Tempos de crise

Tempos de crise

Brasil vive lenta retomada após a pior recessão da história. Especialistas estimam em até uma década o tempo necessário para a plena recuperação da economia

Texto: Aangelo Davanço

Uma palavra simples, de apenas oito letras, voltou a causar assombro nos mercados e cadeias produtivas do país. Em meados de agosto, a recessão entrou novamente na agenda nacional, após o Banco Central mostrar que a economia brasileira apresentou recuo de 0,13% no segundo trimestre de 2019. Como a atividade econômica já havia caído 0,2% nos primeiros três meses, os índices indicam que o Brasil entrou em recessão técnica — o que levou o ministro da Economia, Paulo Guedes, a pedir “paciência” à população e ao mercado financeiro.

Recessão, crise econômica e queda do Produto Interno Bruto (PIB) são conceitos que já fazem parte do dia a dia do brasileiro há pelo menos quatro décadas, em menor ou maior intensidade. Tem sido assim desde o início dos anos 1980, quando o país experimentou a primeira retração desde o chamado “milagre econômico” do período militar. De lá para cá, já são nove crises “oficiais”, catalogadas pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace).

Nenhuma delas, no entanto, supera a crise mais recente, que teve seu ápice há três anos, quando o Brasil registrou a pior recessão da história ao ver o PIB cair 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sequência parecida, de dois anos de baixa na atividade econômica, só havia sido registrada nos anos 30, com recuos de 2,1% em 1930 e 3,3% em 1931.

Como começou

E por que o Brasil entrou nesse ciclo recente de queda que atingiu, praticamente, todos os setores da economia nacional, mostrando sua face mais cruel na crescente alta do desemprego? Para entender a crise que se originou em 2014, a partir da reeleição de Dilma Rousseff (PT), é preciso voltar um pouco mais no tempo, à época da “marolinha” do presidente Lula, que, depois, seria transformada em um “tsunami” devastador na economia brasileira.

Para combater os efeitos da grande crise mundial de 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um modelo econômico baseado na adoção de medidas para estimular o consumo, com redução nas taxas de juros, corte de impostos, incentivo à liberação de crédito e desoneração fiscal de alguns setores da economia. Com essa combinação de fatores, a economia nacional manteve o fôlego e o país cresceu acima da média mundial.Desaquecimento da economia impactou diversos setores da economia, como o mercado de imóveis

Apesar do prolongamento da crise no planeta, que avançou sobre o primeiro mandato de Dilma, em 2011, o governo manteve as medidas para estimular a produção e o consumo, acrescentando aumento de gastos públicos e queda na arrecadação com impostos e tributos. Já no segundo mandato, a presidente se viu obrigada a fazer um ajuste fiscal, com cortes no orçamento, restrição de benefícios e aumento de impostos, resultando em paralisia de diversos setores produtivos, fechamento de empresas e aumento do desemprego.

“Agindo assim, o governo piorou suas contas e, aliado à falta de reformas importantes, criou essa situação. Foram tomadas medidas equivocadas a partir de um diagnóstico errado do que a economia precisava naquele momento”, avalia Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP Ribeirão Preto (FEA-RP). “Em economia, qualquer bobagem que você faça vai refletir dali a dois, três anos. Estamos, hoje, pagando o preço pelos erros deste passado recente”, completa o economista chefe e presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP), Nelson Rocha Augusto.

Soma-se a esse período a ebulição da crise política iniciada com as revelações da Operação Lava Jato, culminando com o impeachment de Dilma, e o caldeirão econômico explodiu. Com a crise, surgiram números assustadores: enquanto o PIB registrava quedas consecutivas em 2015 e 2016, a inflação se elevava para 10,67% no primeiro ano da recessão. O desemprego atingiu 12,3 milhões de pessoas em 2017 e ainda não dá mostras de recuo, com o registro de 13 milhões de desempregados no primeiro trimestre deste ano — número que sobe para 35 milhões se incluídos os subempregados e os desalentados.

“Sendo muito otimista, se conseguirmos incorporar de 2 a 3 milhões de mão de obra por ano, que é uma média muito agressiva, vamos demorar quatro ou cinco anos para absorver 10 milhões de pessoas e voltarmos ao patamar de empregos de antes da crise”, calcula Nelson Rocha Augusto.
Com a posse de Michel Temer (PMDB), nasceu a expectativa de calmaria no mercado, que logo se dissipou sob a crise política que não parava de crescer. “O governo Temer estava com uma

força razoável, quando houve a troca de poder, mas ele passou a ter uma imobilidade política muito grande a partir das revelações de seu envolvimento no escândalo da JBS”, diz Luciano Nakabashi. “Agora, o presidente Jair Bolsonaro tem uma equipe econômica muito boa, mas que muitas vezes acaba prejudicada pelo que o presidente fala ou por uma indecisão que mostra em certos momentos. Se a Câmara dos Deputados não tivesse encabeçado essa reforma da Previdência, ela não iria para a frente. Isso também tem atrapalhado o processo de retomada”, completa o professor da FEA-RP.

Falta de oportunidades no mercado de trabalho formal aumenta serviços informais

Recuperação lenta

Para o consultor econômico José Rita Moreira, a crise mais recente levou o país da recessão à depressão. Conceituando os ciclos, a recessão se dá quando são verificados dois trimestres consecutivos de encolhimento do PIB na comparação com o trimestre anterior, como ocorreu no início da crise e volta a acontecer agora. Já estagnação é quando o produto nacional não mantém seus níveis de crescimento e a depressão se caracteriza por uma queda acentuada na geração de riqueza, acompanhada de desemprego alto e queda na renda per capita. “Nesse caso, passamos pelos três estágios da fadiga econômica, os quais exigem um grande esforço, competência, comprometimento e tempo para que seja revertido”, analisa Moreira.

Mesmo passado o pior da crise, com certa melhoria nos ânimos do mercado motivada, entre outros fatores, pelo início de reformas estruturantes no país, os economistas apostam em uma recuperação lenta. “Precisaremos de muitos anos de crescimento em patamar acima do observado mesmo nos anos pré-crise para recuperar o que foi perdido durante a recessão”, avalia Gabriel Couto, economista da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp). “Essa retomada de desenvolvimento depende do tempo que levará para que os agentes econômicos recuperem a confiança no país e, sobretudo, nos seus dirigentes”, completa Vicente Golfeto, diretor técnico do Instituto de Economia da Acirp.

Mesmo com o uma visão mais otimista já a partir de 2020, caso o Brasil implante suas reformas, com a recuperação de fôlego dos setores mais atingidos, como a indústria e o comércio e criação de novas vagas de emprego, os reflexos da crise ainda poderão ser sentidos a longo prazo. Segundo os economistas, o tempo para recuperação será medido não em anos, mas em décadas. “Assim como nos anos 80, a década de 2010 já pode ser considerada perdida”, avalia Gabriel Couto. “Tivemos uma crise que praticamente matou uma década. Você tem que se reconstruir e as empresas que foram afetadas precisam ser reconstruídas”, completa Alberto Borges Matias, professor titular em finanças aposentado pela USP e presidente do Inepad Consulting.

Enquanto a plena recuperação não chega, é preciso que o Brasil faça a lição de casa. “No fundo, vivemos quase que uma crise existencial. O país precisa saber o que ele quer fazer com a sua economia, como ele quer se desenvolver. Não basta buscar apenas o crescimento econômico. Ele não é o suficiente. É preciso almejar o desenvolvimento econômico, que acontece, também, quando ocorre o desenvolvimento das pessoas”, finaliza o economista Nelson Rocha Augusto. 

Os caminhos da crise político-econômica no Brasil (2014-2019)

• 2014

- Em março, a Polícia Federal inicia uma série de investigações que se tornaria conhecida por Operação Lava Jato.

- Dilma Rousseff (PT) é reeleita, derrotando o tucano Aécio Neves no segundo turno, realizado no dia 26 de outubro.

-  Logo após as eleições, têm início protestos pelo país pedindo mudanças no governo.

-  O país já enfrentava dificuldades econômicas e, com as primeiras revelações da Operação Lava Jato, a instabilidade política começa a se elevar, afetando também o cenário econômico.

• 2015

- Dilma faz pronunciamento em que pede paciência e credita dificuldades econômicas à crise mundial. A transmissão em cadeia de TV é acompanhada por um “panelaço".

- Os protestos contra o governo Dilma se intensificam. No dia 15 de março, mais de 2 milhões de pessoas foram às ruas.

- Em setembro, o dólar bate a marca histórica de R$ 4.

- Em dezembro, Congresso aceita pedido de impeachment de Dilma.

-  A inflação sobe quase quatro pontos e chega a 10,67%.

-  O PIB fecha o ano em -3,55%, o primeiro resultado negativo desde 1992, e o país entra em recessão técnica.

-  Número de desempregados atinge, no final de 2015, 8,6 milhões de brasileiros.

• 2016

-  No dia 12 de maio, Dilma Rousseff é afastada do cargo de presidente da República, acusada de ter cometido crime de responsabilidade no caso das pedaladas fiscais — manobras para atrasar, de maneira proposital, os repasses a bancos públicos, privados, autarquias e para o INSS.

- Logo após assumir interinamente, surge a primeira crise no governo Michel Temer (MDB). Em conversa gravada, o então ministro do Planejamento, senador Romero Jucá, sugere um grande acordo nacional para "estancar a sangria" motivada pela Lava Jato.

- No dia 31 de agosto, o Congresso Nacional aprova o impeachment de Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, assume como presidente do Brasil.

• 2017

- Em abril, Temer enfrenta uma greve geral que paralisa atividades em mais de 150 municípios brasileiros.

- Governo apresenta mudanças estruturais para a economia: Novo Regime Fiscal, a Reforma Trabalhista e Reforma Previdenciária. Apenas as duas primeiras medidas foram aprovadas na gestão Temer.

- Em maio, Temer enfrenta sua segunda grande crise. Uma gravação feita pelo dono do Grupo JBS, Joesley Batista, mostra o presidente pedindo para que fossem mantidos pagamentos de propinas ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB).

- Em setembro, pesquisas de popularidade mostram que o índice de aprovação ao governo Temer caía para apenas 3%.

- O desemprego explode para 12,3 milhões de pessoas.

• 2018

- Em maio, a Justiça decreta a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, baseada em processo envolvendo apartamento no Guarujá.

- No final de maio, o governo Temer enfrenta sua pior crise, com a greve dos caminhoneiros, que dura dez dias, causando desabastecimento no país e expondo a fragilidade do governo em negociar com os grevistas.

- Em setembro, começa a corrida presidencial. Com Lula impedido pela Justiça de concorrer, todas as pesquisas apontam a liderança do candidato Jair Bolsonaro (PSL).

-  Em outubro, Jair Bolsonaro bate o petista Fernando Haddad e é eleito presidente do Brasil com 57,7 milhões de votos.

• 2019

- Com estilo polêmico, Jair Bolsonaro inicia o governo apostando na agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, e enfrenta tensões entre alas de seu partido e militares contra a influência do pensamento de Olavo de Carvalho no governo.

- Bolsonaro vê o nome de seu filho, Flávio, envolvido em movimentações financeiras consideradas atípicas de um ex-assessor parlamentar, Fabrício Queiroz.

- Em maio, Bolsonaro enfrenta onda de protestos de estudantes contra cortes em verbas para universidades e financiamentos para pesquisas.

- O PIB fecha o primeiro trimestre do ano com índice de -0,2% .

Análise

• Gabriel Couto
Economista da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp).

Origens da crise
“A crise ocorreu por uma série de fatores. Primeiro, uma sequência de erros de política econômica por parte do governo federal entre 2011 e 2015 resultou em uma série de desequilíbrios na economia, que, somados à fragilização das contas públicas, provocaram perda de confiança e forte recessão, seguida de aumento no desemprego. Por fim, o quadro de insatisfação popular, combinado a vários escândalos de corrupção, criaram um ambiente de forte instabilidade política, o que elevou ainda mais a incerteza”.

Ribeirão Preto e região
“Ribeirão Preto foi afetada de maneira similar ao restante do país, com retração na atividade econômica e perda de empregos. É praticamente impossível apontar áreas que tenham passado incólumes por esses anos, mas alguns setores sentiram menos os efeitos da recessão, como alguns exportadores. Alguns segmentos do agronegócio também se beneficiaram de safras recordes no período. Por outro lado, a indústria, que já vinha sofrendo por problemas de competitividade antes da crise, teve ainda todos os impactos observados na economia”.

Reflexos futuros
“É difícil delinear exatamente por quanto tempo os efeitos da crise serão sentidos, mas podemos dizer que o tempo para que a economia se recupere será medido em décadas, e não em anos. Assim como nos anos 80, a década de 2010 já pode ser considerada perdida. A tendência é que os próximos anos sejam de ajustes e reformas que, se bem sucedidos, podem criar um ambiente propício para uma recuperação mais consistente”.

Perspectivas
“Os anos de 2019 e 2020 ainda são de ajustes e reformas, com manutenção de elevado grau de incerteza, o que deve manter o crescimento em patamares baixos. A boa notícia é que inflação e taxas de juros devem permanecer reduzidas no período — testando novas mínimas históricas. O desemprego tende a cair, mas em ritmo ainda lento”.

• José Rita Moreira
Consultor econômico.

Origens da crise
“No segundo semestre de 2013, a então presidente Dilma Rousseff, já preparando sua plataforma para as eleições de 2014, manteve índices artificialmente positivos, utilizando-se de manobras com efeitos populares, porém, que não se sustentariam por muito tempo, como o preço dos combustíveis, energia, aumento da dívida pública, tarifas congeladas, etc. Já eleita, em 2014, com o início da Operação Lava Jato, a bolha estourou, e toda a parte submersa do iceberg emergiu, fruto do artificialismo mantido até então”.

Ribeirão Preto e região
“Ribeirão Preto levou um tempo maior para ser afetada pela crise, com sua vocação em comércio e em serviços. Os resquícios do agronegócio da região permitiram um período maior de sobrevivência antes de ser contaminada pela crise. O setor da construção civil foi um dos prejudicados, até pelo excesso de unidades à venda, não justificando novos lançamentos. A educação também perdeu alunos para as escolas públicas. O comércio, com certeza, pela redução das vendas, fechou postos de trabalho. A rede hoteleira ficou prejudicada e também o setor financeiro, muito mais pela automação do que pela crise, efetivamente”.

Reflexos futuros
“Se todas as medidas corretas forem tomadas, por meio das reformas necessárias  — previdenciária, tributária e política —, investimentos em infraestrutura, atração de investimentos internacionais, privilégio às aplicações na produção em detrimento do mercado financeiro, taxa Selic adequada, deveremos começar 2020 com um novo cenário. A economia é uma ciência perfeita, basta o governo não atrapalhar que ela faz seu papel de contribuir para o desenvolvimento”.

Perspectivas
“Para o biênio 2019-2020, os fatores críticos de sucesso foram lançados, que incluem as reformas da previdência, tributária, política, entre outras, bem como o comprometimento das instituições em prol do desenvolvimento. Assim, deveremos ter um 2020 de grandes oportunidades, porém quem estiver mais preparado sairá na frente”.

• Vicente Golfeto
Diretor técnico do Instituto de Economia da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto.

Origens da crise
“Já há algum tempo, o crime passou a ser uma variável da política brasileira. Machado de Assis já dizia que ‘corrupção publicada é como corrupção escondida. Que não veio a público. Só que fede mais’. Com o advento da economia digital, com o advento da era da informação, não há nada oculto que não venha a ser revelado. Quando a ética entra em concordata, a economia vai à falência”.

Ribeirão Preto e região
“A crise, pelo menos em Ribeirão Preto, mostra sua cara através do mercado de locação de imóveis. As placas de 'aluga-se' despertam a curiosidade de um observador arguto que pensa, ainda que não verbalize, o seguinte: 'o que existia, aqui?'. Então ele fica sabendo que era uma empresa — de qualquer setor — vindo a seguir mais indagações: 'quantas pessoas trabalhavam nesta empresa?'. De maneira geral, todos sentiram, e ainda estão sentido, os efeitos da crise”.

Reflexos futuros
“O que é, ou pode ser considerado, um bom governo? É, em primeiro lugar, aquele que paga dívida e não aquele que faz dívida. Em segundo lugar, é aquele que, aos poucos, vai aumentando a despesa de capital, o nome financeiro dos investimentos, na mesma proporção em que reduz a despesa de custeio. Através do Estado, dá-se um choque de capitalismo de mercado. É que nossa economia tem o hardware da economia de mercado, mas o software, lamentavelmente, ainda é do capitalismo de Estado. Ainda não consigo mensurar, através de metro confiável, o valor das hipotecas que foram lançadas pelo passado e pelo presente e que deverão ser quitadas em futuro, talvez remoto”.

Perspectivas
“A retomada do desenvolvimento econômico depende do tempo que levará para que os agentes econômicos recuperem a confiança no país e, sobretudo, nos dirigentes. O investidor, tanto nacional quanto estrangeiro, quando aplica capital, aposta no futuro. Já o consumidor mira o presente, ainda que o consumo tenha sido lastreado no crédito. De qualquer forma, notamos assimetria perigosa no que toca à confiança — um sentimento construído a prazo e perdido à vista. A crise econômica, no fundo, é uma crise política, com raízes no comportamento duvidoso dos dirigentes do país”.

• Luciano Nakabashi
Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto USP (FEA-RP).

Origens da crise
“Tivemos fatores externos, como a queda nos valores de commodities, a partir da crise de 2007/2008, que afetou Estados Unidos, China e países da Europa, mas os principais erros foram internos, como o aumento de gastos para tentar estimular a economia, uma intervenção muito forte do governo, principalmente na parte de produção de energia, segurando o preço da gasolina, afetando negativamente alguns setores. O governo estimulou a economia de uma forma incorreta, que piorou as contas, e deixou de fazer reformas importantes. Os erros internos criaram essa situação e estamos pagando o preço de todas essas políticas mal conduzidas, a partir de um diagnóstico errado do que a economia brasileira precisava”.

Ribeirão Preto e região
“O aumento da taxa de juros, em certo momento, no governo Dilma, a contenção do preço da energia e a inflação alta geraram um cenário complicado que também afetou a região. Percebemos uma queda de demanda em Ribeirão Preto e aumento do desemprego. A cidade foi afetada de uma forma muito semelhante ao cenário nacional, mas os municípios do entorno, como Sertãozinho, ainda foram afetados pelo que ocorreu com o setor sucroalcooleiro”.

Reflexos futuros
“Arrumar a casa, as contas e outros fatores, como a redução dos gastos vinculados à receita, além das reformas mais estruturantes, é fundamental para uma retomada mais rápida, porque melhora o humor dos investidores, sejam internos ou externos. As pessoas começam a investir mais e ocorre uma retomada mais rápida. Vai depender muito do andamento de reformas estruturantes. Se as ações não caminham, o país também não caminha, por isso essa crise é tão longa”.

Perspectivas
“Se a Reforma da Previdência for assinada pelo presidente, já vai melhorar o humor e em 2020 podemos ter um desempenho melhor. Vamos ter de pagar parte dessa conta, mas temos que ter essa consciência de que para o país vai ser positivo: vai ser positivo para nós mesmos, senão não receberemos a aposentadoria lá na frente, e vai ser positivo para os nossos filhos, que viverão em um país melhor. Depende muito das reformas, em que cada um tem de pagar um pouco agora, para que todos possam ter um futuro melhor”.

• Alberto Borges Matias
Professor titular em finanças aposentado pela USP e presidente do Inepad Consulting.

Origens da crise
“Não havia um objetivo estratégico definido pelo governo anterior para o país. O Brasil não tem um plano estratégico. A China, por exemplo, tem um plano estratégico de 100 anos. A Alemanha tem um plano estratégico de 50 anos, e nós estamos olhando para a ponta do nariz. Então, há crise de gestão, aliada à incompetência, que ocasionou a crise econômica”.

Ribeirão Preto e região
“A característica de Ribeirão Preto é ser a capital da região, e uma capital é forte na parte de serviços, aí incluso o comércio — e grande parte do nosso PIB vem de serviços e do comércio. Na região, há uma grande estrutura industrial e de agronegócios. O comércio foi muito atingido com a crise, pois caíram as vendas. Por outro lado, os serviços de saúde dificilmente são atingidos em épocas de recessão. As pessoas adoecem mais, então o setor, como negócio, acaba se beneficiando”.

Reflexos futuros
“Tivemos uma crise que matou uma década. É preciso se reconstruir: as empresas que foram afetadas precisam ser reconstruídas. É necessário, também, gerar novos investimentos, mas as pessoas estão preocupadas, com medo de realizar negócios. O governo, então, simplificando a arrecadação, vai fomentar um pouco o empreendedor. O Brasil é um país empreendedor por natureza em comparativos internacionais, por isso há espaço para crescer, mas tem de dar tempo ao tempo para poder fazer a recuperação”.

Perspectivas
“Eu estou particularmente otimista para o segundo semestre. Alguns setores cresceram e estão se recuperando bem, por exemplo, o de exportações. As empresas estão tentando o mercado externo, então tem um espaço ainda para andar. A associação do Brasil a países mais fortes, como Estados Unidos, Canadá, México, países europeus, China e Coreia do Sul gera possibilidade de crescimento grande para o futuro. O mercado externo está de olho no Brasil, falta o investidor interno também voltar seu olhar para o país”. 

• Nelson Rocha Augusto
Economista chefe e presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP).

Origens da crise
“Estamos mergulhados numa crise que dura cinco anos, mas estamos imersos, ainda, numa crise maior, que dura praticamente 30 anos de crescimento muito baixo. O que acontece com a nossa economia, em um país muito diversificado, pujante, que há quase três décadas não consegue crescer? São escolhas que a sociedade brasileira fez ao longo do tempo, que não buscam trazer uma eficiência econômica para melhoria de produtividade e de desenvolvimento econômico progressivo. Em alguns momentos, buscamos um crescimento econômico, que é importante, mas não suficiente, porque ele também ocorre quando se desenvolvem as pessoas”.

Ribeirão Preto e região
“A região tem resultados econômicos melhores, em termos relativos, que outras regiões, pois está apoiada, tradicionalmente, em setores que estão melhores situados, como o agronegócio, os serviços e até a construção civil, que atrapalhou bastante o resultado econômico da nossa região nos últimos cinco anos, pois sofreu bastante. Agora, no entanto, começamos a andar: basta ver nas ruas que os canteiros de obras já estão movimentados. Isso, certamente, terá reflexos em breve”.

Reflexos futuros
“Eu diria que vamos sofrer mais dois ou três anos. Tomo por base a quantidade de pessoas desempregadas. São em torno de 35 milhões, entre desempregados, subempregados ou em estado de desalento, que, mesmo que entremos em um ritmo de incorporação — sendo extremamente otimista, da ordem de 2 a 3 milhões por ano —, vamos demorar ainda quatro ou cinco anos para absorver 10 milhões de pessoas. Assim, do ponto de vista do emprego, temos ainda cerca de três ou quatro anos para começar a ficar em um patamar mais adequado como o de 2014, que é a régua mais alta que temos”.

Perspectivas
“Em 2019, avançamos na Reforma da Previdência, na liberdade econômica e tendemos a avançar na simplificação tributária. Criamos condições, com taxas de juros mais baixas e inflação ancorada, mesmo com cenário internacional mais controverso. Temos um crescimento da ordem de 2,5%, no ano que vem e conseguimos entrar numa espiral positiva. Agora, vamos viver andando por ondas: não há uma curva de desenvolvimento, mas uma onda positiva, outra nem tanto, e assim por diante. Teremos impulsos mais intermitentes do que constantes”.

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