago Bovo destaca que a tecnologia vai mudar o paradigma cirúrgico dos pacientes. “Conseguimos oferecer uma recuperação mais rápida e com menos sequelas. Proporcionamos resultados de melhor cirurgia para o paciente, que terá menos complicações no pós-operatório, minimizando, inclusive, transfusões e sangramentos, entre outros fatores. Outro ponto positivo é a maior eficiência na preservação das estruturas nobres, como inervações, musculaturas e esfíncteres”, revela.

Além da urologia, Tiago antecipa que, nos Estados Unidos, o robô já é essencialmente utilizado para cirurgias urológicas, mas há um crescimento em outras especialidades, como intervenções gastrointestinais e proctológicas, e, cada vez mais, em cirurgias torácicas, o que, em breve, também deverá ser disponibilizado no Hospital São Lucas. Além da avançada tecnologia, a equipe médica também passa por capacitação para operacionalizar o equipamento, bem como realizar o procedimento cirúrgico. “Esta nova fase exige capacitação e engajamento de uma equipe maior de profissionais, que inclui auxiliares, instrumentadores, enfermeiros, entre outros especialistas”, finaliza o médico. 

Especialização

Dr. Tiago operando o console do Da Vinci S, primeiro robô a ser aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos para cirurgias. Na ocasião, em 2003, realizava sua especialização na Johns Hopkins School of Medicine em Baltimore, Maryland. À época, auxiliava seu mentor e amigo, Dr. Louis Raphael Kavoussi, em cirurgias laparoscópicas em pacientes e fazia pesquisa operando animais de laboratório com o robô.

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