
Tempo de florescer
Com a chegada da primavera, Ribeirão Preto já registrou mudanças climáticas e aumento da umidade do ar. Em 2020, a estação tende a fechar com acumulados de chuva dentro da média e temperaturas amenas
Texto: Gabriela Maulim
A primavera, que começou na terça-feira, 22 de setembro, e seguirá até o dia 21 de dezembro, promete acumulados de chuva dentro da média e temperaturas mais agradáveis. Diferente do inverno, que até o dia 16 de setembro havia completado mais de 100 dias sem chuva expressiva — precipitações com acumulados acima dos 10 milímetros — em Ribeirão Preto, a nova estação traz boas notícias relacionadas ao clima. “O inverno tende a ser o período mais seco e com chuva mais irregular no Estado de São Paulo, além da estação mais fria. Durante a primavera, a chuva já começa a se regularizar sobre o estado, retornando aos poucos, de forma gradual. Além disso, a chegada de intensas ondas de frio é dificultada, pois aos poucos os padrões de circulação dos ventos vão mudando, impedindo que o frio intenso chegue ao território paulista. Por isso, as temperaturas são mais agradáveis e os dias com sensação de calor são mais presentes, além da chuva que passa a se tornar mais frequente”, explica Dóris Palma, meteorologista da Somar Meteorologia.
De acordo com Dóris, uma nova frente fria consegue organizar um corredor de umidade da Amazônia e os dois sistemas atuando juntos possibilitam levar chuva para a região de Ribeirão Preto. Contudo, apesar desse começo chuvoso, que registrou 20.2 mm na virada entre o inverno e a primavera, Dóris explica que a primeira quinzena de outubro promete chuva mais irregular. “Mesmo com chuva nos primeiros dias da primavera e nos últimos dias de setembro, a primeira quinzena de outubro promete ser com chuva mais irregular na região, que ocorre na forma de pancadas rápidas e passageiras, sem grandes acumulados. A partir da segunda quinzena de outubro, a chuva começa a dar as caras, e o mês tende a fechar com acumulados de chuva em torno de média climatológica”, aponta a meteorologista.
Nesta época do ano, o avanço de frentes frias sobre o Estado de São Paulo ainda é bastante comum. Dóris relata que esse sistema consegue organizar o corredor de umidade que vem da região Amazônica e que atinge a região ribeirãopretana. “Com mais umidade, as nuvens de chuva conseguem encontrar os ingredientes necessários para sua formação, que são, principalmente, o calor e a umidade. Alguns padrões de circulação dos ventos também auxiliam na formação de nuvens de chuva, e é comum nesta época do ano observarmos alguns sistemas de baixa pressão atmosférica no interior do continente, que é mais um fator contribuinte para chuva”, conclui.
Inverno mais seco que o normal
Apesar de o inverno ser a estação com os menores acumulados de chuva, a meteorologista da Somar aponta que ele chamou a atenção justamente por conta do tempo mais seco que o normal, com chuva abaixo da média climatológica em todo o estado, principalmente no norte e nordeste paulista. “Esse tempo seco é decorrente de sucessivos bloqueios atmosféricos que se formam no Oceano Pacífico e conseguem mudar toda a circulação dos ventos na América do Sul, com isso, o avanço de frentes frias e ondas de frio é bastante dificultado. Existem algumas outras oscilações atmosféricas que também contribuem para o tempo seco”, explica.
Neste ano, desde o início do inverno, que começou no dia 20 de junho, segundo dados da Somar e Defesa Civil de São Paulo, em Ribeirão Preto houve chuva apenas em três dias da estação: no dia 28 de junho, 1.6mm; em 22 de agosto, 2.1mm; e no final do inverno, no dia 21 de setembro, com 6.5mm. O mês de julho não registrou nenhum dia chuvoso.
No primeiro dia de primavera, choveu 13.7mm — mais que a soma do acumulado em todo o inverno, com 10.2mm de precipitação.
Em 2019, o inverno, que durou de 21 de junho a 23 de setembro, registrou 291.7mm de chuvas. O mês mais chuvoso do ano passado foi julho, com um acumulado de 148.3mm.
A melhor estação do ano
A médica veterinária Sandra Barretto Prado ama a primavera, estação que é tipicamente associada ao reflorescimento da flora terrestre. A estação é a preferida de Sandra, que tem paixão por cuidar de flores e plantas. Para ela, o início desse novo ciclo do ano sugere renascimento. “A primavera é minha estação preferida! Apresenta-se com leveza e se consolida com aspectos de alegria. É uma transformação que sugere vigor, renascimento”, afirma a médica veterinária.
Sandra relata que sua relação com as plantas é mútua e prazerosa. “Sinto ou penso que vou ao jardim também para me cuidar, ser cuidada; nutrir-me de novidades, sentir a vitalidade das delicadas brotações, apesar do castigo das intempéries. Conversar com elas, confirmar que ‘tamo junto’. Há mais que plantas e flores. Há encantamento, biodiversidade, embora restrita. Fadas, gnomos e até paz”, conta.
Durante o período de seca enfrentado na região, Sandra explica que o cuidado com suas plantas foi mais intenso e detalhado. “Na condição de estiagem prolongada, a atenção fica mais intensa e detalhada, buscando compreender a necessidade de cada espécie. Por isso, procuramos promover ou proporcionar sombreamento e notadamente a hidratação”, afirma a médica veterinária.
Sobre a mudança da rotina de cuidados do jardim durante a primavera, Sandra explica que essa percepção só existe no calendário e na mídia comercial. “O jardim é a natureza. Este momento é o apogeu da transição. Os arautos primaveris se pronunciaram na vigência terciária do inverno. Logo mais, por ocasião das chuvas, as tarefas se alteram da água para o adubo. Nutrientes que, com a água, permeiam o solo fortalecendo o viço primaveril. Também há outras tarefas e outros deleites de aromas e cores. Depois, borboletas, abelhas e beija-flores”, conclui Sandra.