Testes promissores
Especialistas testam novas formas de utilizar vermífugo contra inflamações causadas pela Covid-19

Testes promissores

Pesquisadores da USP estudam medicamento com potencial para combater inflamações associadas à Covid-19

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP vêm estudando um medicamento que mostrou potencial para combater inflamações associadas à Covid-19. Chamado de Niclosamida, o fármaco é um vermífugo amplamente utilizado para combater vermes intestinais. A partir de experimentos em animais e células humanas, a pesquisadora Letícia de Almeida do Laboratório de Patogenicidade Microbiana e Imunidade Inata da FMRP, afirma que a Niclosamida inibiu ativação de diferentes inflamassomas – complexo proteico presente no interior das células de defesa – o que evita uma grande resposta inflamatória do corpo para se proteger. Também mostrou reduzir a replicação de SARS-COV-2 em um tipo celular no qual o vírus é bem adaptado (células vero). Ainda de acordo com LetÍcia, a pesquisa com Niclosamida teve início a partir de outro achado do laboratório, no qual foi vista uma correlação entre os casos graves de Covid-19 e ativação do inflamassoma. “Decidimos avaliar alguns fármacos quanto a inibição do inflamassoma e inibição da replicação do vírus. O trabalho iniciou avaliando 2.560 compostos ativos e, dentre estes, vimos que a Niclosamida foi o mais eficaz em causar ambos efeitos.

 

Atualmente, a Niclosamida é aprovada apenas para uso oral, explica o professor da FMRP da USP, Dario Zamboni. Segundo ele, a medicação não é absorvida pelo estômago e não ganha a circulação sanguínea, ou seja, não vai para os outros órgãos. “Ela é muito eficaz para matar os vermes intestinais, mas ela será pouco eficaz para chegar em órgãos como o pulmão, que é onde o coronavírus está mais se replicando”, alega o professor. Por isso, o medicamento ainda não é recomendado como tratamento da Covid-19. Tendo em vista esse cenário, a equipe de Letícia avaliou uma nova via de administração do medicamento. “Fizemos tratamentos por via intranasal, o que aparentemente foi mais eficaz na redução da inflamação no pulmão dos animais. Porém, essa administração por via intranasal atualmente está em fase clínica de estudos conduzidos por outros grupos ao redor do mundo para que então possa ser feita a aprovação e confirmação do uso desse fármaco por nova via de administração”, explica Letícia.

 

Zamboni detalha que serão necessários novos testes clínicos em humanos para administrar o fármaco de outra forma, que não a oral. Segundo ele, com um spray nasal ou uma nebulização, por exemplo, seria possível fazer com que o medicamento chegasse diretamente no pulmão. “Portanto, só atuaria nas células que estão ativando a inflamação dentro do pulmão. Mas ela não está aprovada para uso dessa maneira, é preciso fazer testes antes para poder usar na forma respiratória da droga”, afirma.

 

 

MEDICAMENTO EM FASE DE TESTES

 

Os pesquisadores ressaltam que uso da Niclosamida, como encontrada nas farmácias, contra as inflamações causadas pela Covid-19 não surtirá efeitos. Testes para uma nova forma de administração do remédio ainda estão sendo testadas, como o spray e a nebulização. Além disso, também não é recomendado a ingestão do fármaco para uso profilático porque ele não foi testado em casos leves e moderados nas quais a inflamação ainda é muito baixa. Zamboni destaca também que nestes casos, um nível pequeno de inflamação pode ser até importante para o organismo ajudar a controlar a replicação viral. “Pode ser que um pouquinho de inflamação nesses casos leves, nos casos que o paciente é assintomático ou tem uma um sintoma muito baixo, seja até benéfico”, explica o professor. “Novamente, precisaria ser testado clinicamente. Depois que tiverem os testes clínicos pode ser que a droga seja até usada para pacientes com casos bem leves ou moderados de Covid-19, mas, por enquanto, não recomendamos também o uso profilático”, finaliza.


Foto: Pixabay (Foto Ilustrativa)

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